
Acreditamos no inacreditável? Sim!
Somos manipuláveis? Sim!
Alguém acha que não? Sim!
Você acredita?
A realidade que vemos é diferente da realidade que os outros veem, no entanto agimos como se víssemos a mesma ou, pelo menos, uma bem parecida. Quando Joseph Campbell disse que a “Mitologia é a Religião dos Outros”, estava denunciando que temos a percepção de que o que acreditamos é “a” realidade, enquanto os outros acreditam em fantasias. Genial como sempre!
Nesse contexto é cada vez mais difícil manter uma conversa gerativa sobre qualquer assunto. Sendo que alguns temas, só de mencionar o título, gera um completo fechamento para ouvir o outro… um outro olhar! Só uma escuta generosa pode alterar esse estado em que nos encontramos hoje.
Algumas questões para exemplificar. Origem do COVID19: vazou de um laboratório ou de um animal exótico (pangolim)? Formato da Terra: plana ou redