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Primeiro de Abril 2024

Dia da Pós-Verdade

A chamada pós-verdade é um conceito (de origem incerta) que define quando intencionalmente se substitui uma verdade objetiva por uma mentira que causa uma comoção emocional que faz alguém preferir escolher acreditar numa emocionante mentira do que na verdade, principalmente se for uma verdade inconveniente. Em essência, a pós-verdade representa uma distorção fabricada da realidade, caracterizada pela manipulação de crenças e emoções para influenciar a opinião pública e moldar comportamentos. Em outras palavras, repetindo as ideias acima, trata-se de criar uma estratégia narrativa para apelar às emoções das pessoas, desviando sua atenção dos fatos concretos e da realidade objetiva. Quem são as vítimas dessas “maldades”? Nós, todos nós!

Com um mundo dominado pelas mídias sociais e pelas idiossincrasias da internet, as Fake News, têm se tornado a regra e não mais a exceção. Essas são informações deliberadamente fabricadas com o propósito de enganar, dificultando a distinção entre o que é verdadeiro e o que não é em meio ao excesso de informação — um fenômeno conhecido como “infoxicação”. Essa saturação contribui para a propagação de notícias falsas, que são prontamente aceitas como verdadeiras por, tristemente, muitos.

A política é um dos campos mais propícios de proliferação da pós-verdade, ela está desde os discursos populistas até a construção das nefastas polarizações.

Hannah Arendt é uma das pensadoras que mais se aprofundou, sobre o tema da verdade na filosofia política.  A Verdade é Política por natureza!

“A verdade factual relaciona-se sempre com outras pessoas: ela diz respeito a eventos e circunstâncias nas quais muitos são envolvidos; é estabelecida por testemunhas e depende de comprovação; existe apenas na medida em que se fala sobre ela, mesmo quando ocorre no domínio da intimidade. É política por natureza.” Hannah Arendt

Não se sabe a origem ao certo a origem do termo “pós-verdade”, alguns o atribuem a  Steve Tesich num artigo de 1992 que escreveu para a revista The Nation. Ralph Keyes foi um dos primeiros a publicar um livro com termo “pós-verdade” (2004), discutindo como a desonestidade se tornou comum na vida contemporânea. Ele argumenta que a linha entre verdade e mentira está cada vez mais borrada, com as pessoas justificando pequenas mentiras e enganos em prol de conveniências pessoais e profissionais. Seu livro de 2004: “Era da pós-verdade: Desonestidade e enganação na vida contemporânea”.

Como se proteger dessas ardilosas manipulações? Como deixar de ser um colaborador da desinformação!

1 – Primeiro é necessário admitir que a realidade que você acredita estar vendo é apenas a sua Percepção da Realidade. Cada um vê uma realidade própria construída por uma somatória de fatores (como crenças e valores). Portanto precisamos aceitar que temos vieses.  Estamos recebendo e aceitando informações que foram manipuladas. Não é só os outros que não estão vendo. Nós também acreditamos no inacreditável. Seja mais cético. 

2- Tenha uma Visão Sistêmica. Olhar o todo e buscar perceber suas conexões. Uma coisa interfere na outra e vice-versa. Somos interdependentes. Nada é isolado. Nada é por acaso. Se alguma coisa não fizer sentido quando olhar como ela se conecta com o todo, desconfie!

3 – Desenvolva um Pensamento Crítico para todas as informações que recebe. Questione. Faça as perguntas:  o Quê? Quem? Quando? Onde?  Por quê? Como? Quanto?  Pode parecer exagerado e até um pouco ridículo. Com o tempo a gente se acostuma e fica quase automático. Hoje até os vídeos são fáceis de manipular. Portanto não basta ver para crer, ouvir para acreditar ou ler para saber. As novas gerações, provavelmente, não terão problemas com isso. Será natural ter um extremo cuidado com todas as mídias.

4 – Selecione suas Fontes. Selecione, cuidadosamente, suas fontes. Lembre-se que muitas vezes as mídias se travestem de confiáveis, seja por um visual similar, por um falso endosso, por um apresentador pseudo famoso ou outra artimanha.   

5 – Use as Ferramentas Digitais ao seu favor. Procure checar os fatos com pesquisas, outras visões, sites de checagem, IA (Gemini, ChatGPT) e paciência. Muita paciência!

6 – Suspenda seus Preconceitos. A única maneira de você verificar se o seu conteúdo é genuíno é ter um olhar generoso para uma visão diferente da sua. Isso significa se abrir a possibilidade de uma outra interpretação. Sem essa habilidade você continuará refém do conteúdo da sua “bolha”.

7 – Aprenda a aprender. Busque entender como funcionam os algoritmos, como se manipula pela desinformação, quais os objetivos de quem está repassando a informação, quem se beneficia e como. Aprenda a não ser um disseminador de informações falsas. Não trabalhe para os manipuladores.

8 – Seja cauteloso. Só passe uma informação para frente se você estiver seguro de que não está, involuntariamente, participando de uma corrente de desinformação. Entenda que é muito difícil ser cauteloso, principalmente, se houver uma boa intenção nesse gesto. Resista ao impulso de repostar imediatamente a mensagem, certifique-se de que ela é real e útil.    

Alguns exemplos de Pós-Verdade:

Eleições presidenciais no Brasil em 2014. Esse foi ano em que foi inaugurado, no mundo, essas ações profissionalmente articuladas para manipular os eleitores e definirem (artificialmente) os resultados das eleições. O Brasil seria outro, hoje, se não fossem por essas ações criminosas.

Referendo do Brexit, em junho de 2016, em que o Reino Unido votou sua saída da União Europeia. Esse desastre só aconteceu pela manipulação da desinformação e o uso de subterfúgios criminosos (como no Brasil em 2014) para enganar parte da população. Esse crime (Cambridge Analitics entre outros) foi amplamente estudado e divulgado. Deixou os Ingleses… a ver navios!

Eleição do Trump, em novembro de 2016, onde o mais baixo nível de uma eleição política americana conseguiu chegar. Quem imaginaria que uma figura tão controversa e de uma incompetência comprovada conseguiria vencer as primárias dos Republicanos? Quem imaginaria que conseguiria vencer as eleições americanas? Sendo até hoje ter uma relevância a ponto de ser o principal candidato para as eleições desse ano?  Vejam o poder das ações de pós-verdade.

Pandemia COVID 19, nesse exemplo existem dezenas de perguntas e a maioria não foram ainda respondidas. Acredito que dentro de uns dois a três anos entenderemos melhor o que aconteceu, onde houve desinformação, quem as manipulou, o porquê, como conseguiram, quanto ganharam e principalmente qual o legado dessa intervenção mundial. Tenho certeza de que cada um de nós tem uma visão dessa realidade, invariavelmente enviesada. Quem admite?

Negacionismo da Crise Climática – A essa altura do campeonato negar todas as evidências cientificas é de chorar. Todos nós conhecemos alguém que pensa e divulga desinformação. Lamentavelmente, a maioria dos “experts” o fazem intencionalmente por motivos obviamente escusos. Quando Al Gore, em 2006, apresentou o documentário “Uma verdade inconveniente” parecia que ninguém mais iria negar o que alguém com alta reputação levantou com os principais cientistas. Quando os cientistas do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima) organização cientifica com 195 países membros (só quase todos), publicam as informações tão precisas de como estamos, quem pode refutar a ciência? Ainda sim tem gente negando. 

A Terra é Plana – Muito parecido com o exemplo anterior. Com evidências absolutamente irrefutáveis de que a Terra não é plana, ainda assim existem pessoas que pensam diferente da ciência.

Grupo QAnon – começou (1917 EUA) com uma teoria de que que existe uma cabala global de elites satânicas pedófilas que governam o mundo e estão conspirando contra o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que estaria lutando secretamente contra esse grupo. QAnon começou em fóruns online com mensagens enigmáticas de um usuário anônimo chamado “Q”, que afirmava ter acesso a informações secretas do governo. Rapidamente, evoluiu para um movimento mais amplo, com seguidores promovendo uma variedade de teorias da conspiração interconectadas.

Pega na Mentira

O Golpe Militar de 1964 foi no dia 1º de abril

Apesar de alguns dizerem que a data exata não tem importância, acredito que tenha. Primeiro porque denuncia a mentira para que a chamada “revolução” não parecesse uma mentira e evitar as piadas típicas do bom humor brasileiro. O Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o País) do Stanislaw Ponte Preta (Sergio Porto) só surgiria dois anos depois e o Pasquim cinco anos após em 1969. O outro motivo da data ter sido escondida é que revelava que o golpe não tinha sido planejado para essa data. Ninguém faria um movimento desses sabendo que entraria para história e seria lembrado, todo ano, como realizado no Dia da Mentira. Parece que no planejamento o dia seria o 8 de abril. O que não esperavam é que o General Olympio Mourão Filho, sentindo-se traído pelo Governador de Minas, Magalhães Pinto (que almejava se eleger presidente em 1965, após varrerem os comunistas do Brasil), se rebelaria e colocaria a jovem tropa de meninos para irem de Juiz de Fora ao Rio de Janeiro atacar o prédio do Ministério da Guerra e o Palacio das Laranjeiras onde estaria dormindo o presidente João Goulart. Os telefonemas do Mourão ainda de pijama, com roupão vermelho (parece piada pronta) anunciando o golpe foi uma surpresa desagradável para os organizadores do golpe. Mourão saiu com a tropa e, apesar das confusões criadas com os conspiradores oficiais, o golpe foi no dia 1º de abril. O que inicialmente parecia ser um mandato tampão, que devolveria a democracia em 1965, após afastarem o perigo vermelho, com eleições diretas acabou virando um golpe de estado completo e implantação da ditadura. A decisão inicial do general Castello Branco parecia ser sensata para evitar a ocupação das tropas americanas no território brasileiro. Operação Brother Sam como ficou conhecida a gigantesca interferência do governo dos EUA no Brasil. Uma força naval já estava próxima ao litoral. Foram várias desavenças com o presidente João Goulart (Jango), entre elas a criação de uma lei em 1962 que limitava, em 10%, a transferência de lucros das multinacionais para o exterior. Desagradou muitos americanos. Pouco provável que os órgãos de inteligência acreditassem que Jango fosse comunista. A Guerra Fria com a União Soviética e o fracasso com Cuba exagerou os ânimos em relação ao Brasil. De qualquer maneira a Ditadura passou por varias fases, a primeira até o AI-5 (1968) onde foi bem conturbada, inclusive com a criação do SNI pelo general Golbery do Couto e Silva, mas após o decreto do AI-5 a violência escalonou mais ainda com muitas mortes, torturas e barbaridades de todo tipo. Poucos eram os que apontavam o dedo no nariz do governo militar e saiam impunes, o que gerava desconfiança. Mais para o final havia indícios de que haveria um novo golpe dentro do golpe para depor o presidente João Figueiredo e continuar com a ditadura. Um fato, no mínimo curioso, alterou essa possibilidade porque fez o povo se solidarizar com o Figueiredo. Ele fez uma operação do coração em Cleveland (EUA) onde ficou por mais de um mês em julho de 1983. Um grupo de publicitários iniciou uma campanha a favor do presidente que gerou uma comoção na população e acabou com qualquer pretensão de um grupo de militares realizarem o golpe. Enfim, o que é verdade e o que é uma narrativa enviesada, não sei. Deixo para cada um tirar suas próprias conclusões. Mas que o golpe foi no 1º de abril, foi mesmo!  

  

Camuflando a Verdade

Existem, para mim, três casos emblemáticos da mídia brasileira desviando seu público para acontecimentos MUITO importantes. Seja por motivo de negligência, incompetência ou até mesmo má fé dos editores e talvez jornalistas. Seja como for, o melhor é ficar atento às mídias mais interessadas em conteúdos relevantes do que mídias interessadas em Pão & Circo. 

Pangea Day

No dia 10 de maio de 2008 aconteceu um evento mundial dos mais maravilhosos que eu já tenha visto até hoje. Nada se compara ao que foi as quatro horas de transmissão mundial do Pangea Day. Naquela época existia o TED que era o mais incrível espaço de aprendizagem. Ainda não existiam os TEDx , que só foram criados em 2011. O evento arrecadava um bom dinheiro que era destinado a cumprir o desejo de um vencedor (TED Prize) daquele ano. Em 2006 venceu a cineasta egípcia Jehane Noujaim como resultado de seu desejo de utilizar o poder do cinema para fomentar uma maior compreensão e paz global. A ideia era selecionar curta metragens do mundo inteiro mostrando seus hábitos e culturas locais. Os filmes foram selecionados para destacar histórias que pudessem transcender fronteiras geopolíticas, culturais e religiosas, inspirando espectadores a verem o mundo através dos olhos de outras pessoas.

Ela acreditava (acredito também) que quando as pessoas vissem outros semelhantes no mundo todo, tendo as mesmas necessidades de (amar, comer, trabalhar, rir, brincar, rezar, cantar, ler, praticar esportes, fazer arte… Viver) não teriam motivos para brigar ou ter ódio. Funcionou! Milhões de pessoas se envolveram nesse projeto. Além dos filmes (curtas) tiveram países anfitriões que fizeram, ao vivo, show de música e apresentações especiais. As cidades ao redor do mundo foram Cairo, Kigali, Londres, Los Angeles, Mumbai e Rio de Janeiro. Sim, Rio de Janeiro, Brasil! Nada menos que Gilberto Gil (então ministro da cultura) comandando, direto do Morro da Gavea, uma legião de artistas. Simplesmente único e maravilhoso!  Até hoje, nada igual no mundo!

Por que a grande maioria dos brasileiros não ficou sabendo do evento? Uma boa parte assistiu depois de anos como alguns de vocês lendo aqui, que não sabiam e vão procurar no Youtube.

A mídia brasileira estava integralmente (toda mídia) ocupada com um fato ocorrido há mais de um mês antes. Não era possível ligar a TV, rádio, ler um jornal ou revista sem cair na gigantesca cobertura que a mídia (Pão & Circo) explorou ao máximo com as cenas mais ultrajantes e mórbidas que atraem o público e os desviam do que REALMENTE importa. Era o caso Isabella Nardoni ocorrido em 29 de março anterior. Uma menina arremessada pela janela de um prédio. Foi isso que a mídia e público consumiu por meses a fio. Triste! Em minhas palestras, sempre que mencionava o Pangea Day, ninguém tinha ouvido falar. Agora se perguntar da Lady Gaga no Brasil…

Rio+20

A Rio+20 já tinha começado com um certo desdém pelo governo brasileiro, ao alterar sua data histórica de 5 de junho (dia mundial do meio ambiente) para o dia 13 de junho por causa do aniversário de coroação de 60 anos da rainha Elizabeth do Reino Unido que seria no dia 4 de junho. Parece mentira de pós-verdade, mas é verdade mesmo! Inacreditável, mas verdade! O fato é que o Rio de Janeiro ficou durante 10 dias com cientistas, ministros, presidentes, professores, estudantes, empresários, ambientalistas, artistas, cidadãos do mundo todo. Tivemos a presença de 188 países. Apesar da mudança de agenda, a presença foi extraordinária. Foi o evento mais importante de Sustentabilidade até então. Em vários espaços espalhados pelo Rio de Janeiro, foram diariamente, eventos maravilhosos. Todo mundo que importa, estava lá! A cidade estava um caos para se locomover de um espaço da Rio+20 para outro devido ao enorme número de pessoas. Pois bem, o que o principal jornal do Rio, O Globo, colocou na manchete de primeira página no último e mais importante dia do evento? “IMPEACHMENT RELÂMPAGO PODE CASSAR PRESIDENTE DO PARAGUAI” Esse era (e ainda é) o principal jornal do Rio (O Jornal do Brasil já não existia mais), um dos principais para falar do mais importante evento de Sustentabilidade do Planeta. Ele achou que a melhor notícia do dia era falar do presidente do Paraguai. E no dia seguinte, sábado, em que o evento tinha finalizado na sexta. Qual era a manchete? “Paraguai cassa presidente e pode ser expulso do Mercosul”. E no Domingo onde a edição tem mais peso? “Torturador rompe silêncio de 41 anos sobre Casa da Morte”. Pão & Circo da pior qualidade possível! Quando falo da manchete, significa reconhecer o que o jornal acredita ser o mais importante informar seu público. Tinha um caderno especial da Rio+20 que era claramente para vender anúncio, como outros tantos cadernos especiais de cada dia. Os textos eram de péssima qualidade escritos por quem tinha pouca noção do que estava acontecendo. O Globo não entendeu o que estava acontecendo no Rio de Janeiro de 13 a 22 de junho de 2012.

COPA 2014

A Copa de 2014 no Brasil teve a sua estreia com o maior nível de audiência do planeta até aquela data (acredito que ainda não tenha sido superado). A anterior foi a transmissão do primeiro homem na Lua (1969) onde haviam em torno de 500 milhões de espectadores. O pontapé inicial da Copa 2014 foi dado no gramado da Arena Corinthians por Juliano Pinto e foi assistido por 1,2 bilhões de pessoas no mundo todo. Sim 1 bilhão e 200 mil pessoas no mundo viram o paraplégico brasileiro dar o primeiro chute na bola (Brazuca) com o exoesqueleto desenvolvido pelo cientista/médico/neurologista, Miguel Nicolelis. Só quem não viu, ao vivo, o chute do Juliano na Brazuca foram os brasileiros que estavam assistindo a transmissão pela Globo. No momento mais importante do país e para o país, os diretores resolveram mostrar o ônibus da seleção brasileira chegando. Não tenho palavras para expressar essa gigantesca gafe cometida pela principal rede de televisão brasileira. Não mostrar o pontapé inicial da COPA no Brasil já seria um erro imperdoável, não mostrar o que há de mais avançado na ciência médica para os que tem dificuldades físicas… não há palavras. O que o Nicolelis mostrou para a maior audiência mundial (menos a Globo) é o que o Elon Musk está mostrando agora em 2024 numa escala bem menor. No entanto, vejo a cobertura que estão dando a Neurolink do Elon Musk sem mencionar o que o Nicolelis já fez há muito tempo, sem mencionar os alunos do Nicolelis que trabalharam na Neurolink. A maior vergonha dessa COPA 2014 não foi 7 a 1, foi a falta de noção do que é importante para o público e para o país. Os outros países não cometeram essa gafe. O que é isso? Só estão muito mal-informados? Escolhem sempre o conteúdo mais “trash” porque gera mais audiência e portanto mais anunciantes? É isso?

 Parabéns Miguel Nicolelis pelo incrível trabalho que vem realizando há anos e sua contribuição para nossa humanidade!

Dia da Mentira

A teoria mais popular sugere que a tradição do Dia da Mentira começou com a introdução do Calendário Gregoriano pelo rei Carlos IX da França em 1564. Antes dessa mudança, o Ano Novo era comemorado no final de março, com as festividades se estendendo até o dia 1º de abril. Quando o início do ano novo foi oficialmente alterado para 1º de janeiro, para alinhar melhor o calendário com o ano solar, nem todos na França receberam a notícia imediatamente devido às lentas comunicações da época. Além disso, algumas pessoas resistiram à mudança e continuaram a celebrar o Ano Novo na data antiga, em abril. Como resultado, elas se tornaram alvo de piadas e brincadeiras, sendo enviadas em “missões tolas” ou recebendo convites para festas inexistentes, práticas que podem ter dado origem à tradição de pregar peças no dia 1º de abril.

O Observatório do Clima, uma das mais confiáveis fontes de informações sobre clima do país, publicou uma notícia que desejaríamos que fosse verdade, mas é mentira, seguindo uma tradição de “brincar” a cada 1º de Abril: https://oc.eco.br/brasil-anunciara-desistencia-da-margem-equatorial/

Efemérides

1º de Abril 2023

Volto ao assunto da Inteligência Artificial por causa da enorme repercussão nas mídias em geral. Nos últimos quatro meses o ChatGPT da OpenAI tem gerado uma ampla discussão quanto aos aspectos positivos e negativos da inteligência artificial na nossa humanidade. As mídias nada falaram em dezembro de 2022, em janeiro de 2023 começaram a falar aqui e ali (publiquei no meu texto de 1º de Fevereiro), em fevereiro foi para o grande público e em março todo mundo só fala disso, principalmente pelo lançamento do GPT-4 e da carta criada pela Future of Life Institute e assinada por mais de 50.000 pessoas entre elas Yuval Harari, Steve Wozniac, Tristan Harris, Yoshua Bengio, Emad Mostaque, Andrew Yang, Evan Sharp e Elon Musk (um dos fundadores iniciais da Open AI). A carta tem um propósito simbólico de frear, por pelo menos seis meses, os avanços dos “gigantes” em Inteligência Artificial.

Exageros e medos a parte, essa febre está nos levando a repensar o impacto da IA em absolutamente tudo que fazemos. Não se trata de ser contra ou a favor e sim de entender o que realmente é e como funciona. As novas variantes de IA podem gerar texto suficiente para escrever um livro, codificar em todas as linguagens de computador e, inacreditavelmente, “entender” imagens. Quem não está, ao mesmo tempo, confuso e curioso com o potencial de tudo isso, não está prestando atenção. Estamos galgando mais um degrau desde o inicio de nossa caminhada com a ideia da Máquina de Turing (Alan Turing) de 1936. A questão fundamental é quanto a linguagem. A linguagem consegue nos fazer acreditar que a inteligência é muito maior do que realmente é. Por isso na interação com algum aplicativo empoderado com a IA é fundamental saber interagir. Vamos assistir a uma nova linha de aprendizagem e capacitação de melhor aproveitamento da ferramenta através de uma interação que obtém os resultados desejados.”

1º de Abril de 2022

“A verdade e a mentira se confundem de tal maneira que hoje está muito mais para uma escolha do que gostaríamos de acreditar do que uma busca pela verdade.

A fábrica de tornar as ficções criadas em verdadeiras funcionam de uma maneira até simples. A receita começa com uma porção generosa de verdade comprovada. Acrescenta-se, a gosto, mentiras deslavadas. Para tornar a ficção deliciosamente viral é necessário pitadas de criatividade com poder de alterar as emoções. O segredo está no cozimento onde se leva ao fogo muitas e muitas vezes e em diversas cozinhas dando a sensação de que o quitute é legitimo. Para completar a farsa, faça a história ser oferecida em muitos endereços, a maioria são cadeias próprias de restaurantes servindo comida requentada fingindo que existem. Os botequins são uma ótima opção para os paladares mais populares e viciados em pimenta. Não se preocupem com os formadores de opinião, eles virão, automaticamente, assim que a história começar a viralizar para parecer que foram eles que a viralizaram.”

1º de  Abril de 2021

“Hoje, 1º de abril, o Psicodrama faz 100 anos! Joseph Levy Moreno, criador da técnica terapêutica do Psicodrama é também pai de muitas ideias e inovações que estão hoje integradas em nosso dia a dia e nem nos damos conta. A terapia de grupo foi uma de suas contribuições mais significativas a todas as terapias. A Socionomia, ou estudo das relações é a mãe das redes sociais de hoje. Pois é… Facebook, Instagram, Google, Twitter, Whatsapp tem tudo a ver com o Moreno. Procurem por Sociodinâmica, Sociometria e Sociatria. Dizem que em 1912 num encontro com Freud, lhe disse que enquanto ele (Freud) analisava os sonhos, ele (Moreno) dava coragem para sonhar e novo.

A Federação Brasileira de Psicodrama (Febrap) editou um vídeo para celebrar os 100 anos do Psicodrama: https://youtu.be/LAFFreYwHHY

Em março saiu o livro Psicodrama Virtual, com vários autores em que fui convidado para escrever um capítulo. O Psicodrama em si é virtual e por isso acredito, pelo que vivenciei nesse último ano, no que o JL Moreno dizia: que o Psicodrama no século XXI será a terapia que a Psicanálise foi para o século XX. Sou um apaixonado pelo Psicodrama!”

1º de Abril de 2020

“O que vejo que está claramente se desenhando no horizonte para iniciarmos a próxima década a partir de primeiro de janeiro de 2021 são:

– A medicina vai finalmente evoluir para cuidar prioritariamente da prevenção ao invés das doenças. Vai se tornar amplamente colaborativa e completamente sem fronteiras. Levará em conta ciência, tecnologia e principalmente culturas. Cuidará fundamentalmente do DNA ao estilo de vida, da alimentação ao ar que respiramos, da meditação a movimentação, da autoestima a psicologia.

– A economia não conseguirá manter seu atual modelo estrutural. O jogo já mudou! Quem tentar jogar com as regras antigas logo perceberá que terá que se tornar alguém detestável para si mesmo e para os outros. Poucas pessoas ficam confortáveis nessa posição. O medo e a insegurança com a sobrevivência vão retardar o pleno funcionamento de uma economia com uma cultura de Gift.

– As escolas nunca mais serão as mesmas. Vamos finalmente sair das metodologias do século XIX para entrar nas condizentes com o século XXI. Quem poderia imaginar que os sistemas de aprendizagem iriam dar esse salto quântico através desse artifício? Quem diria que o conhecimento não estaria mais atrelado a memória e sim a sabedoria? A Educação será livre, com janelas sem salas, com notas de músicas, com folhas da natureza e principalmente com muito amor.

– A politica dos políticos ainda sobreviverá mais algumas primaveras enquanto houver a crença de que o sistema eleitoral tem alguma coisa a ver com a democracia. A política vai migrar dos políticos para a sociedade civil. E as políticas públicas serão decididas pontualmente através da participação dos interessados devidamente qualificados. Em pouco tempo os políticos serão substituídos por uma nova geração de políticos conectados com a sociedade civil.

– A religião, no geral, terá dificuldades de manter o véu da ignorância como força motriz da maioria de seus seguidores. Apesar da imensa fome por algo que explique o inexplicável, por um sabor de pertencimento, por um alimento para a alma… a busca será mais ouvindo a voz de dentro do que a palavra dos gurus. Você, finalmente, será seu próprio guru!”

Primeiro de Março 2024

O Futuro é Aqui e Agora

Hoje, no Dia Mundial do Futuro, temos que nos questionar o que é e o que será a Realidade. Sim, a realidade! A realidade sempre foi a realidade percebida que acreditávamos ser a verdadeira realidade. Como se isso fosse possível.

“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.” Clarice Lispector

SORA, o incrível gerador de vídeos através de textos da OpenAI, foi lançado em 15 de fevereiro para ser testado pelos chamados RED TEAMERS, que são especialistas em segurança e estabilidade cibernética. As centenas de aplicativos que permitem e continuarão permitindo a gerar ferramentas para escolher, por nós, a realidade que queremos e nem sabíamos que queríamos.

Não existe mais a possibilidade de “ver para crer”, não existe mais a “verdade”, não existe mais a “evidência científica”, não existe mais encontrar o “fio da meada”, não existe mais a “realidade objetiva”. Seja discutir se a Terra é plana ou se a inteligência artificial é inteligente, não temos como estabelecer um sistema de crenças e valores que atenda a todos. Se não bastasse pensar diferente, o jogo de manipulação das emoções em busca de vender mentiras é uma indústria muito bem-sucedida no sentido de convencer grupos enormes de pessoas a acreditar no inacreditável. Nesse tempo de “pós-verdade” que se intensificou com a geração manipuladora de fake news que, mundialmente, se iniciou no Brasil nas eleições de 2014 e depois se consolidou em 2016 com o Brexit (junho) no Reino Unido e as eleições nos Estados Unidos (novembro). Essas três realidades (Brasil, Reino Unido e Estados Unidos) tiveram seus resultados completamente alterados pelas ações intencionalmente criminosas.  O dicionário Oxford escolheu o termo “pós-verdade” como a Palavra do Ano em 2016. Ela justificou sua escolha em seu site: “O conceito de pós-verdade existe há uma década, mas os Dicionários Oxford registaram um aumento na frequência este ano no contexto do referendo da UE no Reino Unido e das eleições presidenciais nos Estados Unidos. Também foi associado a um substantivo específico, na frase política pós-verdade.

“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data.”  Luís Fernando Verissimo

Cada um acredita no que quer… não é assim? Pior, é que não! Se você acredita numa verdade que está fora das duas únicas escolhas da polaridade, você está completamente fora da realidade. A polaridade faz com que as pessoas acreditem (por incrível que pareça) que se você não está do lado delas, você está – impreterivelmente – do outro lado. Os exemplos são abundantes! Só de mencionar qualquer exemplo, ficarei sendo visto por ambos os lados como alienado. Além de possibilitar comentários agressivos por não estar vendo a realidade, a realidade deles. No Brasil ainda persiste a polaridade política entre duas opções, a meu ver, abomináveis. Poderia se pensar que isso levaria ao surgimento de outras opções melhores. Mesmo que você acredite que os dois tem uma lista gigantesca de pontos que você repudia, não adianta… se você não escolhe um lado é porque você é do outro. Com isso os dois lados mantem um ao outro. Isso não acontece só no Brasil. Essa dissonância cognitiva está ocupando a maior parte do planeta e se reflete na emergência climática, guerras, risco nuclear, fake news, contaminação dos alimentos, transição energética e tantas outras questões relevantes do Aqui e Agora que desenharão o futuro. Feliz Dia Mundial do Futuro! Que seja regenerativo!      

“As palavras verdadeiras não são agradáveis e as agradáveis não são verdadeiras.” Lao-Tsé

O futuro do que chamamos de Inteligência Artificial, está gerando no imaginário das pessoas, todo tipo de cenário. Dos mais catastróficos aos mais prazerosos. O que é difícil explicar é que o IA não tem inteligência própria e, que apesar de gerar soluções surpreendentes, continua sendo manipulado por seres humanos em que seus resultados que foram previamente programados. O aprendizado ocorre por tentativa e erro e um algoritmo é o que estabelece o que é o certo e o errado. Porém, a sofisticação de possibilidades e a velocidade em responder pode fazer a máquina (AGI – Artificial General Intelligence) superar a nossa própria capacidade de dar respostas. Um exemplo simples seria o de uma calculadora eletrônica em que as possibilidades de fazer cálculos altamente sofisticados e gerar resultados imediatos são impressionantes apesar de já não nos surpreendermos mais com isso. Um outro exemplo bem mais sofisticado é a do próprio computador em que nos possibilita fazer milhões de coisas e, no entanto, ele entende apenas dois comandos: ligado e desligado. Os famosos 0 e 1. Passa energia ou não passa energia. A combinação de apenas esses dois comandos é que possibilitam os milhões (talvez bilhões) de resultados. Isso é extraordinariamente impressionante, mas nem pensamos mais nisso. Usamos o computador, o celular, o tablet sem ficarmos constantemente perplexos com o funcionamento e seus resultados. Agora, ao usarmos algo muito mais simples como um sistema de modelagem de linguagem (LLM – Large Language Model) como o ChatGPT ou BARD (Google), conseguimos acreditar que há inteligência neles. Não há! Simples assim! O “Sora” lançado para testes pela OpenAI é fascinante porque permitirá gerarmos filmes com apenas um script em texto. Claro que é impressionante! Nós, seres humanos, somos incríveis! A questão é de como será usado.

“Nada é permanente nesse mundo cruel. Nem mesmo os nossos problemas.” Charles Chaplin

A competição pelo mercado de usos e aplicações para IA está gerando uma quantidade gigantesca de opções inovadoras. O salto quântico na velocidade irá possibilitar o uso em real time. Sam Altman já anuncia isso para o ChatGPT-5. Com isso não será necessário treinar o chatbot e possibilitará uma interação simultânea com o usuário. Hoje já existem influenciadores famosos gerados pelo IA. Um influenciador (influencer) não precisa utilizar inteligência, ele apenas reproduz o que estiver emergindo. Passa a sensação de que ele está trazendo uma novidade e influenciando as pessoas que o seguem. Na verdade, quanto mais famosos ficam mais cedo recebem as dicas do que está emergindo e simplesmente as reproduz, um sistema de IA pode facilmente fazer isso. Um bom exemplo de reprodução de voz pelo texto é o PlayHT que pode imitar qualquer voz em segundos. Acabou a certeza de que você reconheceu a voz. Fraudes já estão sendo aplicadas. Com vídeo (deepfake) isso se amplia mais ainda. Os robôs, até então personagens de ficção cientifica ou atração em feiras, vão começar a se espalhar pela significativa redução de custo. Vamos começar a nos familiarizar com eles. Com esses avanços no AI, os jogos eletrônicos estarão cada vez mais sofisticados com possibilidades de personagens aprenderem comportamentos específicos como os personagens não jogáveis (NPC – non playable character ) que poderão interagir (antes não podiam) e absorver novas características, tornando o seu game único. Deverá começar por criadores fora do main stream, porque terão questões éticas entre outras coisas. O desenvolvimento de assistentes pessoais (personal assistant) também serão ampliados pelo uso do AI que poderão cuidar de tarefas que exijam pesquisas, desenvolvimento de conteúdos e podem até postar sozinhos e rapidamente uma imensa quantidade de textos. Por exemplo, lerem e responderem comentários. Surreal, né?    

Vou recomendar novamente o episódio “Joan is Awful” da sexta temporada do Black Mirror no Netflix. Se ainda não viu, imperdível!     

“As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras.” Nietzsche

Carta ao meu neto

Daqui exatamente seis dias você fará o seu primeiro aniversário. Logo nos primeiros dias tivemos uma conexão tão forte que fizeram o tempo e a nossa energia serem de uma profunda paz. Um aqui e agora onde nada mais importava. Fui montando sua playlist, aprendendo quais eram as cores, sabores e sons que te tranquilizavam e davam peso ao seu sono. A primeira música (You are not Alone) já afirma que você não está sozinho. E não está mesmo!

O mundo que você embarcou é… o que é! E sendo, será! Para todas as questões que forem surgindo, o amor será sempre a melhor opção. Escolha sempre o amor!

Os próximos anos serão uma revisão da nossa crise civilizatória pela qual estamos passando. Escolheremos, enquanto humanidade, conscientemente ou não, qual o caminho seguiremos para deixar um legado a vocês. Escolher que somos natureza e que, portanto, não há nada mais importante do que nos regenerarmos. Para isso será necessária uma intervenção espiritual onde haverá uma transição significativa em nossas crenças e valores e aceitaremos renunciar ao que fazemos hoje na economia, na educação, na saúde, na política e na religião. Não podemos deixar o fardo dessa transformação para vocês, precisamos urgentemente ouvir a voz do coração, a voz do amor e a voz da gratidão por estarmos vivos e vivendo. Precisamos acessar a ancestralidade de quando vivíamos em comunhão com a Natureza e retornar com as muitas das sabedorias adquiridas para viver nesse novo tempo. Não sei se a aceleração de coisas ruins estão aí para acelerar o movimento contrário (reação) das coisas boas. Espero que sim, esperanço que sim.

Você pode contar comigo sempre! Estarei ao seu lado visível ou invisível, estarei sempre com você!  

Efemérides

1º de março 2023

“A realidade que vemos é diferente da realidade que os outros veem, no entanto agimos como se víssemos a mesma ou, pelo menos, uma bem parecida. Quando Joseph Campbell disse que a “Mitologia é a Religião dos Outros”, estava denunciando que temos a percepção de que o que acreditamos é “a” realidade, enquanto os outros acreditam em fantasias. Genial como sempre!

Nesse contexto é cada vez mais difícil manter uma conversa gerativa sobre qualquer assunto. Sendo que alguns temas, só de mencionar o título, gera um completo fechamento para ouvir o outro… um outro olhar! Só uma escuta generosa pode alterar esse estado em que nos encontramos hoje.

Algumas questões para exemplificar. Origem do COVID19: vazou de um laboratório ou de um animal exótico (pangolim)? Formato da Terra: plana ou redonda? Robinho e Daniel Alvez: culpados ou inocentes? Chuvas em São Sebastião: mudança climática ou evento isolado? Invasão da Russa na Ucrânia: crime ou dever? Monark e Nikolas Ferreira: adequados ou inadequados? Vacina contra a Covid-19: faz bem ou faz mal? Pessoas que invadiram e depredaram prédios do governo no dia 8 de janeiro: patriotas ou criminosos? Disco voadores: existem ou não existem? Garimpeiros em terras indígenas: trabalhadores honestos ou genocidas? Aborto: legaliza ou criminaliza? 1º de abril de 1964: revolução ou golpe? Salário de jogador de futebol: justo ou exagerado? Eleições: são fraudadas ou não?

Na verdade, não temos como responder objetivamente nenhuma dessas perguntas, muito menos… um sim ou não! Porém não só acreditamos que sabemos as respostas como ficamos admirados como os que não pensam como a gente. Nenhuma das questões acima pode existir como estão formuladas. Nada é somente certo ou errado, sim ou não, esquerda ou direita, dor ou prazer, pobre ou rico, grande ou pequeno, frio ou calor e assim por diante. O olhar para cada uma delas é complexo e precisa ser visto sistemicamente.”

1º de março 2022

“Hoje, 1º de março, é o Dia Mundial do Futuro. Que futuro é esse? Se o futuro é o resultado das ações do presente… que presente é esse?

Aparentemente a humanidade está conspirando para a extinção ou drástica redução de si mesma. E o pior é que nos consideramos animais racionais e inteligentes. Seriam as ações cometidas contra nós mesmos apenas uma forma da natureza reagir a uma espécie invasiva (praga)? Prefiro não acreditar nisso. Prefiro acreditar que temos centenas de milhares de boas sementes germinando nas novas gerações e que vão florescer para alterar o rumo ditado atualmente pela grande minoria de déspotas, seus fiéis seguidores e uma enorme maioria de colaboradores através do silêncio ou das ações de banalidade do mal.

A Rússia está atacando a Ucrânia desde o dia 24 (23 no Brasil) de fevereiro e o Putin declarou nesse mesmo dia que quem tentar impedir ou criar ameaças para o país ou seu povo, “a Rússia responderá imediatamente e levará a consequências nunca enfrentadas em toda sua história”. No último domingo (27/02) Putin acabou com a aparente tranquilidade de qualquer ocidental que acreditasse estar a uma distância segura do campo de batalha. Ele ordenou que as forças nucleares russas mudassem para um estado de alerta mais alto que ele chamou de “prontidão de combate especial”.”

1º de março 2021

“No dia 11 de fevereiro celebrei os 30 anos de encontro com a minha cara-metade. Com certeza a coisa mais importante que aconteceu na minha vida. Agradeço a muita coisa dessa vida que foi muito generosa comigo, encontrar a Deborah foi uma iluminação que gerou e gera o viver a vida. Viver a Vida em versão original! Esse é também o título do livro que conta a nossa história e que nesse mês ganhou um formato digital. Fiquei na dúvida de escrever a palavra “coisa”, existem preconceitos com ela. Olhando rapidamente no Ecosia (a versão ecológica do Google que sempre uso) descobri o quanto ela é versátil e tem muuuuitos significados. Ela pode ser substantivo, adjetivo, advérbio e até verbo. O significado que mais encontrei foi: “Tudo o que existe ou que pode ter existência”. Não é demais? Portanto mantenho que encontrar a Deborah foi a coisa mais importante da minha vida!

Hoje de manhã, assisti ao Davos Lab Brasil na TV Folha. Foi muito bom! O que sempre me impressiona são aquelas pessoas que ficam no chat jogando palavras de ódio. Elas entram para isso! O que faz alguém entrar num evento que não aprecia e ficar falando mal de tudo e de todos? Com tanta coisa importante para fazer o que faz alguém perder tempo e energia com isso? Vamos excluir as pessoas que se submetem (banalidade do mal) a receber dinheiro para fazer atos destrutivos e aos robôs programados para isso. Ainda resta uma quantidade enorme de pessoas que covardemente, em seu anonimato, insistem em disseminar vibrações negativas. Existem pessoas que preferem torcer para que o time do outro perca do que o seu ganhe. Estranho, né? Vota num outro candidato para que o que não gosta perca. Sim, parece surreal, mas é a realidade! Uma pessoa escolhe um candidato de sua preferência, mas não vota nele porque acredita que deve votar no candidato que as pesquisas mostram que tem mais chance contra um do qual é contra. Com isso, sempre ganha um candidato que não é o da sua preferência! Como pode uma coisa dessas ser boa para a democracia? Por que as pessoas, na sua maioria, escolhem ser do contra? Como elas fazem para se justificarem consigo mesmas? A resposta é reduzindo a dissonância cognitiva, através de artifícios imaginários (histórias).”

1º de março 2020

“Hoje, primeiro de março de 2020

A semana do Carnaval termina hoje e amanhã é quando, pejorativamente, se diz que o Brasil começa a trabalhar. A questão da sustentabilidade nunca esteve tão mal e olha que já esteve inacreditavelmente mal nos últimos 10 anos. O que será necessário para que esse jogo vire no Brasil e nos EUA? O principal é saber que TODOS nós podemos fazer alguma coisa, por menor que seja. Se ficarmos apenas reclamando estaremos sendo cumplices dessa tragédia.

Na carta de fevereiro subestimei o possível impacto do novo Coronavírus no mundo. Não havia casos de mortes fora da China e nem nome o vírus tinha. Mantenho a ideia de que as mídias vêm gerando um pânico que em nada ajudam. Acredito, também, que já estamos num estado de pandemia apesar de não ter sido declarado ainda.”

Primeiro de Fevereiro 2024

The Doomsday Clock stands in a broadcast studio before a virtual news conference at the National Press Club in Washington, Tuesday, Jan. 24, 2023. The Bulletin of the Atomic Scientists announced that it has moved the minute hand of the Doomsday Clock to 90 seconds to midnight. (AP Photo/Patrick Semansky)

Faltam 90 segundos para meia noite

Em 1945 um grupo de cientistas atômicos da Universidade de Chicago, entre eles Einstein e Oppenheimer fundaram o Boletim dos Cientistas Atômicos que criou (1947) o Relógio do Juízo Final (Doomsday Clock). Na época a ameaça nuclear era o principal motivo da humanidade rumar para o apocalipse. A ideia é que, simbolicamente, ao chegar à meia noite o mundo, para a raça humana, chegaria ao fim. O Relógio tornou-se um indicador universalmente reconhecido da vulnerabilidade mundial à catástrofe global causada por tecnologias criadas pelo homem. De tanto em tanto eles iam atualizando os minutos conforme eventos mundiais relevantes. Em 1947 definiram que estávamos a 7 minutos de tudo acabar; em 1949 caímos para 3 minutos por conta da corrida pelas armas nucleares; em 1953 fomos para 2 minutos por causa dos testes com as bombas de hidrogênio (EUA e União Soviética); em 1960 voltamos para os 7 minutos iniciais; 1963 para 12; 1991 para 17 minutos; em 2020 caímos vertiginosamente para 100 segundos onde mudanças climáticas e aumento e descontrole de armas nucleares agravou nossa direção ao fim. No relatório de 2020 o Brasil (Bolsonaro) foi mencionado diretamente: “No ano passado, alguns países tomaram medidas para combater as alterações climáticas, mas outros – incluindo os Estados Unidos, que formalizaram a sua retirada do Acordo de Paris, e o Brasil, que desmantelou políticas que protegiam a floresta amazónica – deram grandes passos para trás.” O ano passado (2023) foi feito mais um ajuste para 90 segundos e na semana passada (23/01) anunciaram que continuamos nos 90 segundos em 2024. O ajuste será anual a partir de agora. Como será o resultado em 2025? Coisas graves estão pela frente. As guerras continuam a crescer e escolha de lados se intensificou. Se Trump for eleito esse ano, será o maior desastre possível para a preservação da humanidade. O relógio deve descer para 30 segundos. Emergência Climática é mais um grave fator de risco. O ano de 2023 foi mais quente da história desde 1880 quando começamos a medir a temperatura do planeta.

Como se mede a temperatura de um planeta? Um vídeo curto (9 min) da Nasa explica com simplicidade https://youtu.be/1bv6zIpmWpY?si=qfqYdIUSQJwKwba8

O que podemos fazer? O site do Boletim responde que devemos ficar espertos e aprender o máximo que pudermos sobre o que pode destruir o nosso modo de vida, compartilhar o que aprendermos e pressionar os políticos para não investirem o dinheiro de nossos impostos em armas nucleares ou subsídios a tecnologia de combustíveis fósseis. Eu acrescentaria cuidar para termos um consumo sustentável, sem consumir produtos ultraprocessados, alimentos com agrotóxicos e reduzir ou cortar o consumo de carne produzidos pela indústria da proteína animal. Abolir o plástico, compensar as pegadas ecológicas das viagens, preferir utilizar transporte público, usar veículos a combustível vegetal e ou elétrico e sorrir sempre que puder.  

Site do Relógio: https://thebulletin.org/doomsday-clock/current-time/

Outra pergunta no site:

“Como voltar o relógio?

Todos na Terra têm interesse em reduzir a probabilidade de uma catástrofe global provocada pelas armas nucleares, pelas alterações climáticas, pelos avanços nas ciências da vida, pelas tecnologias disruptivas e pela corrupção generalizada do ecossistema de informação mundial. Estas ameaças, isoladamente e à medida que interagem, são de tal carácter e magnitude que nenhuma nação ou líder pode controlá-las. Essa é a tarefa dos líderes e das nações que trabalham em conjunto na crença partilhada de que ameaças comuns exigem uma ação comum. Como primeiro passo, e apesar das suas profundas divergências, três das principais potências mundiais – os Estados Unidos, a China e a Rússia – deveriam iniciar um diálogo sério sobre cada uma das ameaças globais aqui descritas. Aos mais altos níveis, estes três países precisam de assumir a responsabilidade pelo perigo existencial que o mundo enfrenta agora. Eles têm a capacidade de tirar o mundo da beira da catástrofe. Deverão fazê-lo com clareza e coragem, e sem demora.

Faltam 90 segundos para meia-noite.”

Falando em chegar à meia noite, na semana passada, Edgar Morin (102 anos) publicou no jornal francês Le Monde um artigo (https://www.lemonde.fr/idees/article/2024/01/22/edgar-morin-face-a-la-polycrise-que-traverse-l-humanite-la-premiere-resistance-est-celle-de-l-esprit_6212226_3232.html) com o título “O progresso do conhecimento levou a uma regressão do pensamento”, que deve em algum momento reproduzido em português. O texto inicial diz:

“Se é meia-noite no século: quando Victor Serge publicou o livro que leva este título, em 1939, ano do pacto germano-soviético e da divisão da Polónia, era de fato meia-noite e uma noite irrevogável estava prestes a engrossar e continuar por cinco anos.

Não é meia-noite no nosso século? Duas guerras estão em andamento… Essas guerras agravam a conjunção de crises que atingem as nações, alimentadas pelo antagonismo virulento entre três impérios: os Estados Unidos, a Rússia e a China. As crises alimentam-se umas das outras numa espécie de policrise ecológica, econômica, política, social e civilizacional que se amplificará… A democracia está em crise em todos os continentes: é cada vez mais substituída por regimes autoritários, que, ao disporem de meios de controles digitais sobre as populações e os indivíduos, tendem a formar sociedades de submissão que poderiam ser chamadas de neototalitárias. A globalização não criou solidariedade e as Nações Unidas estão cada vez mais desunidas.”

Do alto de seus 102 anos, lançou, a menos de um ano, um novo livro “Ainda um momento…” (Encore un moment) e continua dando lições para esse século.

Relógio do Fórum Mundial em Davos 2024

O Relatório de Riscos Globais que saiu alguns dias antes do início das conversações mostra que um dos principais riscos é a Desinformação (que corre livre e solta). A questão da Emergência Climática e Meio Ambiente também foram altamente relevantes. A questão dos conflitos mundiais e inteligência artificial não tinham como ficarem de fora. A Ministra Marina Silva, mais uma vez, foi uma voz muito importante nessa crise civilizatória. Ainda bem!

A Conclusão do Relatório Global de Risco 2024, que precisa levar em conta as mais de 100 páginas de conteúdo é:

“O mundo está passando por múltiplas transformações estruturais de longo prazo: a ascensão da IA, as mudanças climáticas, uma mudança na distribuição geopolítica do poder e as transições demográficas. Estas forças estruturais são globais, generalizadas e carregadas de ímpeto (momentum). Neste contexto, os riscos conhecidos e emergentes necessitam de preparação e mitigação. Estratégias localizadas, esforços inovadores, ações coletivas e coordenação transfronteiriça desempenham um papel importante na abordagem destes riscos.

Estratégias localizadas, que alavancam o investimento e a regulamentação, são fundamentais para reduzir o impacto dos riscos globais, e tanto o setor público como o privado podem desempenhar um papel fundamental na extensão dos benefícios a todos. Ao dar prioridade ao futuro e concentrar-se na investigação e desenvolvimento inovadores, os esforços de entidades individuais podem tornar o mundo um lugar mais seguro. As ações de cidadãos, empresas e países individuais – embora talvez insignificantes por si só – podem fazer avançar a redução do risco global se atingirem uma massa crítica. Por último, a coordenação transfronteiriça continua a ser o único caminho viável para os riscos mais críticos para a segurança e a prosperidade humanas.”

Talvez seja mais do mesmo e do esperado, mesmo assim, é mais um guia para buscarmos luz no fim do túnel.

Global de Risco 2024:  https://www3.weforum.org/docs/WEF_The_Global_Risks_Report_2024.pdf

Da COP28 a COP30

Apesar de todos os pesares, a COP28 não foi um total fracasso. A tragédia anunciada meses antes e confirmada durante o evento em Dubai, só foi amainada nos momentos finais onde a pressão externa, principalmente, da sociedade civil, alcançou alguns importantes resultados apesar de ainda longe de enfrentar a emergência climática. A questão de triplicar a capacidade global de energia renovável e duplicar a média global de eficiência energética até 2030 é muito ridícula. É óbvio que isso já iria acontecer independente de qualquer objetivo firmado na COP28, as previsões são inclusive maiores que essa. A jogada inicial de aprovar, logo de cara, uma resolução para Perdas e Danos foi outra estratégia de desvio de atenção para o que realmente era importante: redução drástica dos combustíveis fósseis. No final, final mesmo, a duras penas foi possível incluir a frase “fazer a transição em direção ao fim dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos de maneira justa, ordenada e equitativa, acelerando as ações nesta década crítica para atingir emissão líquida zero até 2050, de acordo com a ciência”. Precisou de 28 COPs (quase 30 anos) para, pela primeira vez, incluir o início do fim dos combustíveis fósseis no mundo. Tudo bem que não quer dizer nada, mas já alguma coisa. O Brasil na total contramão dessa ação está pressionando para ampliar significativamente a exploração do Petróleo em áreas de risco ecológico. Até entrou na OPEP+, um gesto que manchou a condução maravilhosa que as ações do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima vem colhendo resultados surpreendentemente positivos. Além disso se essa catástrofe se realizar, sairemos imediatamente da possibilidade de alcançar os resultados definidos (NDC – Contribuição Nacionalmente Determinada) no Acordo de Paris.

Ana Toni, Secretária Nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima escreveu um artigo, na última sexta-feira (26/01) pontuando muito bem os resultados da COP28 e a política nacional.  https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2024/01/26/os-resultados-da-cop28-e-a-politica-nacional.ghtml

Quanto a COP29 será o segundo ano consecutivo em que as negociações climáticas mais importantes da ONU serão organizadas por um “PetroEstado” que, assim como os Emirados Arabes Unidos, são fortemente dependentes da produção de combustíveis fósseis. O Azerbaijão, onde já deu um escândalo por não incluírem mulheres na comissão, foi escolhido, onde o conflito de interesse continua muito evidente. Me preocupo em pensar que na COP30 também seremos um país rumo a dependência do Petróleo. Sou otimista, apesar de algumas evidências.  

Meta das Redes Sociais

Ontem 31 de janeiro, Mark Zuckerberg foi obrigado (pelo senador Hawley) a se desculpar publicamente para as famílias de crianças abusadas presentes na audiência da Meta (ex-Facebook) no Congresso Americano. Foi acusado (pelo senador Graham) de ter sangue nas mãos por ter um produto que mata pessoas. O foco dos senadores é alterar uma lei passada em 1996, a seção 230 da Lei de Decência nas Comunicações que permite aos prestadores de serviços online ampla imunidade contra ações judiciais relacionadas com as postagens de quem as utiliza. Em outras palavras isenta as redes sociais de responsabilidade sobre o conteúdo publicado pelos usuários. Essa discussão é sistêmica e não tem um certo ou um errado, são muitos aspectos a serem desdobrados. O fato é que essas plataformas enriquecem numa proporção gigantescamente maior do que as ações que fazem para coibir essas práticas criminosas. Essa audiência tem, também, a intenção de promover o projeto de lei KOSA, sigla em inglês para Segurança Online para Crianças. A questão é se o projeto realmente tem como objetivo único proteger as crianças ou existe alguma agenda oculta sendo maquiavelicamente preparada. Uma oposição forte ao KOSA vem crescendo. A questão principal, sempre que há uma polarização, é que (no geral) os dois lados são uma péssima opção.

Conversando com o Gpt

Estou terminando de ler o livro “O Poeta e o Robot” escrito pelo precioso José Ernesto Bologna. É, em primeiro lugar, um presente para o leitor. Bologna conversa com o ChatGpt através da mais requintada e eficaz forma de linguagem: a Poesia (sim, com P maiúsculo). O protagonista dessa conversa é a Palavra, usada de forma onde desafia a linguagem a se revelar, desvendar… desnudar. A sensação que estou tendo desse encontro desafiador é parecida com a que senti num duelo de banjos no filme Deliverance (1972). Um menino, aparentemente com problemas mentais, mas altamente talentoso com seu instrumento musical acompanha o desafio de um talentoso violão até se tornarem um. Bolongna e Gpt conversam de uma distância tão gigantesca e se aproximam pela palavra e pela modelagem da linguagem. Um passeio agradável pela Filosofia, pela Poesia em si, pelo Ser ou não Ser dos Grandes Modelos de Linguagem LLM (Large Language Models), pelos perigos dos humanos mal-intencionados e muito… muito mais. Alan Turing iria adorar essa conversa, inclusive a menção do seu pioneirismo. Depois de ler o livro, você nunca mais verá IA (inteligência artificial) da mesma maneira. Estou triste que o livro esteja terminando. Imperdível!

Efemérides

1º de fevereiro 2023

A Marcha dos Idiotas

No dia 8 de janeiro, em Brasília, um grupo de pessoas marchou do Quartel General do Exército até a Sede dos Três Poderes onde invadiu, depredou, defecou, destruiu obras de arte, quebrou vidros, equipamentos, mobiliário violando o Congresso, Supremo Tribunal Federal e o Palacio do Planalto. Foram cenas inacreditáveis e mais inacreditável ainda foram as conivências, os patrocínios, a proteção ao crime pelas forças de segurança e a habilidade em ludibriar essa massa de manobra.

“Redes sociais deram voz a legião de imbecis”, diz Umberto Eco no discurso ao receber o título de doutor honoris causa na Universidade de Turim (junho 2015/Itália). Ele disse que “o drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”.

1º de fevereiro 2022

Fim da Pandemia?

A Dinamarca decretou, a partir de hoje, o fim da pandemia. É o primeiro país da Europa a fazer isso. Apesar dos casos ainda estarem altos e da subvariante BA.2 da Ômicron (mais contagiosa) ser a dominante no país. A primeira-ministra Mette Frederiksen anunciou que o país pretende regressar à vida antes do coronavírus e que a doença já não será mais considerada uma ameaça à sociedade. Eles estão se baseando na constante baixa da necessidade de leitos de UTI e não no aumento da contaminação.

O que significa isso? Luz no fim do túnel? Parece até estranho pensarmos, por exemplo, que as máscaras não serão mais utilizadas no transporte público. O gesto da Dinamarca abre um caminho para os outros países se posicionarem em relação as restrições e as medidas sanitárias. A Espanha está indo na direção de se declarar numa endemia ao invés de pandemia. O Reino Unido também tem feitos esforços nessa direção. Será o começo do fim da pandemia?

1º de fevereiro 2021

Como é? 2020 não acabou?

A gente não estava atrelando 2020 com a pandemia?

Fico pensando como esse período vai entrar para a História. Claro que depende da linha do seu historiador favorito. Toda a História é contada de diversas maneiras, com narrativas e fatos próprios de quem conta. Como você vai contar essa história?

1º de fevereiro 2020

Já se passou um ano (25/01/2019) da tragédia de Brumadinho e ainda estamos permitindo que outras possam ocorrer. A morte do Rio Doce em 2015 não levou ninguém para cadeia, ao contrário, pagou altos valores em bônus para o então presidente da Vale do ex-Rio Doce.   

Primeiro de Janeiro 2024

Feliz Ano Novo, Feliz Ano Passado

Começo esse ano com a alegria de ter a Marina Silva, na imagem desse texto, como tive em janeiro de 2023. A revista Nature, a principal revista de ciências do mundo, no dia 13 de dezembro, último dia da COP28 onde ela teve um papel extremamente relevante, publicou a escolha das 10 pessoas mais relevantes, no mundo, para a ciência em 2023.  Entre as várias razões para ter ficado feliz nesse dia é que há 10 anos quando ela era a candidata favorita para vencer a eleição à presidência do Brasil, após a trágica morte de Eduardo Campos, foi massacrada pelos marketeiros de plantão dos dois outros candidatos, inaugurando o que viria ser a era das fake news. Todo dia inventavam uma mentira nova que chegava a “colar” em alguns grupos de desavisados. Essa manipulação criminosa das informações deixou sequelas que até hoje tem um ou outro que ignora quem ela é e o que vem fazendo, sem nunca ter parado, em seu ativismo pela Vida. Essa eleição também destruiu o PSDB que queria ter se composto com a Marina, mas o Aécio preferiu seguir um caminho diferente do partido e depois disso o partido se esfacelou e nunca mais voltou. E no primeiro dia da COP28, 30 de novembro, o jornal Financial Times escolheu Marina Silva como uma das 25 mulheres mais influentes de 2023. Ela vem acumulando centenas de reconhecimentos pelo mundo todo.

Se temos alguém para agradecer pelo que realizou em 2023, essa pessoa é sem dúvida a Marina Silva.   

Recomendo esse texto da Pública:

Realidade Violada

Todo início de ano é marcado por uma introspectiva retrospectiva, que de alguma forma, pauta nossas intenções para o ano que está nascendo. Percepção é o que prevalece para definirmos a realidade, ou seja, nossa realidade. Cada um percebe a realidade da sua maneira e, provavelmente, bem diferente da do outro. Com tantas realidades, qual é a verdadeira? O que pode ser considerado, legitimamente, verdadeiro para todos? Em busca disso é que procuramos nos agrupar ou aglomerar (clusters) pelas semelhanças. Dentro da formação desses grupos existem subgrupos que vão sendo refinados até criarem um núcleo com uma visão bem particular (especialista) entre si. O problema é quando acreditamos que essa visão específica da realidade é “a” realidade e que a dos outros estão equivocadas. Com essas infinitas finitas visões da realidade, como foi acontecer de gradativamente reduzirem a apenas duas? Como está sendo possível aceitarmos a polarização da verdade ao invés de sua natural diversidade? Será que perdemos completamente a capacidade de olharmos sistemicamente? Só existem duas possibilidades de realidade e verdade? Essa polarização está ficando cada vez pior e criando divisões irreparáveis entre conhecidos, amigos, famílias, vizinhos… todas as relações estão sendo checadas e rechecadas. Se alguém não escolher entre A e B, é pior ainda porque será alvo do ódio dos que escolhem A e dos que escolhem B. Essas pessoas ficam no limbo, são consideradas omissas, alienadas, em cima do muro, ou simplesmente “sem noção”. Quando na verdade, são pessoas que, provavelmente pensam por si mesmas e estão fazendo outras escolhas diferentes do que as duas ofertadas. O que é mais impressionante ainda é que, geralmente, essas duas opções oferecidas pela polarização têm características muito parecidas entre si. Como então foi possível fazer com que um gigantesco número de pessoas se tornem torcedores fanáticos por um lado ou pelo outro? Talvez uma resposta simplista seja o domínio, cada vez mais avançado, das técnicas de manipulação!

IA – Ignorância Artificial

A inteligência natural sempre existiu apesar da humanidade ter escolhido, desde sempre, acreditar no inacreditável. Com o tempo nossa civilização passou a encontrar mais respostas objetivas valorizando as percepções da realidade. Porém, ao contrário do que se esperaria, a inteligência natural foi sendo, cada vez mais, deixada de lado. Os meios de comunicação pautavam o que deveríamos pensar e acreditar. Com as mídias sociais, a inteligência natural foi completamente abandonada dando lugar aos pensamentos, crenças e ações programadas pelos algoritmos e nos fazendo agir acreditando que se trata da nossa vontade própria. 

Essa Ignorância Artificial está sendo ampliada pela chamada Inteligência Artificial. A própria inteligência artificial que vem sendo cultuada, não é propriamente inteligente, ela apenas simula com uma extraordinária capacidade de operar a linguagem expressões que parecem ter inteligência intrínseca. Não tem! São grandes modelos de linguagem (Large Language Models) que processam linguagem natural (Natural Language Processing), que entendem e geram linguagem natural (Natural Language Undertanding and Natural Language Generation). É só isso! Parece pouco se comparados com a ideia de que possuem inteligência própria. Mas é gigantesca as possibilidades de interatividade e efetivamente tem alterado muitas coisas em quase todas as áreas. O perigo maior é acreditarmos que não somos influenciados por seu poder de persuasão. Hoje, se olharmos em volta, podemos perceber de que algumas questões que estão sendo largamente influenciadas pelos algoritmos e pelas ações diretas (mal) intencionadas na direção da polarização. O único antidoto para evitarmos sermos manipulados é usarmos a nossa Inteligência Natural (IN).

Carta de Harvard

Apenas ilustrando de maneira impressionante casos de Ignorância Artificial vou citar superficialmente o caso da Carta de Harvard. Acredito que chegou o fim da era das Universidades do Poder. Essa última “aventura” vai enterrar de vez essas fábricas de produzir líderes desumanos. Há duzentos anos as Skull & Bones (Yale) das universidades vem forjando a elite mais podre (trocando o “r” pelo “e”) dos EUA. Não sei quantas são hoje, mas devem ter, pelo menos, uma dúzia bem forte fazendo estragos a todo vapor. Também o estupro sistemático de jovens dopadas remonta mais de um século sem que exista qualquer consequência para os futuros líderes do país (com honradas exceções). O sistema de admissão é outra absurdalidade em que os privilegiados podem entrar, seja por já serem da elite ou por comprarem, a peso de ouro, seu passe.

Essas universidades sempre foram muito bem-vistas, como a Suíça – o país que mais fez coisas nefastas para o mundo, ainda consegue ser bem visto.

Acredito que será muito difícil voltar a ficar em pé depois desses últimos dois meses. Serão totalmente remodelados e talvez (sou otimista) cheguem a se preocupar com a aprendizagem e a formação. Mesmo assim acredito que levará muitos anos para isso. O rei nu não teria sido escancarado se não fosse o mega tropeço iniciado pela Harvard quando um bando de meia dúzia de estudantes escreveram uma carta, no próprio dia 7 de outubro enquanto as atrocidades ainda aconteciam e receberam o apoio automático (ninguém leu) de vários grupos da Harvard, começando com a frase: “We, the undersigned student organizations, hold the Israeli regime entirely responsible for all unfolding violence.”

O que a liderança de uma instituição deve fazer diante de uma coisa dessas. Expulsão imediata dos poucos gatos pingados e depois pensa no que fazer. Foi o que a Johnson fez no caso do envenenamento do Tylenol (1982) Tira todos do mercado e depois pensamos o que fazer. Esse prejuízo da J&J se tornou o melhor investimento possível na marca. Mas não foi o que o time de governança da Harvard fez… a situação se escalonou e as decisões foram piorando a cada dia, até chegarmos na situação atual. Não sei qual está sendo o prejuízo financeiro (na casa de bilhões de dólares) mas o prejuízo de promessa de marca é inestimável. A Columbia University também teve uma carta publicada no próprio dia 7 de outubro que continua a frase: “The weight of responsibility for the war and casualties undeniably lies with the Israeli extremist government and other Western governments.” Isso enquanto o Hamas ainda destruía para (talvez) sempre a possibilidade de paz no Oriente Médio.

Se Harvard tivesse agido corretamente no dia 8 de outubro esse vírus não se espalharia por tantas universidades e não causaria os estragos que estão acontecendo. Agora estão emergindo até as doações milionárias que os países árabes fazem às universidades. Por que o fazem? Qual a intenção. O Qatar aparece como um dos maiores doadores. Doações acima de sua capacidade comparativa com seu PIB. Oi? O que está acontecendo? As três reitoras (Harvard, MIT, PENN) que depuseram no congresso americano, deixaram claro que o antissemitismo é uma prática normal em seus campus. Quando perguntadas se apelar para o genocídio dos judeus viola as regras ou código de conduta de suas universidades, as três responderam vagamente “depende”, deixando as três importantes universidades em situação vexatória. Quais serão os próximos passos?

Será muito difícil as Universidades do Ivy league se reerguerem dessa lama! Será que os patrocinadores do Qatar e outros países árabes vão cobrir os imensos prejuízos financeiros, morais e de imagem?

Quem troca a PAZ pelo Ódio?

Durante muitos anos venho expressando o quanto me preocupo com líderes de nações que usam seus cidadãos para benefício próprio. Seja pela sua sede de poder, seja pela forma como vê o mundo ou pela corrupção pura e simples. Em geral esses déspotas têm essas três características juntas. Minha preocupação maior não é com o fato de que eles existem, mas sim com o fato de serem apoiados por esses mesmos cidadãos que são pisoteados. Entre eles está o Bibi de Israel, que venho dizendo há anos que ele é um perigo para Israel e os judeus no mundo todo. As pessoas misturam coisas que não se misturam e por isso defendem ideias que não são compatíveis com um mínimo de bom senso. Israel é um país que tem uma posição geográfica no mundo. Israelense é um cidadão de Israel, independentemente de suas crenças ou religião. Judeu é uma denominação de uma etnia e ou de uma religião. Muitas religiões, nos dias de hoje, descendem da religião judaica. As principais são o Cristianismo e Islamismo. Cada uma dessas religiões gerou, também, descendentes. Alguns como católicos, protestantes e evangélicos para os judeus cristãos como Sunitas e Xiitas para os Islâmicos. Para não entrar mais fundo em outras confusões, só queria falar da minha posição em relação ao Bibi, que não é Israel, nem são os Israelenses e nem os judeus. Ele ocupa uma posição num cenário e contexto do qual me oponho há anos.   

Benjamin (Bibi) Netanyahu foi, em 1995, responsável pela virada dos caminhos de Israel em direção a Paz para o ódio e a guerra. Conseguiu inflamar uma parte da população gerando violência e culminando no assassinato de Yitzhak Rabin, um general que foi bem importante para a sobrevivência de Israel e sabia que o único caminho possível para a segurança do país seria firmar a paz na região. Rabin foi substituído por Shimon Perez, um importante expoente da política e diplomacia israelense, que ganhou, junto com Rabin e Arafat em 1994, o prêmio Nobel da Paz. As eleições para primeiro-ministro (primeira vez que seria eleito por votação da população) de Israel em 1996, tinham como vencedor certo o Shimon Perez. Netanyahu estava praticamente acabado depois de ter causado a convulsão de violência no país que resultou na morte de Yitzhak Rabin. Acontece que poucos meses antes das eleições o Hamas (sim o mesmo Hamas que tem viabilizado a permanência do Bibi em 2023) fez uma série de ataques terroristas (homens-bombas) que viraram o jogo eleitoral fazendo com que o Netanyahu, inacreditavelmente, vencesse as eleições por menos de 1% de diferença. Israel seguiu, politicamente, um novo caminho! O caminho do ódio! Triste para um país tão resiliente que conseguiu transformar um deserto num oásis em tão pouco tempo. Triste para os judeus, muçulmanos, cristãos e outras culturas e religiões que vivem lá. Quando novamente Israel, estava buscando a paz, com acordos sendo realizados e a definitiva expulsão do Bibi do cenário político, o Hamas consegue executar o mais bárbaro dos ataques terroristas até hoje já infligidos a uma nação. Com isso o ódio volta com tudo, a guerra volta a ser o dia a dia, o Benjamin Netanyahu consegue continuar no poder com sua equipe de… Historicamente já vivemos esses momentos em que uma onda de violência reverte os rumos de uma eleição. No fatídico 11 de setembro de 2001, o então presidente eleito George Bush filho, estava tão desacreditado pelas comprovadas fraudes nas eleições americanas em que Al Gore tinha vencido, que estava sendo renegado pela maior parte do país. O ataque as torres gêmeas, criou uma comoção patriótica que fez o país se unir com o que tinha e apesar das respostas, hoje claramente equivocadas, fez George W. Bush conseguir se reeleger. Teria sido impossível sem esse ato terrorista. Nas eleições de 2004 na Espanha os atentados terroristas de 11 de março em Madrid, três dias antes das eleições, reverteram os resultados. Os ataques terroristas de 7 de julho de 2005 em Londres não alteraram os resultados das eleições em si (reelegeram Tony Blair em maio) mas geraram muitos conflitos sociais e problemas na segurança que levou a muitos equívocos, entre eles, a execução, por engano, do brasileiro Jean Charles pela Polícia metropolitana de Londres. Em 2008, na Índia, os ataques (26/11) em Mumbai influenciaram diretamente as eleições em maio de 2009. Na França em 2015, o presidente François Hollande estava desacreditado e até mesmo sendo humilhado nas mídias. Com o ataque terrorista (ISIS) de 13 de novembro de 2015, a situação mudou inteiramente. Ocupou integralmente a mídia internacional, até mesmo ofuscando no Brasil onde havia, uma semana antes, se assassinado o Rio Doce (tragédia de Mariana). Hollande saiu do castigo e passou a ter um protagonismo inédito, renasceu das cinzas. Foi duas semanas antes da COP21 de Paris e ao invés de ficar quietinho num canto esquecido tomou posse da COP, atropelando o presidente Laurent Fabius (que era muito bom por sinal). A extrema direita que estava também apagada se levantou com a Marine Le Pen e foi até possível o jovem franzino ministro da economia, Macron, ter a petulância de se candidatar à presidência da França. Antes dos ataques os únicos candidatos possíveis seriam o François Fillon e o Mélenchon. Acredito eu até a Christine Lagarde preferiu não chegar perto dessa confusão e continuar no FMI… perderam os franceses. Pois é… foi possível eleger e reeleger o Macron. Em 2015 a Turquia também sofreu consequências nas eleições parlamentares daquele ano, além da destruição de . O ISIS cometeu atrocidades inomináveis e foi dizimado, o mesmo deve acontecer com o Hamas. Mesmo assim vão continuar a existir grupos extremistas terroristas que, indiretamente, favorecem a extrema direita através da violência e do ódio! Com isso fica ingênuo e até piegas dizer que a solução para qualquer problema é o Amor. Tudo que precisamos é Amor! All we need is Love!       

Recomendo esse documentário do FRONTLINE:

Netanyahu, America & the Road to War in Gaza

O texto de hoje ia ser principalmente sobre a COP28 que passei todos os dias, até 13 de dezembro, assistindo, participando e anotando pontos relevantes. Achei que precisava de um distanciamento maior de tempo para fazer isso sem ficar repetindo o que já foi bem documentado. Deixo então só esse link do Observatório do Clima com um pouco de esperança rumo a COP30 no Brasil.  

Só lembrando que a invasão da Rússia na Ucrânia fez hoje 677 dias!

Efemérides

1º de janeiro 2023

“Voto de Confiança

Hoje, no discurso de posse do presidente (pela terceira vez) Luiz Inácio Lula da Silva, agradeceu o voto de confiança dos Brasileiros que o elegeram. Acredito que esse seja o ponto mais importante. Os votos que o elegeram nas urnas não foram diretamente para ele e sim, um VOTO de CONFIANÇA para a Frente Ampla nascida para garantir a democracia, acabar com a sistemática destruição socioambiental, sanar a saúde, ressuscitar a cultura, regenerar os direitos humanos, repaginar a educação e principalmente frear a enorme onda de violência. Esse voto de confiança é também mundial. As relações internacionais em, praticamente, todas as áreas estão acreditando e torcendo para que os discursos se materializem em ações concretas. Confiança!”

1º de janeiro 2022

“Quais são as verdades inconvenientes que não podem aparecer?

Fiz uma lista rápida de algumas que me ocorreram. Claro que tem as mais óbvias que são criadas, quase que diariamente, pelo atual governo federal. Mas vamos a minha listinha: origens da soja transgênica no Brasil; liberação sistemática dos agrotóxicos; COP26 e a Ômicron pelo mundo; usina de Belo Monte; indústria da proteína animal; agricultura predatória; Código Florestal; indústria da pesca; escândalo da FIFA; escândalo da Petrobras; pedofilia na igreja e muito mais verdades inconvenientes que precisam de lastro nas mentiras convenientes (Fake News) para manterem a realidade da ficção.”

1º de janeiro 2021

https://alandubner.medium.com/primeiro-de-janeiro-31e7e9418cab

“A terceira e talvez a mais importante constatação é a da ditadura da polaridade. Ela existe há muitos anos e nos últimos seis vem crescendo exponencialmente através das manipulações da mídia, principalmente das mídias sociais. O início dessa modalidade de manipulação começou em 2014 nas eleições brasileiras, depois foram profissionalizadas em 2016 no referendum do Brexit (que aliás começa hoje), na eleição americana de 2016 e foi crescendo extraordinariamente a ponto de ser muito difícil separar o joio do trigo. A pandemia fez emergir a parte mais obscura desse fenômeno que é a imbecilidade de rebanho. Trata-se de uma simplificação do pensamento e a erradicação do diálogo. Nada de pensamento sistêmico ou de frescura com filosofia. É nós ou eles! Simples assim! Você é a favor ou contra! Comportado ou rebelde! Certo ou errado! Normal ou anormal! Sadio ou doente! Esse modelo mental é tão absurdo, apesar de ser violentamente defendido, que me faz pensar o que seria dos computadores se essa prática binária fosse aplicada a eles. Um computador só entende ligado ou desligado (zero 0 e um 1). Passa energia ou não passa energia. No entanto a combinação de possibilidades de 0 e 1 é gigantesca permitindo existir tudo que temos até hoje com apenas diálogos entre ligado e desligado. Essa redução da complexidade humana nos faz perder a possibilidade de fazer as combinações imaginativas que tanto necessitamos para sobreviver a essa crise civilizatória. Ficamos reduzidos a ter que dizer se somos contra ou a favor da vacina contra o novo coronavírus. Como se fosse possível responder essa pergunta sem saber quais das mais de 100 vacinas estão se referindo, quais os resultados dos testes que estão sendo realizados, quais os riscos e muito mais. No entanto se você começar a fazer perguntas, você é considerado ser contra vacinas e provavelmente vacinas em geral. Isso está valendo e cada vez pior para tudo.”

1º de janeiro 2020

“Entre essas coisas todas de 2019, ressalto a vergonha que o Brasil passou em setembro na Assembleia Geral da ONU com o foco principal na crise climática. Foi realizada, em paralelo, uma Cúpula do Clima Especial onde líderes mundiais, cientistas, e ativistas discutiram ações urgentes para combater as mudanças climáticas. O presidente do Brasil, em seu discurso na Assembleia, falou tanta bobagem (orientado por Steve Bannon) que fez com que o discurso, pronunciado em seguida pelo presidente americano, Donald Trump parecesse… razoável. Dá para acreditar? Esse foi um feito incrível! O Brasil, através do seu atual governo, deixou claro que está trabalhando contra o meio ambiente, contra as principais questões sociais e contra as vantagens econômicas competitivas do Brasil. Recusaram a realização da COP25 no Brasil, que foi para o Chile e de última hora teve de ser realizada na Espanha. O Ministro do Meio Ambiente, criação do ex-governador de São Paulo, é um desastre para os negócios do país. Ele é um perigo para o mundo todo. Não sei se conseguiremos sobreviver mais um ano. Os estragos gerados em apenas um ano de mandato levarão anos para o país se recuperar.”    

Primeiro de Dezembro

COP28: na contramão da transição energética

No ano mais quente da história da humanidade, onde todas as evidências cientificas mostram que nessa era do antropoceno, e significativamente nos últimos 50 anos, estamos condenando a humanidade às custas das próximas gerações, começou ontem 30/11, a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas nos Emirados Árabes Unidos sob a presidência de quem comanda a Empresa Nacional de Petróleo de Abu Dhabi, conhecida como Adnoc. É a primeira vez que um CEO, ainda mais do setor de combustíveis fósseis, assume a presidência de uma COP. Esse cenário conta, também, com as tensões geopolíticas das guerras e das polarizações políticas no mundo todo. A vergonhosa ausência dos presidentes dos dois maiores emissores de gases de efeito estufa (China e EUA), também, colaboram para reduzir as expectativas dos resultados da COP28. Mesmo assim estou otimista, mesmo assim vejo luz no fim do túnel das próximas duas semanas. Meu otimismo se deve, em grande parte, pelo intenso engajamento da sociedade civil e da percepção, cada vez maior, de que governos, empresas e a ONU não conseguem fazer alguma coisa útil contra a mudança climática. Prova disso é a estúpida CPI das ONGs, que só consegue provar a idoneidade delas e fabricam inverdades para tentarem criar uma narrativa negativa. O pior é que tem gente que acredita!

O Brasil, que hoje assume a presidência do G20, tem um governo dividido entre os que estão trabalhando pela humanidade e os que estão trabalhando contra. Os discursos do presidente hoje não tocaram no ponto e deixaram (propositalmente) muitas dúvidas se o Brasil vai na direção de substituir (de verdade) os combustíveis fósseis ou incentivar a exploração de petróleo. Para piorar a boa imagem que o Brasil poderia ter na COP28, foram reveladas algumas barbaridades que deixaram o mundo perplexo diante desse governo paradoxal. A primeira foi a inclusão, na agenda verde, de um câncer (ex-jabuti) no projeto de lei que trata do marco regulatório das eólicas em alto-mar, incluindo a obrigatoriedade de contratação de térmicas a carvão. OI?????? A segunda foi a confirmação da entrada do Brasil na OPEP+ pelo ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira. Oi???? A outra notícia foi a aprovação da alteração do estatuto da Petrobras para permitir a entrada de políticos. Oi??? Ainda estamos traumatizados pelo Petrolão! A notícia da Braskem também não ajudou o Brasil nesses primeiros dois dias da COP28, um passo para frente dois para trás.

Os números de ontem (primeiro dia até 16h) foi um recorde de participação em COP. Foi anunciado pelo moderador Alexander Saier ao final do dia 930/11) na Conferência de Imprensa. Participaram: 52.081 delegados das partes, 19.132 observadores, 3.976 profissionais de imprensa, 84.000 virtualmente e 104.652 entre segurança e voluntários.

No primeiro dia celebraram a implantação do mecanismo de pagamento de Perdas e Danos. Seria uma ótima notícia se não fosse o valor irrisório anunciado. Menos de 5% do que já havia sido combinado para iniciar em 2020. Sei lá!

A boa notícia mesmo foi quando a ministra Marina Silva lançou hoje um projeto para pagamento de floresta em pé (viva), com a proposta de formação de um Fundo Florestal Tropical para Sempre) FFTS a partir da captação de recursos de outros fundos soberanos. A inovação é que, ao invés de recompensar pela massa de carbono da floresta, o pagamento seria por hectare preservado.

REGENERAÇÃO & ESG

Essa semana dei uma palestra na HSM+, junto com o Mauro Paradella (Mercado Livre) e o Rafael Gioelli (Gife) com o título “Regeneração: um impacto muito além da sustentabilidade”.  Nossos esforços coletivos precisam enfatizar a adaptação e regeneração, não apenas a mitigação e a conservação. Esta nova mudança de paradigma requer que as organizações e comunidades façam a transição de um lugar de resposta reativa para uma postura proativa. Abordamos a importância do Triple Bottom Line, hoje ESG, para ações reais e sistêmicas dentro e fora da empresa. Não adianta falar é preciso fazer. Todo mundo sabe disso, não basta saber é preciso fazer. Ao invés de apenas reduzir o desmatamento, como podemos nos engajar ativamente no reflorestamento? Além de reduzir o uso e o desperdício de recursos naturais, como podemos projetar sistemas para circular materiais com perda mínima de valor? Mais do que monitorar e regulamentar as cadeias de abastecimento para impedir o trabalho infantil, como podemos encontrar uma maneira de educar as crianças e tirar famílias da pobreza? Usei na apresentação a capa da The Economist dessa semana (imagem acima) onde mostra de uma forma criativa, como se fosse um boletim escolar, as notas baixas que tiramos nos itens ligados às emergências climáticas: Investimentos, nota D; Renováveis, nota C+; Adaptação, nota D; Financiamento, incompleto; Cumprindo compromissos, nota D-; Assumindo Compromissos, nota B+. Ou seja, prometemos e não cumprimos, estamos muito aquém dos investimentos necessário e ainda não resolvemos as questões de financiamento climático. Só a parte das energias renováveis melhoraram um pouco apesar de muito distantes de reduzirem os combustíveis fósseis. Acredito que fomos reprovados, mais uma vez! Nesse contexto, “sustentar” o que temos não é mais suficiente. Precisamos nos adaptar ativamente à situação atual e trabalhar para minimizar o impacto inevitável das mudanças climáticas nas sociedades, economias e natureza. As notícias dos últimos dois dias são bem desanimadoras. Brasil na OPEP+, Braskem, Estatuto da Petrobras e por aí vai!

Enfatizei, também, algo que sempre me surpreende quando estou com executivos das empresas responsáveis pelas questões de sustentabilidade (ESG), que é a pouca familiaridade com a Carta da Terra. É bem chocante que não conheçam profundamente o documento que representa a nossa Constituição como humanidade. Por isso erram tanto e se diz tanta besteira sobre ESG. Vejam o preambulo da carta, em anexo, no final do artigo.

Como disse inicialmente o ESG é mais um desdobramento do Triple Bottom Line (TBL) criado há 30 anos pelo consultor de negócios britânico John Elkington, que desafiou as empresas que mediam seu desempenho apenas em termos financeiros, o famoso “bottom line” (resultado final) a ampliarem sua responsabilidade para além do resultado meramente econômico, olharem, também para os resultados sociais e ambientais. Assim, o Triple Bottom Line consistia em três Ps: Profit (Lucro), People (Pessoas) e Planet (Planeta). Esse olhar sistêmico abriu espaço para diversos relatórios de desempenho nas empresas. Sendo os mais utilizados: Global Reporting Initiative (GRI): Lançado em 1997, o GRI é um dos mais antigos e amplamente utilizados padrões para relatórios de sustentabilidade. Ele fornece um conjunto detalhado de indicadores que as empresas podem usar para reportar seu impacto ambiental, social e de governança. Carbon Disclosure Project (CDP): Fundado em 2000, o CDP foca especificamente na divulgação de informações relacionadas às mudanças climáticas, uso da água e desmatamento. Empresas são incentivadas a medir e divulgar seu impacto ambiental através deste projeto. United Nations Global Compact (UNGC): Lançado em 2000, o Pacto Global da ONU é uma iniciativa que encoraja empresas em todo o mundo a adotarem políticas sustentáveis e socialmente responsáveis. As empresas que aderem ao pacto devem emitir um relatório anual de sustentabilidade (Communication on Progress) que descreve seus esforços para implementar os princípios do pacto. Dow Jones Sustainability Index (DJSI) lançado em 1999 e FTSE4Good Index Series de 2001: Esses índices avaliam o desempenho de empresas com base no TBL e posteriormente em critérios ESG. Eles são usados por investidores que buscam empresas que demonstram responsabilidade em práticas ambientais, sociais e econômicas. ESG (Environmental, Social and Governance) em 2004 pela ONU: sistema de mensuração que tomou o mercado a partir de 2012, durante a Rio+20 e foi sendo utilizada como principal referência em sustentabilidade nas empresas. Seja para uma açõa verdadeira, seja para um “greenwashing”.  Sustainability Accounting Standards Board (SASB): Fundado em 2011, o SASB desenvolve padrões de contabilidade de sustentabilidade específicos para a indústria, ajudando as empresas a identificar, gerenciar e reportar informações financeiramente materiais sobre sustentabilidade. Integrated Reporting Framework (2013): Desenvolvido pelo International Integrated Reporting Council (IIRC), esse framework promove a integração de informações financeiras e de sustentabilidade em um relatório coeso, refletindo a gama completa de fatores que afetam o desempenho corporativo. Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD): Estabelecida pelo Conselho de Estabilidade Financeira em 2015, a TCFD oferece recomendações para que as empresas divulguem informações claras, comparáveis e consistentes sobre os riscos e oportunidades relacionados ao clima.

O próprio John Elkington, em 2018, num artigo para Harvard Business Review disse que “A ideia original era ainda mais ampla, incentivando as empresas a monitorar e gerir o valor econômico (não apenas financeiro), social e ambiental agregado – ou destruído. Esta ideia gerou plataformas como a Global Reporting Initiative (GRI) e os Índices de Sustentabilidade Dow Jones (DJSI), influenciando a contabilidade empresarial, o envolvimento das partes interessadas e, cada vez mais, a estratégia. Mas o TBL não foi concebido para ser apenas uma ferramenta contábil. Era previsto provocar uma reflexão mais profunda sobre o capitalismo e o seu futuro, mas muitos dos primeiros a incorporá-lo entenderam o conceito como um ato de balanço, adotando uma mentalidade de trade-off.

Portanto hoje, independente dos critérios, nomes e sistemas de mensuração que você utilize em sua empresa, procure conscientizar os que ainda não estão vendo, agir de acordo com os compromissos assumidos (Walk the Talk) e buscar a regeneração em todas as áreas de atuação. Acredito muito na visão da sustentabilidade que ultrapassa as três tradicionais dimensões (Ambiental, Social e Econômica) e se ampliam com mais 4 dimensões: Cultural, Política, Ética e Estética. Essa visão foi sistematizada pela, mundialmente reconhecida, ambientalista Marina Silva. Ou seja, sustentabilidade é uma forma de ver e viver o mundo.

ISRAEL X Hamas

Os ataques terroristas bem-sucedidos contra a paz no Oriente Médio, no dia 7 de outubro de 2023, que mataram com requintes de crueldade e sadismo mais de 1.200 cidadãos em Israel, entre judeus, palestinos, muçulmanos, cristãos e estrangeiros, geraram mais reações do que todas as outras ações terroristas, genocídios e guerras deste século juntas. Os ataques do Hamas e a esperada resposta, acabaram conseguindo gerar instabilidade de paz para o mundo inteiro e um risco eminente de uma guerra numa escala mais global e armamentistamente bem mais perigosa. O mundo está completamente polarizado como se houvesse apenas dois lados, como se não fosse possível ver o todo. Por incrível que pareça a velha e empoeirada questão de esquerda e direita… voltou! As pessoas voltaram a falar delas como se realmente existissem, como se não houvéssemos já superado essa dicotomia. A questão do preconceito está presente de uma forma mais oculta nesse século 21, por ser politicamente incorreta ela se camufla de muitas maneiras. Quanto a propagação da violência, a grande maioria das pessoas reagem (ao invés de agir) aos algoritmos e escolhem um time para torcer sem a menor noção do que isso significa, sem a menor noção do que isso implica, sem a menor noção de nada… e posando de ativista da causa! Algumas poucas pessoas trabalham na direção de amplificar o ódio colocando fogo na floresta, fazendo guerras, passando a boiada, abrindo mais poços de petróleo, vendendo armas, aprovando veneno na comida, ajudando a eleger os Mileis do planeta. Por outro lado, existem, também, poucas pessoas trabalhando na direção da paz, fazendo do amor sua principal bandeira. Que a paz esteja convosco! Que o amor pelos nossos filhos seja maior do que o ódio pelos filhos dos outros.     

Só lembrando que a invasão da Rússia na Ucrânia fez hoje 646 dias!

Efemérides

1º de dezembro 2022

“Da COP passamos para a COPA

Também uma vergonha, um símbolo da corrupção e da “banalidade do mal” (conceito da Hannah Arendt) onde somos coniventes e até cumplices silenciosos de crimes. O famoso “Padrão FIFA”, que tentou parecer algo de qualidade, era na verdade uma poderosa máquina de manipulação e corrupção. Será que essa COPA do Qatar vai entrar para a história como as vergonhosas Copas de 1936 (Alemanha), 1978 (Argentina) e 2018 (Rússia)? Melhor parar por aqui em respeito aos torcedores. Independente do padrão FIFA de corrupção, essa COPA permitiu que todos os brasileiros voltassem a vestir a camisa e torcer pelo Brasil. Um alívio depois de um longo período de hackeamento dos símbolos nacionais e da camisa da seleção brasileira. Será que agora poderemos colocar a palavra Amor na bandeira como originalmente deveria ter sido? Após da Proclamação da República as palavras da bandeira foram inspiradas no lema positivista do filósofo francês, Augusto Comte, que ressalta “o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”. O amor acabou sendo cortado na ocasião. Quem sabe podemos reparar isso hoje!”

1º de dezembro 2021

“Será que depois de 20 meses de pandemia continuamos a acreditar no inacreditável e nos comportar da mesma maneira? O pior que pode nos acontecer é voltarmos ao que éramos em 2019 e, no entanto, muita gente está procurando caminhar para essa direção. Voltar ao normal ou para um novo normal, não é normal… é Normose! Normose é “um conjunto de hábitos considerados normais pelo consenso social que, na realidade, são patogênicos e nos levam à infelicidade, à doença e à perda de sentido na vida”, essa patologia é definida por Roberto Crema, Jean-Yves Leloup e Pierre Weil em seu livro — Normose: A patologia da normalidade — veja o TED do Roberto Crema que recomendei em outubro do ano passado: http://bit.ly/TEDnormose

1º de dezembro de 2020

“Estamos entrando no último mês da segunda década do século XXI. Onde estamos? Sabemos quem somos individualmente e ou coletivamente? Temos alguma ideia de como será o caminho civilizatório da terceira década deste século, que começa em janeiro? O que aprendemos em 2020? O que mudou? Quais são as verdades que adquirimos, quais foram ressignificadas e quais foram confirmadas?

Todas essas verdades são a nossa necessidade de ter explicações para tudo. Por que precisamos de explicações? Por que acreditamos nas explicações? Será que escolhemos em quais explicações acreditar ou somos levados a acreditar? Por que acreditamos em apenas uma das explicações?

Conforme prometido em minha carta do mês passado, vou trazer alguns exemplos para cutucar nossas verdades.

Antes de começar quero repetir o que o Arthur Schopenhauer disse:

“Toda verdade passa por três estágios.
No primeiro, ela é ridicularizada.
No segundo, é rejeitada com violência.
No terceiro, é aceita como evidente por si própria”

Para não entrar em questões como a de que a Terra é plana ou redonda, nem se comer animais faz bem ou mal, vamos escolher um tema atual que não sai da pauta geral da humanidade deste ano: a pandemia! Vamos questionar… apenas questionar, nossas atuais verdades sobre a pandemia. Apenas um exercício que pode nos exemplificar como tudo é uma questão de percepção.”

Anexo: Preambulo da Carta da Terra (início)

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo se torna cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.

Leia e releia!

Primeiro de Novembro 2023

De que lado você está?

Você é a favor do certo ou do errado?

Você defende o bem ou o mal?

Você escolhe o verdadeiro ou o falso?

Você prefere o bom ou o ruim?

De que lado você está?

Estamos diariamente respondendo essas questões. Elas são apresentadas de outras maneiras, com outras palavras, coloridas com emoções, manchadas pelos pré-conceitos e nos contam estórias que formam nossas crenças. Nosso acreditar! Um acreditar que o lado que escolhemos é o certo, o bem, o verdadeiro e o bom. Portanto o outro lado (de uma pessoa diferente de nós) é o errado, o mal, o falso e o ruim. De cara parece óbvio que essa percepção está, no mínimo, equivocada! Se essa equação faz algum sentido seria importante ampliar a visão e olhar sistemicamente. Ver essa complexidade tridimensionalmente, historicamente, espiritualmente, sustentavelmente, criticamente, generosamente ou seja… simplesmente com amor! Portanto se você é refém desse sistema de polarização, onde você pertence a um lado e não suporta o outro lado, liberte-se enquanto pode! Não existe apenas um lado, existe o todo.

“A crença não é meramente uma ideia que a mente possui, é uma ideia que possui a mente.” Robert Oxton Bolt

No dia 7 de outubro eu estava num retiro nas montanhas de Aiuruoca em Minas Gerais. Cheguei na quinta feira no fim da tarde e na sexta de manhã, 6 de outubro, comecei no ritual com um jejum que me levaria rumo ao desconhecido. Me sentia estrangeiro ao que viria a ser essa jornada, confiante do que me levara até lá e principalmente num estado de aceitação ao que me esperava. Me desconectei do mundo e me conectei comigo mesmo. Gesto simples e ao mesmo tempo complexo diante dos hábitos. Me entreguei, me integrei, me vi vendo, me escutei ouvindo, fui… e voltei na segunda-feira com a bagagem mais leve, com um presente em forma de sabedoria. O ônibus da Cometa que me levou de volta a São Paulo não sabia que eu não sabia o que estava acontecendo no mundo. Foi tão difícil assimilar o que os outros estavam vivendo desde sábado, 7 de outubro. Me senti como se estivesse retornando ao planeta depois de meses longe de tudo e de todos. Não reconhecia mais o meu entorno que havia deixado há apenas alguns dias, tudo parecia mudado. Levei semanas para perceber que, de alguma maneira, fui poupado do choque inicial. Assim como no 11 de setembro de 2001, dia em que o mundo mudou para sempre e vivi cada agonizante instante desse novo formato, o 7 de outubro alterou, mais uma vez, o rumo do mundo. E eu, felizmente para mim, não estava conectado com o mundo. Não consegui sintonizar diretamente com o sofrimento daquela tragédia e isso me fez ver, de uma forma inédita, o risco em que o mundo está prestes a vivenciar. Normalmente sinto as dores do mundo como se fossem mais minhas do que realmente são e isso dificulta um olhar menos polarizado – nós e eles. São muitos elementos para formar a complexidade do que está acontecendo no mundo e o que faz as pessoas reagirem como estão reagindo. A nossa forma de ver as coisas são apenas a nossa forma de ver as coisas. A questão principal é como lidar com nossas dissonâncias cognitivas. Ou seja, acreditávamos numa coisa onde evidências nos mostra que não era bem isso. O que fazemos? Cada um lida da sua maneira e a maioria prefere ignorar que há essa dissonância.  

Mas afinal, qual a minha posição em relação ao ataque do Hamas e os 26 dias de ações decorrentes dele? Me posiciono sabendo que estou longe de ter a visão da complexidade que o tema requer.   Declaro que é apenas meu ponto de vista dentro de uma pequena noção que tenho de todos os elementos envolvidos no assunto.  

O Hamas, e não os Palestinos, promoveram em Israel, no dia 7 de outubro, um ataque terrorista de proporções absurdas sobre qualquer ponto de vista. Foi uma violência gigantesca e acredito que ninguém, minimamente saudável, consiga acreditar que não tenham sido atos de barbaridades desumanas. Acredito que tenha sido uma ação suicida onde, os líderes do Hamas, sabem que serão dizimados como foi com o terror impetrado pelo ISIS (Daesh). A ação teve o objetivo, bem-sucedido por enquanto, de acabar com os encaminhamentos de paz no Oriente Médio, diante da eminência de um acordo de Israel com a Arabia Saudita. A retaliação de Israel, provavelmente planejada e antecipada pelo Hamas é o principal ponto de preocupação pelo futuro imediato do mundo que pode desencadear uma guerra nuclear. Estamos a beira disso. O nome que o Hamas deu a operação deixa evidente sua intenção: al-Aqsa Tufan, al-Aqsa se refere a um conflito em abril de 2022 a uma mesquita em Jerusalém e Tufan significa inundação, provável referência ao dilúvio bíblico que limparia o mundo do pecado quase exterminando a humanidade. Isto posto entro na parte mais sensível da questão. Antes gostaria de dizer que há uma tremenda confusão de quem é quem e quais são as vertentes. Misturam tudo com todos e não conseguem entender as diferenças e sobreposições entre judeus, israelenses, sionistas, árabes, palestinos, muçulmanos, islamistas, Hamas, Hezbollah, Benjamin (Bibi) Netanyahu e nem sabem o nome do presidente de Israel. Israel tem qualidades impressionantes e defeitos, também, impressionantes. Pessoalmente, não entendo como deixaram alguém (Netanyahu) tão prejudicial a Israel, aos judeus no mundo todo e aos palestinos governar, como primeiro-ministro, por tanto tempo. Só agora, esse ano, depois de tantos descalabros parte de Israel acordou para expulsá-lo e mesmo assim, continua lá. Essa é a tragédia dos tempos que estamos vivendo com tantos “loucos” no poder. Putin, Jong, al-Assad, Meloni, Modi, Jinping, Erdogan, Trump, Bolsonaro, Netanyahu, Duterte, Orbán, possivelmente Milei e muitos outros. Para amplificar as tragédias da guerra as informações falsas predominam na mídia. Qualquer informação deveria ser vista com MUITA desconfiança. Um exemplo significativamente destruidor que gerou uma guinada na opinião pública mundial, além de ataques pelo mundo foi a falsa informação de que Israel havia bombardeado e destruído o hospital (Al-Ahli), em Gaza matando 500 pessoas e ferindo muito mais no dia 17 de outubro. Alguns dias depois, análises independentes perceberam que o hospital da Igreja Anglicana, não tinha sido destruído e que uma explosão ocorreu no estacionamento do hospital queimando alguns carros. O resultado é que não se tratava de um ataque de Israel, e provavelmente, uma munição de menor poder de impacto que veio de Gaza. Até agora não há qualquer possibilidade de confirmar o número de feridos e ou mortos. Ou seja, a propagação dessa fake news causou um impacto mundial imediato e a revelação de que era falsa teve pouca visibilidade. Assim caminha a humanidade para mais um passo para maior crise civilizatória dos nossos tempos. Será esse o destino da nossa civilização? Quero também mencionar a carta dos estudantes de Harvard assinada pelo Comitê de Solidariedade a Palestina e coassinada por 33 grupos de estudantes e publicada no dia 8 de outubro de 2023 afirmando, logo na primeira frase, que “responsabilizam inteiramente o regime israelense por toda a violência em curso”. A redigiram no próprio sábado da selvageria desumana. A reação a esse gesto foi muito impactante e levantou muitas questões, entre elas a liberdade de expressão versus a incitação ao terrorismo. O que aconteceu de lá para cá, vale a pena pesquisar para se ter uma ideia do quanto uma ação aparentemente política se transforma num pesadelo de grandes proporções para todos os envolvidos. Por último quero me endereçar à aqueles que ficaram revoltados com a omissão de grande parte das pessoas do seu entorno. Entendo bem essa dor. Não a senti dessa vez porque acredito que é melhor não se manifestar quando não se tem ideia do que está acontecendo. Assim evita ficar replicando as milhares de fake news que poluíram as mídias sociais dos últimos 26 dias. Porém sinto essa dor quando vejo um silenciamento em relação às minhas crenças e valores de que precisamos atuar urgentemente para que meus netos, os filhos e netos deles tenham alguma qualidade de vida. Me dói ver a omissão daqueles que não se solidarizam contra o genocídio dos guardiões das nossas florestas. Me dói saber que a temperatura dos oceanos passou do ponto de não retorno porque houve uma omissão ruidosa daqueles que não quiseram mudar seus hábitos alimentares e continuaram, por exemplo, comendo sushi de atum como se nada estivesse acontecendo. Me dói reconhecer que mesmo entre os ambientalistas, o consumo de proteína animal continua a fazer parte do dia a dia, talvez a maior de suas dissonâncias cognitivas. Me dói sentir a minha própria dissonância em relação ao consumo de plástico. Sinto vergonha de mim mesmo! Portanto me solidarizo com aqueles que sentiram a dor da omissão dos outros em relação às suas crenças e valores –  ao mesmo tempo os convido a refletir sobre se há espaço para mais alguma coisa além de acreditarem que estão do lado certo, do lado do bem, da verdade e do bom.

As falas do Yuval Harari e do Thomas Friedman me parecem as mais próximas do que acredito. Separei algumas entrevistas que recomendo:   

Israel-Hamas War: Piers Morgan vs Yuval Noah Harari (26/10/2023)

Tom Friedman on Israel’s ‘Morally Impossible Situation’ (20/10/2023)

Yuval Noah Harari on the war in the Middle East – Japanese TV interview (19/10/2023)

Só lembrando que a invasão da Rússia na Ucrânia fez hoje 616 dias!

Efemérides

Primeiro de Novembro 2022

Existe uma longa jornada de sabedoria em busca da “verdade” para aqueles que ousam trilhar esse caminho. A jornada começa na aurora da ignorância, passa por milhares de saberes e repousa no ocaso do não precisar mais saber.

O que acontece é que quanto mais sabemos mais percebemos que há muito mais a saber.

Enquanto acreditarmos que existem separações entre esquerda e direita estaremos sujeitos a ilusão ótica de que significam alguma coisa. Nossa mente se abre a necessidade de rotular e cria modelos mentais com definições próprias mais difíceis de serem dissolvidas ou ressignificadas. Com isso somos reféns de crenças e valores adquiridas naturalmente e artificialmente. As adquiridas artificialmente são bem mais numerosas e são fruto, em geral, de manipulações sofisticadas. O conhecimento para fabricar essas manipulações estão cada vez mais em domínio público e ao alcance de um simples algoritmo. Aqueles que acreditam que estão imunes a essas manipulações são os que mais facilmente são controlados por elas. Estamos adormecidos e entorpecidos por essa envolvente vibração que nos leva a não viver a vida. Não viver a vida? Como assim? Pense no que você faz no seu dia a dia, pense no que fez nos últimos meses, nos últimos anos… Pare por alguns momentos a leitura desse texto para refletir sobre a diferença entre “Viver a Vida” e “Levar a Vida”.

Primeiro de Novembro 2021

Hoje é Dia de Todos os Santos, acredito que vamos precisar muito deles além de outras entidades para apoiar as ações de regeneração diante dessa crise civilizatória.

Ontem começou a cúpula da COP26 e hoje tivemos uma abertura absolutamente emocionante e gerando, em mim, muita esperança… esperança do verbo esperançar.

O ponto alto foi a fala do David Attenborough, 95 anos, que convocou a todos para uma recuperação maravilhosa das mudanças climáticas. O mais querido e conhecido ativista ambiental do planeta discursou para uma audiência de líderes mundiais — incluindo Joe Biden, Angela Merkel e Boris Johnson — dizendo que deveria ser possível trabalhar juntos para salvar a humanidade. Cada frase sua foi de grande impacto. Destaco três delas:

“Em minha vida, testemunhei um declínio terrível. Na sua, você poderia — e deveria — testemunhar uma recuperação maravilhosa.”

“Hoje, aqueles que menos fizeram para causar este problema estão sendo os mais atingidos — em última análise, todos nós sentiremos os impactos, alguns dos quais agora são inevitáveis.”

“As pessoas que vivem agora, que são a geração futura, olharão para esta conferência e considerarão uma coisa que esse número parou de aumentar e começou a cair como resultado das decisões tomadas aqui?”

O filme “Earth to COP” foi eficaz em seu objetivo de levar consciência aos participantes e a audiência mundial.

A nossa ativista indígena Txai Suruí, também, discursou na abertura da COP26 desta manhã (no Brasil). Ela é uma jovem ativista de 24 anos e mora no estado de Rondônia, Brasil. Ela é do povo Paiter Suruí e fundadora do Movimento da Juventude Indígena em Rondônia.

Primeiro de Novembro 2020

O mês de outubro reforçou ainda mais a ideia de que a pandemia está ajudando a ressignificarmos praticamente tudo. Já caminhávamos numa crise civilizatória onde a economia, educação, medicina, ecologia, política e até mesmo a religião estavam (e estão) nos levando para a destruição do que conhecemos hoje como sociedade humana. Então… como fazer? Ninguém sabe as respostas ainda. Um olhar sistêmico e um desprendimento às nossas crenças atuais ajudam muito. Entre essas crenças estão os nossos preconceitos e os pré-conceitos que precisaríamos suspendê-los temporariamente até conseguirmos rever… tudo! A complexidade exige que ao mexer em qualquer ponto, o todo é afetado. Se soubermos — de verdade — que somos interdependentes como humanos, como seres vivos, como habitantes desse planeta será muito, muito mais fácil.

Outubro também reforçou a fraude do sistema educacional, está cada vez mais difícil acreditar nele. O formato de aulas virtuais está fazendo alunos, professores e pais se perguntarem o que querem da Educação, o que querem da Aprendizagem. Na grande maioria das escolas… não está rolando! Não está razoável para ninguém. Chegou a hora de parar com isso e, juntos, com transparência, buscar uma nova educação. Talvez até já tenha passado da hora.

Primeiro de Outubro de 2023

Só sei que nada sei ou não sei que nada sei?

O mês de setembro, no Brasil, foi o setembro mais quente de que se tem notícia! Esses últimos meses foram os mais quentes do planeta desde 1880 quando se iniciou a medição. Imagino a vergonha que devem sentir os filhos e netos daqueles que ainda acreditam de que as mudanças climáticas não tem uma forte influência humana. Ridículo!  

Rajendra Singh, o Homem Água da Índia, esteve no Brasil visitando alguns projetos de cuidadores da água e participou da Virada Sustentável num encontro histórico com a Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Esteve acompanhando o Rajendra, Martin Winiecki da comunidade de Tamera em Portugal. Logo nos primeiros dias se reuniu com jovens ativistas de diversas comunidades no SENAC Jabaquara, que tem uma forte pegada na sustentabilidade. Esteve, no dia mundial da PAZ, no Centro de Experimentos Florestais da SOS Mata Atlântica onde conheceu um dos principais projetos de recuperação de água através da restauração dos ecossistemas da Mata Atlântica. Retorno de nascentes, florestas e o aumento de animais da região. Bem dentro do que Rajendra fez na Índia e está fazendo no mundo. Aprendeu, com a Malu Ribeiro e a equipe da SOS, os desafios vividos nos 14 anos de existência desse projeto. Entendeu que o bioma da Mata Atlântica, por ter conquistado uma lei própria tem mais recursos para sua preservação. Se surpreendeu que a Amazonia e os outros biomas do Brasil ainda não têm. Conheceu, também, o Rio Tietê em Itu e assistiu a uma coleta e medição da qualidade de suas águas. Ficou surpreso e feliz de saber que a deputada Marina Helou apresentou um projeto de lei para transformar o rio Tietê em um rio sujeito de direitos, para garantir a saúde e equilíbrio do seu ecossistema. Estávamos na semana do rio Tietê e a SOS Mata Atlântica realizou diversas importantes atividades, principalmente no SESC Pompéia. Foi lançado, nessa mesma semana, o relatório “Observando o Tietê 2023” é um documento precioso do monitoramento da SOS. Para finalizar a visita em Itu, no Dia Nacional da Árvore, Rajendra Singh conheceu um Jequitibá Rosa na belíssima Estrada Parque. De volta a São Paulo se encontrou com Edgard Gouveia Jr e conheceu suas peripécias pelo engajamento de comunidades no mundo todo e o lançamento de mais uma Jornada X. Conheceu o sucesso da Primavera X, a Gincana Nacional de Cuidado com as Águas! Ambos ficaram emocionados com o encontro. Para fechar com chave de ouro esse dia 21 de setembro, também Dia Mundial da Gratidão, recebemos a maravilhosa notícia de que o Marco Temporal foi considerado inconstitucional pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por 9 votos a 2. Muita alegria!  

Relatório “Observando o Tietê 2023” https://cms.sosma.org.br/wp-content/uploads/2023/09/SOSMA-2023-Observando-o-Tiet%C3%AA.pdf

No dia seguinte de manhã, Rajendra gravou uma conversa, no Parque do Trianon em São Paulo, com o cineasta Caio Ferraz. Caio, um forte ativista na questão da água, estava “em casa” com o Homem Água da Índia. Deverá ser mais um desses filmes que muda a nossa perspectiva em relação a água como foi a websérie “Volume Vivo” ou o média-metragem “Entre Rios”.          

Projeto Volume Vivo – https://www.youtube.com/c/ProjetoVOLUMEVIVO

À tarde, do dia 22 de setembro, foi um dos momentos mais emocionantes da sua viagem. No palco da Unibes Cultural durante a Virada Sustentável de São Paulo, Rajendra Singh e Marina Silva se encontraram diante de um auditório lotado. Os dois estão na lista das 50 Pessoas que podem Salvar o Planeta do “The Guardian”. Marina acabara de desembarcar de sua viagem à Nova York, onde ocorreu a Assembleia Geral da ONU e a Semana do Clima. Sua participação nos EUA foi muito importante e amplamente coberta pela mídia nacional e internacional. Na primeira meia hora Rajendra, subiu sozinho ao palco e contou sua saga de regeneração da água na Índia. Foram mais de 10.000 km2 de desertos e semidesertos que voltaram a ficar verdes e com água mesmo nos períodos de seca. O que parecia ser uma tarefa impossível, Rajendra através de uma gestão descentralizada e comunitária da água local, com conhecimentos e sabedorias indígenas, construiu em regime de mutirão, milhares de estruturas que recuperaram as nascentes, filtraram a água da chuva para os aquíferos que devolveram aos poços que estavam secos, a tão valiosa água. Riachos e rios voltaram a fluir novamente, a vegetação se recuperou e a vida voltou para cada uma dessas regiões. Rajendra encantou o público com a sua paixão pela água e sua otimista visão de futuro. Encerou dizendo “O amor e o respeito pela natureza estão realmente mostrando o caminho para os desafios do século 21. Se quisermos um bom futuro comum e melhor para todos, só podemos começar com amor. Amor pelas águas, amor pelo ar e amor pelo sol, que é a fonte da vida”.

Quando Rajendra desceu do palco, os aplausos que diminuíam voltaram a fazer barulho com Marina subindo ao palco. Ouviam-se gritos e assobios de alegria por ela estar lá… na Virada Sustentável, no Ministério, no Meio Ambiente, no Mundo e principalmente por ela ser quem ela é! Começou dizendo que “Diante de Rajendra, tão apaixonado pela água, eu, uma apaixonada pelas florestas, sinto que há uma forte conexão entre nós. Água e floresta são inseparáveis. Eu sinto aqui que a gente é uma comunidade de pensamento. E quanto mais a gente estiver conectado nessa frequência, mais estaremos fazendo o que o mundo precisa.”

Foi uma fala revigorante e de muita esperança, dava para sentir o público vibrar a cada frase. Disse que “Há esperança. Mas a esperança não pode ser uma esperança vã.

“A gente tem que colocar em jogo agora nossa capacidade de acreditar. Mas não é uma crença ingênua. É a nossa capacidade de acreditar, criando, fazendo a nossa parte.”

Para última parte do encontro, Rajendra voltou ao palco com a Marussia Whately do IAS (Instituto Água e Saneamento) que mediou a conversa entre os dois. Rajendra disse: “Estou muito, muito feliz porque já ouvi na minha vida mais de 100 ministros do meio ambiente neste mundo, mas Marina Silva fala com a sabedoria e ciência.”

Apesar de ser a primeira vez que se encontram, Marina disse que pareciam se conhecer de longa data por terem ideias e propósitos de vida em comum. Marina e Rajendra falaram do estado atual das mudanças climáticas no mundo, do qual estão bem a par, e da esperança nas iniciativas da sociedade civil que farão a grande diferença para a construção do futuro.

Esse encontro entre Marina Silva e Rajendra Singh foi promovido pela Virada Sustentável e teve como anfitrião a Fundação Rede Brasil Sustentável.

Rajendra se encantou com a Virada Sustentável e sua imensa programação. Disse que é o maior “Sustainable Festival” de quem notícia! Pontos para o Brasil! O próximo será em novembro em Belém!

Virada Sustentável São Paulo: https://www.viradasustentavel.org.br/cidade/sao-paulo

No sábado Rajendra Singh e Martin Winiecki foram convidados pelo IAS (Instituto Água e Saneamento) para acompanhá-los na Guarapiranga. Não participei.

No domingo foi um dia de passeio pelas atividades da av. Paulista fechada para o trânsito e aberta para a cultura. Visitamos o MASP e o Museu Moreira Sales onde almoçamos no restaurante de lá, o Balaio. Degustamos uma entrada de mandioca crocante e depois uma moqueca de caju e cogumelos com salsa de tucupi preto.

Na segunda, também não os acompanhei numa visita a um espaço do MTST.

Próximos passos:

O Martin Winiecki, que acompanha o Rajendra Singh há 11 anos e implementou sistemas de regeneração de água em Tamera (Portugal) vai nos orientar a criar esse hub no Brasil. Eu (Alan Dubner) e o Claudio Miranda (Instituto Favela da Paz) vamos incorporar as pessoas e instituições que já se interessaram e outras que ainda podem vir a se interessar em criar essa empreitada no Brasil. Rajendra Singh deve retornar ao Brasil no próximo ano!  

Satish Kumar – hoje participei de um encontro virtual maravilhoso com o Satish Kumar sobre o livro “Radical Love” (Amor Radical). No final disse que recebemos tanta coisa boa da nossa ancestralidade e precisamos deixar boas coisas para as próximas gerações. Não adianta apenas concordar ou pensar no que deve ser feito. É preciso fazer! É preciso fazer ações! Não basta falar é preciso ser ativista, ativista que tenha Amor Radical. O movimento precisa vir da sociedade civil de baixo para cima, sem esperar que governos ou outras instituições compareçam. Ao responder uma pergunta relacionada às crianças mencionou uma poesia do Khalil Gibran

“Teus filhos não são teus filhos. São filhos e filhas da vida, anelando por si própria. Vem através de ti, mas não de ti. E embora estejam contigo, a ti não pertencem. Podes dar-lhes amor, mas não teus pensamentos, pois eles têm seus pensamentos próprios. Podes abrigar seus corpos, mas não suas almas, pois suas almas residem na casa do amanhã, que não podes visitar-se quer em sonhos. Podes esforçar-te por te parecer com eles, mas não procureis fazei-los semelhante a ti, pois a vida não recua, não se retarda no ontem. Tu és o arco do qual teus filhos, como flechas vivas, são disparados. Que a tua inclinação na mão do arqueiro seja para alegria.”

Está sendo produzido um documentário biográfico de Satish Kumar “Amor Radical” e programando sua vinda ao Brasil. Criaram um crowdfunding para ajudar nessa empreitada. Já colaborei no https://apoia.se/amorradical

585 dias da invasão Russa na Ucrânia – Será que ainda sentimos alguma coisa? Você se lembra do que sentiu em fevereiro de 2022? E um ano depois em fevereiro de 2023. E agora?

Energia Limpa ou Sustentável?

Acredito que o termo “energia limpa” não deveria mais ser usada porque leva a uma falsa percepção de que não há pegadas socioambientais. É preciso um olhar sistêmico para entender o que está em jogo na transição energética e porque estamos vivendo uma crise energética. Devemos dizer “energia sustentável”, o que também precisa ser visto caso a caso e evitar acreditar de que não há pegadas ecológicas. O que não podemos é cair nas armadilhas de manipulação da nossa percepção. Um exemplo grosseiro é o que, em agosto de 2021, o Ministério de Minas e Energia apresentou como “Programa para Uso Sustentável do Carvão Mineral Nacional”… carvão mineral sustentável????  Todas as pessoas envolvidas nesse absurdo deveriam ser presas ou internadas num manicômio. Para piorar, foi apresentado no mesmo dia que o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), da ONU, que mostrou os números alarmantes produzidos e certificados pelos principais cientistas do mundo. O mesmo está ocorrendo para os combustíveis fósseis, enquanto o mundo deveria caminhar aceleradamente para uma transição, tem gente no Brasil defendendo a exploração de Petróleo na foz do Amazonas. Isso não é uma polêmica, é um fato científico. Sei que ainda tem algumas pessoas que acreditam, apesar das evidências, que a Terra é plana ou que a mudança climática não tem interferência humana, mas o pior são aqueles que sabem da verdade e pregam propositadamente mentiras bem elaboradas a serviço de qualquer coisa menos o bem estar e sobrevivência da população. Um desses propagadores profissionais disse, no dia 4 de setembro na CPI das ONGs no senado, “… o pessoal do Sul, Rio Grande do Sul não vai ter o excesso de água que é a característica de El Niño”. Esse imbecil que declarou essa bobagem (tem gente que acredita nele) um dia antes de começar a maior enchente da história do Rio Grande do Sul. Tem outros como ele soltos por aí!

A International Energy Agency (Agência Internacional de Energia) atualizou seu relatório, agora em setembro, mostrando que os números de emissões de CO2 cresceram 

https://www.iea.org/reports/net-zero-roadmap-a-global-pathway-to-keep-the-15-0c-goal-in-reach

Algumas menções desse relatório:

“O caminho para 1,5 °C estreitou-se, mas o crescimento da energia limpa o está mantendo aberto.”

“A defesa pela transformação do sistema energético global de acordo com o objetivo de 1,5 °C nunca foi tão forte. Agosto de 2023 foi, por uma larga margem, o mês mais quente até hoje, e o mês anterior mais quente desde sempre foi julho de 2023. Os impactos das alterações climáticas são cada vez mais frequentes e graves, e os alertas científicos sobre os perigos do caminho atual tornaram-se mais fortes do que nunca.”

“As emissões globais de dióxido de carbono (CO2) provenientes do setor energético atingiram um novo recorde de 37 mil milhões de toneladas (Gt) em 2022, 1% acima do seu nível pré-pandemia, mas deverão atingir o seu pico nesta década. A velocidade da implementação de tecnologias-chave de energia limpa significa que a IEA prevê agora que a procura de carvão, petróleo e gás natural atingirá o seu pico nesta década, mesmo sem quaisquer novas políticas climáticas. Isto é encorajador, mas não é suficiente para atingir a meta de 1,5 °C.”

“Os desenvolvimentos positivos nos últimos dois anos incluem instalações solares fotovoltaicas e acompanhamento de vendas de carros elétricos, em sintonia com os marcos estabelecidos para eles no nosso relatório (2021) Net Zero até 2050. Em resposta à pandemia e à crise energética global desencadeada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, governos de todo o mundo anunciaram uma série de medidas destinadas a promover a adoção de uma série de tecnologias de energia limpa. A indústria está crescendo rapidamente para fornecer muitos deles. Se forem totalmente implementadas, as expansões da capacidade de produção atualmente anunciadas para energia solar fotovoltaica e baterias seriam suficientes para satisfazer a procura até 2030 nesta atualização do Cenário Net Zero (NZE Net Zero Emissions by 2050) .”

“Aumentar as energias renováveis, melhorar a eficiência energética, reduzir as emissões de metano e aumentar a eletrificação com as tecnologias disponíveis atualmente proporcionam mais de 80% das reduções de emissões necessárias até 2030. As principais ações necessárias para curvar acentuadamente a curva de emissões até 2030 são bem compreendidas, na maioria das vezes económicas e estão a ocorrer a um ritmo acelerado. A expansão da energia limpa é o principal fator subjacente a um declínio da procura de combustíveis fósseis superior a 25% nesta década no Cenário NZE. Mas políticas bem concebidas, como a reforma antecipada ou a reorientação de centrais eléctricas alimentadas a carvão, são fundamentais para facilitar a diminuição da procura de combustíveis fósseis e criar espaço adicional para a expansão da energia limpa. No Cenário NZE, o forte crescimento da energia limpa e outras medidas políticas, em conjunto, levam a que as emissões de CO2 do setor energético caiam 35% até 2030, em comparação com 2022.”

Essa semana me pediram para escrever sobre o Hidrogênio como fonte de Energia e percebi o quanto o público em geral conhece muito pouco sobre o assunto. Muito menos sobre as diversas formas de obter essa energia. Se estamos falando de um potencial substituto dos combustíveis fósseis, é muito importante conhecer para não cair nas desinformações tão comuns quando se trata de energia sustentável.   

Nos últimos anos, tem havido um interesse renovado no hidrogênio, principalmente devido à necessidade urgente de descarbonizar setores como a indústria e o transporte. Países e empresas em todo o mundo estão investindo em pesquisa, desenvolvimento e implantação de tecnologias baseadas em hidrogênio para aproveitar seu potencial como vetor energético limpo.

O Hidrogênio como fonte de Energia é uma das possibilidades mais instigantes e misteriosas na história das energias da nossa humanidade. Do fogo à eletricidade, passando pela fissão nuclear, o Hidrogênio é o elemento mais abundante no universo e, quando usado como combustível, seu único subproduto é a água. É preciso conhecer esse admirável novo mundo do Hidrogênio e a necessária visão sistêmica para entender por que mais de 200 anos da descoberta dessa incrível fonte de energia ainda é vista como sendo do futuro.

O Hidrogênio como fonte de energia foi inicialmente descoberto no início do século XIX, durante o século XX houve um incremento nas pesquisas que resultaram em soluções práticas aplicáveis. Desde a década de 1960, a NASA tem usado células a combustível de hidrogênio em missões espaciais, onde o hidrogênio e o oxigênio líquidos reagem para fornecer eletricidade para os veículos espaciais, com a água como subproduto sendo usada pelos astronautas. Nos anos 70, especialmente após a crise do petróleo, houve um interesse renovado em fontes alternativas de energia, incluindo o hidrogênio. Investigações intensivas foram conduzidas em células a combustível, produção, armazenamento e distribuição de hidrogênio. A célula de hidrogênio, conhecida também como célula a combustível, é uma tecnologia que utiliza a combinação química dos gases hidrogênio e oxigênio para gerar energia elétrica e moléculas de água. A energia do hidrogênio deriva da reação química em que o hidrogênio é combinado com oxigênio para produzir água, liberando energia no processo.

Vantagens do hidrogênio como fonte de energia:

Emissão zero de carbono: Quando o hidrogênio é usado como combustível em uma célula a combustível, ele se combina com oxigênio para produzir eletricidade, emitindo apenas água como subproduto. Isso significa que não há emissões de gases de efeito estufa no ponto de uso.

Alta densidade energética: Por peso, o hidrogênio tem quase três vezes a densidade energética da gasolina. Isso o torna particularmente atraente para aplicações onde o peso é crucial, como na aviação.

Flexibilidade: O hidrogênio pode ser produzido a partir de várias fontes primárias de energia, incluindo gás natural, energia nuclear e energia renovável, o que o torna versátil em termos de produção.

Armazenamento de energia: O hidrogênio pode funcionar como um meio de armazenamento de energia, permitindo que a energia renovável intermitente (como a solar ou eólica) seja armazenada e utilizada posteriormente.

Desafios e considerações:

Eficiência e custo: A produção, transporte e armazenamento de hidrogênio podem ser energeticamente intensivos. O método predominante de produção de hidrogênio – a reforma a vapor do gás natural – emite uma quantidade significativa de CO2. No entanto, técnicas de produção mais ecológicas, como a eletrólise da água alimentada por energia renovável, ainda são mais caras.

Armazenamento e distribuição: O hidrogênio tem baixa densidade energética por volume, o que significa que precisa ser armazenado sob alta pressão ou a temperaturas muito baixas. Isso apresenta desafios tanto em termos de infraestrutura quanto de eficiência energética.

Segurança: Embora o hidrogênio seja geralmente seguro quando manipulado corretamente, ele é inflamável e requer precauções específicas de segurança durante o armazenamento, transporte e utilização.

Infraestrutura: A adoção em larga escala do hidrogênio como fonte de energia requereria um investimento significativo em infraestrutura, como estações de reabastecimento e redes de distribuição.

Produção de Hidrogênio:

Eletrolítico: Usando eletricidade para dividir a água em hidrogênio e oxigênio através da eletrólise. Se a eletricidade for derivada de fontes renováveis, o hidrogênio produzido é considerado “verde”.

A partir do gás natural: Através do processo de reforma a vapor, o metano é convertido em hidrogênio e dióxido de carbono. Este é o método predominante atualmente, mas resulta em emissões de CO2.

A partir de fontes biológicas: Bactérias e algas podem produzir hidrogênio através de processos biológicos.

Células a Combustível: Dispositivos que convertem o potencial químico do hidrogênio e de um agente oxidante, geralmente oxigênio, diretamente em eletricidade. São consideradas uma opção promissora, especialmente para veículos.

Armazenamento e Distribuição: O hidrogênio é um gás de baixa densidade, o que apresenta desafios para seu armazenamento e transporte. Pode ser armazenado sob alta pressão em cilindros, como líquido em temperaturas muito baixas ou em materiais sólidos que podem “absorver” o hidrogênio.

Aplicações no Transporte: Carros, ônibus, trens e até aviões alimentados por células a combustível.

Energia: Usado em turbinas para geração de eletricidade ou armazenado para uso em períodos de alta demanda.

Indústria: Como matéria-prima em vários processos industriais.

Embora o hidrogênio tenha um grande potencial como fonte de energia limpa, a transição para uma economia do hidrogênio requer avanços tecnológicos, redução de custos e desenvolvimento de infraestrutura. No entanto, dada a necessidade urgente de soluções de energia sustentável para combater as mudanças climáticas, o interesse e o investimento no hidrogênio como fonte de energia estão crescendo rapidamente em todo o mundo.

A origem da energia do hidrogênio está na sua capacidade de combinar-se com o oxigênio, liberando energia no processo. Essa reação é a base das células a combustível e da combustão direta do hidrogênio. O conceito fundamental é que, quando o hidrogênio (H₂) reage com o oxigênio (O₂), forma-se água (H₂O) e libera-se energia. Esta reação é exotérmica, o que significa que ela libera energia sob a forma de calor.

Combustão Direta: O hidrogênio pode ser queimado diretamente em uma chama, semelhante à forma como queimamos gás natural ou gasolina. Quando o hidrogênio é queimado, ele se combina com o oxigênio do ar para formar água, liberando uma grande quantidade de energia no processo. Essa energia pode ser usada para gerar calor ou para impulsionar turbinas e motores.

A capacidade do hidrogênio de liberar energia ao reagir com o oxigênio é a base de seu potencial como portador de energia. No entanto, é importante notar que o hidrogênio não é uma fonte primária de energia por si só; ele é um vetor energético. Isto significa que o hidrogênio precisa ser produzido a partir de outras fontes de energia, sejam elas fósseis (como o gás natural) ou renováveis (como energia solar ou eólica através da eletrólise da água). O valor do hidrogênio como um portador de energia está na sua capacidade de armazenar energia, transportá-la e liberá-la quando necessário, de forma limpa (sem emissões de carbono quando utilizado).

E as cores?

As “cores” associadas à produção de hidrogênio referem-se às metodologias e origens energéticas utilizadas para produzir o hidrogênio e ao impacto ambiental resultante. Essas designações ajudam a entender a pegada de carbono e o quão sustentável é a produção de um determinado hidrogênio. Aqui estão as cores mais comumente referenciadas e seus significados:

Hidrogênio Cinza:

Origem: Produzido principalmente a partir do gás natural através do processo de reforma a vapor.

Impacto Ambiental: Este método resulta em emissões significativas de CO2 porque o metano (CH4) no gás natural é convertido em hidrogênio e dióxido de carbono.

Hidrogênio Azul:

Origem: Também produzido a partir de combustíveis fósseis, semelhante ao hidrogênio cinza.

Impacto Ambiental: A diferença-chave é que as emissões de CO2 resultantes são capturadas e armazenadas através da tecnologia de captura e armazenamento de carbono (CAC), reduzindo as emissões totais.

Hidrogênio Verde:

Origem: Produzido através da eletrólise da água, onde a água é dividida em oxigênio e hidrogênio usando eletricidade.

Impacto Ambiental: Se a eletricidade usada no processo for gerada a partir de fontes renováveis, como solar, eólica ou hidrelétrica, o hidrogênio produzido é essencialmente livre de carbono. Por isso, é chamado de “verde”.

Hidrogênio Turquesa:

Origem: Produzido a partir da pirólise do metano, um processo que quebra o metano em hidrogênio e carbono sólido.

Impacto Ambiental: Como o carbono é capturado na forma sólida (geralmente como grafite) e não é emitido para a atmosfera como CO2, este método tem potencial para ser mais limpo do que a reforma a vapor tradicional. Pode ser uma opção sustentável, mas a tecnologia ainda está em estágios iniciais de desenvolvimento.

Hidrogênio Branco (também chamado de Hidrogênio Natural):

Origem: Encontrado em sua forma natural não necessitando de qualquer sistema de produção. É o Hidrogênio mais sustentável de todos!

Impacto Ambiental: Não se sabe muito sobre o hidrogênio branco, com pesquisas em andamento. Em sua produção, são geradas poucas emissões de carbono. Mas, tal como o hidrogénio rosa, pode haver outros impactos ambientais.

Hidrogênio Rosa:

Origem: Este é um termo menos comum, referindo-se ao hidrogênio produzido por eletrólise alimentada por energia nuclear.

Impacto Ambiental: Dependendo das perspectivas sobre a energia nuclear, ele pode ser visto como de baixo carbono, embora haja outras preocupações ambientais e de segurança associadas à energia nuclear.

Hidrogênio Amarelo:

Origem: Produzido por eletrólise gerado com energia solar.

Impacto Ambiental: fonte de energia totalmente livre de emissão de carbono.

Hidrogênio Preto:

Origem: Obtido a partir da gaseificação do carvão. O hidrogênio preto provém do carvão betuminoso.

Impacto ambiental: Como o hidrogênio cinza, tem uma pegada de carbono alta, com emissões significativas de CO2 e ao uso do carvão como matéria-prima.

Hidrogênio Marrom:

Origem: Obtido a partir da gaseificação do carvão. O hidrogênio preto provém do carvão lignito (baixa qualidade).

Impacto ambiental: Como o hidrogênio cinza, tem uma pegada de carbono alta, com emissões significativas de CO2 e ao uso do carvão como matéria-prima.

Hidrogênio Verde-Amarelo:

Origem: Sendo considerado um processo brasileiro de produção por eletrólise gerado com energia de biogás e etanol. Ainda não está totalmente definido esse caminho de transição energética dos combustíveis fósseis para o Hidrogênio Verde-Amarelo.

Impacto Ambiental: produção mais sustentável, porém com uma pegada variada dependendo dos processos de obtenção do biogás e do etanol.

Essas designações de cores ajudam a diferenciar as diversas formas de produção de hidrogênio em termos de seus impactos ambientais e pegadas de carbono. À medida que a sociedade se move em direção a soluções de energia mais limpa, a produção de hidrogênio sustentável é vista por muitos como uma das chaves para uma boa transição energética.

Com tudo isso encerro o texto de hoje repetindo a frase inicial:

Só sei que nada sei ou não sei que nada sei?

Primeiro de Setembro 2023

Floresta Viva ao invés de só Floresta em Pé!

O verão nos EUA e Europa, as queimadas (Canadá, Havaí, Grécia). Inverno de 40 graus no Brasil? Era da Ebulição! Emergência Climática!

“Os dados mais recentes sobre incêndios florestais confirmam o que há muito temíamos: os incêndios florestais estão a tornar-se mais generalizados, queimando hoje quase o dobro da cobertura arbórea do que há 20 anos.” https://www.wri.org/insights/global-trends-forest-fires

A semana de 4 a 11 de setembro em Belém reunião, pela primeira vez, o equivalente a mais da metade das florestas no mundo. Além dos 8 países que formam a floresta Amazônica estavam presentes as duas Repúblicas do Congo e a Indonésia. Durante os oito dias foram mais de 400 eventos paralelos com muita relevância para o atual contexto de mundo. Acredito que algo mudou, que algo emergiu, que ações reais serão realizadas ao invés de declarações vazias. Com certeza um marco para o ano de 2023!

 A questão do petróleo na Foz do Amazonas é a mais sensível de todas. Primeiro porque o atual governo vem se declarando mais progressista e sustentável. Recebendo elogios e negócios do mundo todo. Depois porque a Colômbia e principalmente o Equador (com o referendo) estão tomando a frente de uma pauta que é do Brasil, deixar isso escapar pelos dedos é um erro socioeconômico que vai gerar grandes prejuízos ao país desnecessariamente. A questão dos subsídios para os combustíveis fósseis, vão cair no mundo todo num tempo menor do que se espera.

Estão enganando a população do Brasil e principalmente do Amapá fazendo-os acreditar que terão algum benefício. Assim como a Hidroelétrica de Belo Monte fez a população acreditar que haveria algum benefício para o país e principalmente para o entorno. Hoje, todos sabem, que isso não aconteceu. Por que não se menciona que qualquer retorno financeiro, da extração do Petróleo na Foz do Amazonas, só virá daqui muitos anos? Será que ainda estaremos extraindo mais Petróleo?  Comparando a questão técnica do petróleo na Foz do Amazonas com a questão técnica (que foi ignorada) de Belo Monte. Nos dois episódios os ministros das Minas e Energia ignoraram as implicações técnicas. Belo Monte foi um desastre gigantesco (previsto) em todas as áreas… será que repetiremos esse erro grosseiro?

Estão usando um bordão bem antigo: o Petróleo é nosso! Nosso quem cara pálida? Colômbia e Equador já se anteciparam e mostraram quem vai liderar o assunto na América do Sul.  Fico pensando que se fizermos um referendo no Brasil, qual seria o resultado? Alguém tem dúvida? Triste, né?

“Sabemos produzir energia limpa, por que insistir em energia fóssil?” Marina Silva

A COP28 está desviando as atenções da extinção dos combustíveis fósseis (caso ainda exista algum interesse que a humanidade exista) para a segurança alimentar. Será que vão expor a realidade da indústria da proteína animal? Dos agrotóxicos? Desvio interessante!

Recomendações de leituras:

Declaração de Belém ignora fósseis e não traz meta para desmate zero – https://www.oc.eco.br/declaracao-de-belem-ignora-fosseis-e-nao-traz-meta-para-desmate-zero/

Carta dos Povos Indígenas da Bacia da Amazônia aos presidentes – https://apiboficial.org/2023/08/07/carta-dos-povos-indigenas-da-bacia-da-amazonia-aos-presidentes/

Países florestais formam bloco para negociar nas COPs – https://www.oc.eco.br/paises-florestais-formam-bloco-para-negociar-nas-cops/

Sociedade pede fim do petróleo na Amazônia, mas deve ser ignorada em cúpula de presidentes – https://apublica.org/2023/08/sociedade-pede-fim-do-petroleo-na-amazonia-mas-deve-ser-ignorada-em-cupula-de-presidentes/

O ‘negacionismo progressista’ que nos governa –https://sumauma.com/negacionismo-progressista-que-nos-governa/

Bioeconomia – muita confusão sobre o conceito. A confusão não é só no Brasil, no mundo também tem confusão. Produção de Etanol não é bioeconomia, uma enorme parte do agrobusiness, também, não é bioeconomia. 100% da economia atual é 100% dependente da Natureza!

O movimento de sustentabilidade tem mais de uma centena de anos e os pioneiros são muito pouco conhecidos como Alexander Von Humboldt, entre outros. De alguma forma convencionou-se de considerar o marco inicial com a publicação de Primavera Silenciosa de Rachel Carson em 1962. Ela não foi a primeira a revelar questões que levariam a humanidade à insustentabilidade, o seu maior valor é por ter sido uma escritora bem conhecida a revelar o envenenamento da nossa comida, do solo e da saúde dos agricultores. Se não fosse por isso, sua denúncia não causaria desconforto às gigantes dos agrotóxicos. A questão emergiu de tal forma que a ONU se viu obrigada a fazer, em 1972, a primeira conferência (Estocolmo) que inaugurou os encontros, documentos, estudos e acordos que acontecem frequentemente hoje. Em 1987 tivemos dois marcos maravilhosos, primeiro foi o sucesso do Protocolo de Montreal (setembro) agindo diretamente para proteger a camada de Ozônio e o segundo foi a publicação do Relatório Brundtland “Nosso futuro comum” (outubro) que revelou a certeza de que vivemos uma crise civilizatória global com pouco tempo para reverter as consequências. Parecia que o mundo acordara e que os países iriam tomar medidas eficazes contra o que nos afligia. A Rio92 foi um marco para a sustentabilidade que imbuída de 20 anos de estudos aprofundados e questionamentos quanto aos caminhos do desenvolvimento sustentável. Ninguém poderia prever que nos encontraríamos onde nos encontramos hoje, nem o mais pessimista dos pessimistas acreditaria que na terceira década do século XXI teríamos escolhido rumar à extinção. Logo depois, ainda no século XX, publicamos A Carta da Terra, tendo sua ideia concebida durante a Rio 92 e com um trabalho maravilhoso de figuras importantes que ao longo de 8 anos criaram a nossa constituição como humanidade. Fico triste ao perceber que poucos a conhecem e muito poucos sabem o que ela diz. Mesmo o Protocolo de Kyoto (elaborado 1997) que deveria ter sido uma força tarefa para reduzir as emissões de gases de efeito estufa… não deram em alguma coisa boa como o Protocolo de Montreal. Tristeza quanto aos resultados das aguardadas COP 15 (2009/Copenhagen), Rio+20 (2012/Rio) e COP 21 (2015/Paris). As últimas três COPs e a Stockhol+50 nem se fala e a próxima COP está fadada a se desviar das questões mais relevantes como os combustíveis fósseis. E cá estamos há 60 anos da primeira Conferência que deveria reverter a crise a civilizatória, agindo como se nada estivesse acontecendo. De forma inacreditável ainda se pensa em extrair petróleo na foz do Amazonas! Oi???? R$ 335 bilhões de subsídios brasileiros para petróleo e gás! Oi???? Ainda se extrai carvão mineral! Oi???? Ainda se usa agrotóxicos em nossa comida! Oi???? Ainda se desmata a floresta Amazônica para a indústria da proteína animal! Oi???? Ainda se patrocina o genocídio para dar lugar ao garimpo ilegal! Oi??? Chega, né?

Vem aí, nesse mês, a Cúpula de Ambição Climática da ONU em Nova York!

“Ainda estamos nos movendo na direção errada. A meta de 1,5ºC está ofegante. Os planos climáticos nacionais estão ficando terrivelmente aquém. E, no entanto, não estamos recuando, estamos revidando”. “Será uma cúpula sem declarações sem sentido! Sem exceções!” António Guterres (Secretário Geral da ONU)

Só lembrando que a invasão Russa na Ucrânia completa hoje 555 dias.

Efemérides

Setembro de 2022

“Amanhã, 2 de setembro, a independência do Brasil fará 200 anos. Sim, a independência do Brasil foi decretada no dia 2 de setembro de 1822. Quem decretou a independência não foi D.Pedro I e sim a princesa Maria Leopoldina (austríaca). D. Pedro I só foi informado da independência cinco dias depois. O pintor Pedro Américo, 66 anos depois da independência, pintou um quadro (fake news) retratando o inexistente Grito do Ipiranga, a pedido de D. Pedro II. A falsa narrativa morou por muitos anos nos livros de história do Brasil. O coração de D. Pedro I veio ao Brasil (cena ridícula) para celebrar os 200 anos da independência, enquanto quem realmente a decretou está aqui sepultada sob o Monumento à Independência em São Paulo. D. Pedro I, sem o coração, também está sepultado no mesmo local que Maria Leopoldina.”

Setembro de 2021

“Pense um pouco em qual repertório de palavras e ideias suas causam desconforto ou até reações violentas contra você. Eu tenho muitas. Por favor, tenha uma escuta generosa! O voto vai contra a democracia! Comer animais é um dos principais problemas ambientais! Ler jornal é perda de tempo! Só essas três já me causam constrangimentos. Ao ouvir uma palavra ou ideia que vai contra suas crenças e valores, você reage conforme a possibilidade (maior ou menor) de lhe causar uma disrupção, uma dissonância cognitiva. Quando escuto afirmarem que a Terra é plana, que apareceu um disco voador, que é justo o que ganha uma estrela do futebol, que o aquecimento global é natural, são ideias que me causam repulsa e até um julgamento mais agressivo. No entanto posso estar enganado. Aqui no Brasil, palavras e ideias que mais causam violência estão principalmente na religião, política, futebol, preconceitos, educação e tudo que se relaciona ao Coronavírus. Vamos nos arriscar a falar das vacinas, das máscaras, do isolamento físico e até mesmo da cloroquina? Nem pensar, não é mesmo?”

Setembro de 2020

“Quando escuto dizerem as duas palavras macabras, “ano perdido” me arrepio até a alma com tamanha falta de visão em educação (me desculpem os que acreditam nisso). Como assim ano perdido? Alguém consegue acreditar que quem viveu em 2020 não aprendeu mais, comparativamente, do que em qualquer dos anos anteriores dessa década? Daqui a 10 anos, qualquer que seja a idade escolar de hoje, você acredita que o estudante aprendeu mais em 2020 ou em 2019? Em 2020 ou em qualquer dos anos de 2011 em diante? A resposta é tão óbvia que precisaria alterar completamente as métricas do que significa aprender, para achar que o ano foi perdido. Podemos, sim, afirmar que foi muito negativo em vários aspectos e até mesmo perigoso quanto a segurança alimentar, violência doméstica e tantos outros problemas que realmente estão acontecendo. O aumento do degrau social de acesso à educação, a situação insalubre dos professores, a incerteza de como será o mês seguinte e tantos outros problemas que estão ocorrendo não fazem de 2020, nem de longe, um ano perdido!

O sistema de educação brasileiro já estava quebrado antes da pandemia. O Brasil ocupa um lugar vergonhoso no ranking mundial. E por incrível que isso pareça pode ser uma grande vantagem para o nosso país. O fato de ainda estarmos no século XIX quanto a educação e tudo que estamos vivendo esse ano desmorona o sistema todo… podemos migrar diretamente para o século XXI. Fizemos isso com a tecnologia da informação no final dos anos 80. Estávamos tão atrasados em termos tecnológicos que quando resolvemos finalmente entrar, já pulamos diretamente para uma etapa mais inovadora. Enquanto os EUA e a Europa estavam se readaptando dos sistemas antigos para os novos, nós fomos diretos para os novos. Durante muitos anos lideramos mundialmente os sistemas de informação bancários, financeiros, agrícolas e outros. Não tivemos que pagar os custos de uma longa jornada de aprendizagem e amortizar o capital investido nesses primórdios de TI. O mesmo pode acontecer com a educação. Podemos ir direto para uma nova educação criar sistemas de aprendizagem que servirão de modelo para muitos países. Sim podemos nos tornar um modelo para o mundo. Resta saber se vamos continuar nessa toada onde a educação não tem importância para o país.”

Primeiro de Agosto 2023

A Era da Ebulição Global! E eu com isso?

O mês de julho foi o mês mais quente da história. Pelo menos nos últimos 120.000 anos segundo o cientista alemão Karsten Haustein, da Universidade de Leipzig, na Alemanha, com base em registros paleoclimáticos. A declaração confirmando que julho de 2023 foi o mês com as mais altas temperaturas desde o início do monitoramento, em 1940, foi feita nessa quinta-feira (27/07) pelos cientistas do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, da União Europeia, e da Organização Meteorológica Mundial (OMM). António Guterres, secretário geral da ONU, declarou que o mundo entrou na era da “ebulição global”. Ele disse: “A era do aquecimento global terminou; a era da ebulição global chegou.” No original em inglês: “The era of global warming has ended; the era of global boiling has arrived.” Um trecho com pouco mais de um minuto selecionado pelo The Guardian vale muito a pena ouvir https://youtu.be/xyacrd1d-cU

Matéria do vídeo: (em inglês) https://www.theguardian.com/science/2023/jul/27/scientists-july-world-hottest-month-record-climate-temperatures

As medições da superfície dos oceanos foram também superadas agora em julho. Lembrando que desde 2014, esse aquecimento dos oceanos ultrapassou o ponto de não retorno. O El Niño é, também, uma das razões por trás de julho ser o mês mais quente de todos os tempos, além das emissões de gases de efeito estufa devido a atividades antropogênicas.

Enquanto acontecia o anúncio pela Organização Meteorológica Mundial e pelo Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da UE na quinta-feira, os ministros do clima do G20 estavam reunidos em Chennai (Índia) para conversas sobre como reduzir as emissões que aquecem o planeta. Foi a última reunião preparatória para o encontro do G20 em Nova Deli em setembro. Os ministros dos países, que juntos, emitem cerca de 80% dos gases que aquecem o planeta, não chegaram a um acordo em quatro dos 68 pontos de discussão. Um documento publicado pelo grupo nessa sexta (28/07) mostra que os países não concordaram em atingir o pico de emissões até 2025, passando para a energia limpa e um imposto sobre o carbono como forma de reduzir as emissões.

Impressionante que esse cenário vem sendo cientificamente anunciado por, pelo menos, mais de 30 anos. No entanto escolhemos fingir que nada está acontecendo. Todos nós somos contribuintes, de uma maneira ou de outra, por manter essa crise civilizatória nesse rumo ao abismo. Seja utilizando combustíveis fosseis, consumindo carne, usando plásticos, se alimentando com produtos industrializados ou cultivados com agrotóxicos. Difícil sair desses hábitos de consumo, mesmo para os mais fervorosos ambientalistas. Uma coisa é fazer parte da indústria causadora das mudanças climáticas (mesmo que na modalidade de banalidade do mal) e outra é manter suas escolhas na direção oposta de suas crenças e valores. Pois é… todos nós!

Enquanto isso, nessa mesma quinta-feira 27 de julho, o presidente americano, Joe Biden, disse em seu discurso de combate às mudanças climáticas:

“Não acredito que qualquer pessoa possa negar o impacto das mudanças climáticas. Houve um tempo, quando cheguei aqui (Casa Branca), muita gente dizia: ah… isso não é um problema! Bom, eu não conheço ninguém que… – não devia dizer isso – Eu não conheço ninguém que HONESTAMENTE acredite que a mudança climática não é um problema sério!”

Também não acredito que exista algum formador de opinião, político, cientista, profissional da saúde, professor, jornalista, executivo, consultor, palestrante ou qualquer pessoa minimamente informada que HONESTAMENTE acredite que a mudança climática não é um problema sério.

Esses pseudo-negacionistas estão a serviço de alguma vantagem pessoal. Pode ser financeira, desejo de agradar algum grupo ou simplesmente alguma patologia. As pessoas não checam e não percebem que esses criminosos ganham para enganar os enganáveis. Dos setores que estão convertidos por esses agentes da desinformação, o do agronegócio é o mais preocupante. Uma parte significativa deles acreditam e agem contra si mesmos ao condenarem seus negócios por acreditarem no inacreditável. Fico pensando se esses produtores negacionistas do agronegócio sabem que seus netos e bisnetos terão muita vergonha da ignorância de seus avós que destroem seu próprio patrimônio e o da humanidade. O pior é que esses evangelistas, que os convencem, são poucos e causam tanto dano. Os principais são só meia dúzia de ratos-pingados.  

Duas matérias e uma ótima entrevista ilustram muito bem essa situação e dão nome aos bois que querem passar a boiada. Recomendo fortemente, fortemente mesmo!

Agronegócio e extrema direita impulsionam máquina de fake news sobre aquecimento global

Agência Pública – 30/06/2023

“As fontes primárias da desinformação são basicamente um trio formado pelas duas figuras citadas por Nobre – Ricardo Felício, professor de geografia da Universidade de São Paulo (USP), e Luiz Carlos Molion, meteorologista e professor aposentado da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) – e pelo agrônomo Evaristo de Miranda, recém-aposentado da Embrapa, que se tornou guru ambiental do agronegócio e de Jair Bolsonaro.” 

Como negacionistas influenciam o debate ambiental no Brasil

Jornal DW Brasil (Deutsche Welle) – 30/06/2023

“Ligados a instituições respeitadas, porta-vozes da desinformação ambiental ganharam espaço e apoio de setores da economia para propagar mensagens que vão contra o consenso científico sobre as mudanças climáticas.”

https://www.dw.com/pt-br/como-negacionistas-influenciam-o-debate-ambiental-no-brasil/a-66064437

Observatório de Justiça e Conservação – entrevista com Mario Mantovani

21 de julho de 2023 – Começa aos 9 min

“No Programa Justiça e Conservação de hoje Mário Mantovani, geógrafo e ambientalista, conversa conosco sobre como porta-vozes da desinformação ambiental ganharam espaço e apoio de setores da economia para propagar mensagens que vão contra o consenso científico sobre as mudanças climáticas.”

Cúpula da Amazônia e Diálogos Amazônicos

Teremos na semana que vem a Cúpula da Amazônia, nos dias 8 e 9 que será precedida pelo gigantesco encontro dos Diálogos Amazônicos que começam nessa sexta-feira, 4 de agosto.

A cidade de Belém (PA) sediará a Cúpula da Amazônia, um evento fechado que reunirá os presidentes dos membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA): Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. Outros países com grandes áreas florestais, como os Congos e a Indonésia, também foram convidados, assim como o presidente francês Emanuel Macron, por conta da Guiana. O objetivo é construir uma posição conjunta que será levada à COP28 (conferência do clima da ONU), nos Emirados Árabes, entre 30 de novembro e 12 de dezembro. 

Nos dias que antecedem a Cúpula da Amazônia, ocorrerá uma pré-cúpula, chamada de Diálogos Amazônicos, serão centenas de encontros auto-organizados pela sociedade civil, academia, entidades do terceiro setor, associações indígenas, povos tradicionais da floresta e a população em geral desses oito países, que farão suas contribuições em relação ao que será discutido na Cúpula da Amazônia.

A Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, em entrevista para Revista Cenarium Amazônia falou sobre a Cúpula da Amazônia:

“Existe um alinhamento que é o legado histórico e existe o alinhamento recente que é a determinação tanto do Governo do presidente Lula quanto dos demais países. Tivemos uma reunião [em 8 de julho] preparatória em Letícia [Colômbia]. Dessa reunião participaram representantes que compõem essa articulação de oito países e tiramos o que nós chamamos de ‘Mapa do Caminho’, que traz uma série de pontos envolvendo ciência, tecnologia, comunidade, combate às criminalidades e a questão do desenvolvimento sustentável, como a base para chegarmos em Belém com uma proposta robusta. O momento é de cooperação. Esperamos que Belém (Pará) não seja apenas mais um evento, que seja um espaço para a tomada de decisão e encaminhamentos práticos que têm a ver com financiamentos e troca de experiências. Esse processo está relacionado à criação de um painel científico para o enfrentamento do problema da proteção da Amazônia, que é algo semelhante ao que nós já temos no IPCC, que é o Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas.”

A Fundação Rede Brasil Sustentável produziu uma cartilha que ajuda a orientar os participantes presenciais e os que vão acompanhar a distância.  https://redebrasilsustentavel.org.br/

Confira a programação das plenárias nos Diálogos Amazônicos

Programação das Atividade auto-organizadas

https://www.gov.br/secretariageral/pt-br/assuntos/dialogosamazonicos/atividades-auto-organizadas

O Petróleo é nosso! Nosso quem?

Estamos num momento muito delicado de transição energética. As evidências não podiam ser mais claras em relação a eliminação dos combustíveis fósseis. A utilização de petróleo, carvão mineral e gás precisam ser substituídos rapidamente. A questão é como! Existe uma pressão pesada da indústria do petróleo, seja por lobby, desinformação e até mesmo assédio judicial (estão processando cientistas e formadores de opinião). Um ponto importante é quanto a COP28 ser presidida pelo principal executivo da empresa nacional de petróleo dos Emirados Árabes Unidos, a Adnoc. Esse papel vem sendo “vendido” como uma oportunidade das decisões serem tomadas em conjunto com o mercado econômico, fazendo com que a COP não seja um mero encontro que, como sempre, não dá em nada. Será? Al Gore vem se manifestando de forma contundente contra o lobby da indústria do petróleo. “Oitenta por cento de toda a energia usada no mundo hoje ainda vem de combustíveis fósseis”, disse ele. Além do mais, Gore reconheceu que as empresas de petróleo, gás e carvão não vão cair sem lutar. Disse também que “As empresas de combustíveis fósseis estão tentando desesperadamente usar suas redes políticas e econômicas e sua captura bem-sucedida de políticas em muitos países para retardar essa transição”, disse ele. “Eles não divulgam suas emissões. Eles não têm nenhum plano de eliminação gradual. Eles não estão comprometidos com um caminho líquido zero real. Eles são greenwashing. Eles estão realizando conspirações anti-climáticas.”

Hoje saiu uma importante reportagem no jornal britânico The Guardian que procura desembaraçar o novelo (ou novela) das intenções de ocupar os espaços de decisões quanto as ações contra as mudanças climáticas. O Observatório do Clima tem um ótimo texto sobre esse assunto.      

Fósseis não são “ponto chave” para presidência da COP28, revela documento 

Vazada ao jornal The Guardian, estratégia dos Emirados Árabes aprofunda desconfiança quanto a Sultan Al-Jaber, que chega ao Brasil nos próximos dias para Cúpula da Amazônia.”

Observatório do Clima – 01/08/2023

Sem clima para transição, América Latina insiste em combustíveis fósseis

Países da região investem em óleo e gás, na contramão da meta de 1,5 grau Celsius, mas pelo menos há alguma resistência: sociedade civil do Equador conseguiu um plebiscito sobre exploração na Amazônia e Petro tenta livrar Colômbia do carvão.”

Sumaúma (Jornalismo do centro do mundo) – 01/08/2023

https://sumauma.com/sem-clima-para-transicao-america-latina-insiste-em-combustiveis-fosseis/

Vazamento revela questões “delicadas” para a presidência dos Emirados Árabes Unidos na cúpula do clima da ONU. Exclusivo: longa lista de tópicos “sensíveis” para petro-estados inclui produção de petróleo e gás, emissões e crimes de guerra no Iêmen” (em inglês)

The Guardian – 01/08/2023

https://www.theguardian.com/environment/2023/aug/01/leak-uae-presidency-un-climate-summit-oil-gas-emissions-yemen

Aqui está a verdade sobre os planos de Sunak para o Mar do Norte: ele venderá o planeta para os licitantes mais sujos. (em inglês)

Apesar dos graves novos alertas sobre a profundidade da crise climática, os plutocratas estão lutando para manter seus lucros – e nosso primeiro-ministro está com eles.”

The Guardian – 01/08/2023

https://www.theguardian.com/commentisfree/2023/aug/01/rishi-sunak-north-sea-planet-climate-crisis-plutocrats

Editorial: Esperar que os gigantes dos combustíveis fósseis vejam a luz sobre o clima não funcionou. A mudança só vem com mandatos e força.” (em inglês)

Los Angeles Times – 21/07/2023

https://www.latimes.com/opinion/story/2023-07-21/editorial-its-not-enough-to-be-frenemies-with-fossil-fuel-companies-we-have-to-kick-them-to-the-curb

Vamos torcer pelo sucesso da Cúpula da Amazônia! Vamos esperançar!

How Could I Know? (Como eu Poderia Saber?)

Junho celebrou os 10 anos de uma manifestação absolutamente genuína, real e sem os adereços de manipulação que as manifestações de lá para cá tiveram. Sem patos, sem cores, sem bordões, sem hackeamento dos símbolos nacionais, sem pseudo lideranças, sem lenço e sem documento! A foto acima tirei no dia 17 de junho de 2013 na Faria Lima onde ainda não se cunhava o termo “Faria Limers” e nem se imaginava que estaríamos há cinco anos de uma extraordinária polarização. Quem foi para as ruas percebeu que não havia predominância de qualquer reivindicação e que o clima era familiar e tranquilo. Quem assistiu pela televisão ou internet recebeu o viés produzido pela mídia escolhida e com grande foco na irrelevante participação dos Black Blocs. Ou seja, quem não foi para a rua, não conseguiu entender o que foi a única (até agora) manifestação espontânea de baixo para cima (do cidadão para o poder). Todas as manifestações seguintes foram de cima para baixo e em geral com polpudos patrocínios. Algumas das manifestações nem disfarçaram que estavam manipulando a massa como aquelas que marcavam a concentração na Av. Paulista em frente a FIESP ao invés do tradicional vão livre do MASP. A concentração ocorre no vão livre do MASP porque tem espaço para acumular um grande número de participantes até ser o suficiente para tomar a av. Paulista. Concentração na frente da FIESP? Teve gente que nem percebeu o absurdo? O mais curioso e até engraçado foram as explicações para as motivações e autorias das manifestações. Teve de tudo, até mesmo grupos do partido do governo (PT) reivindicando a autoria. Até hoje tem gente afirmando que manifestações atuais são atualizações ou novas versões das de junho de 2013. Foi um momento de rara (beleza) cidadania dos brasileiros onde emergiu o descontentamento pessoal, de grupos e geral. Foi uma reação em cadeia que só pode ser analisada de forma sistêmica, generosa nos cenários e isenta de qualquer “ismo”. Tarefa difícil desses últimos 10 anos.

Mas afinal quem está interessado na verdade? A ficções são bem mais interessantes. Acreditar nas criativas invenções de histórias são bem mais atraentes. Mas é quando você é vítima de uma história falsa… A maravilhosa série de TV “Black Mirror” tem o seu primeiro episódio nessa 6ª temporada chamada “Joan is Awful”. É um presente para entendermos o que já está acontecendo conosco e um preview dos recursos (já existentes) da Inteligência Artificial.  Assista com atenção e reflexão e perceba o mundo em que nós vivemos. Acredito que o fará pensar melhor em aceitar as condições do contrato dos aplicativos… hoje preferimos não pensar e acreditamos que está “tudo bem”. Recentemente o Instagram (Meta) pediu para atualizar as regras de uso e privacidade. Tive a paciência de ler muita coisa. Fiquei mais de uma hora e fotografei várias telas com regras inacreditáveis. Não dá para ler tudo e eles sabem disso. Grátis? Na realidade pagamos com a entrega das nossas mais íntimas informações para um modelo de negócio que vende a atenção dos humanos (usuários). O telefone funciona como uma tornozeleira eletrônica que monitora aonde vamos, o que fazemos e dizemos. Essa arapongagem toda é realizada com a nossa explícita aprovação no aceite de um contrato inacreditavelmente prejudicial ao qual fingimos não estarmos a par. Essa vigilância e venda dos nossos comportamentos para sermos manipulador na direção que o comprador desejar é… surreal!!! O que fazer?

Se quiser se aprofundar mais ainda nesse tema recomendo dois livros. 1 – “Mindf*ck” de Christopher Wylie é um relato chocante e elucidativo da realidade das manipulações psicológicas através dos algoritmos. Não sei se tem em português. 2 – “A Era do Capitalismo de Vigilância” da Shoshana Zuboff.

Esse episódio do Black Mirror mostrando nossa miopia em relação ao que digitalmente assinamos me lembrou do ótimo filme simbolizando nossa miopia em relação às mudanças climáticas, o “Não olhe para Cima” que escrevi em janeiro de 2021.

Refletindo sobre os dois temas acima, a manifestação de junho de 2013 quando ainda não estávamos vivendo uma polarização numa cultura de cancelamento (conhecidos, amigos, família e demais relações) e das metodologias digitais de manipulações através dos aplicativos de persuasão cognitiva, me faz acreditar que os fervorosos defensores de Bolsonaro ou Lula não são adeptos da política e sim de um culto. Não há fatos ou bom senso que os tire dessa distorção cognitiva. O tratamento para saírem desse vício é bem difícil de ser implementado porque está camuflado de posição política e não de dependência psicológica. Como sempre nesses casos, o primeiro passo é admitir a doença.

Gostaria de finalizar o texto de hoje com uma curta reflexão sobre a conferência de Bonn (SB 58) realizada entre 5 e 15 de junho. A reunião foi uma preparatória para a COP28 que será bem importante para Brasil, seja pela nova abordagem que o governo vem se posicionando no mundo, seja pela COP30 que será no Brasil em 2025. O resumo é que ela foi basicamente um fracasso. Em geral ela serve para formalizar os temas e delegados designados para as conversas de no fim do ano. Teve mais política do que as questões técnicas de sempre. O texto do Observatório do Clima e do LACLIMA trazem um ótimo resumo da conferência. Importante ler para nos prepararmos, seja qual for o setor você atua.

É incrível pensar que estamos vivenciando 493 dias da invasão Russa na Ucrânia. Como diria o Raul Seixas parafraseando o Tarzan: “Krig-há, Bandolo!”

Vou encerrar com um fundo musical do Raul Seixas. Ouça no Spotify ou no Youtube.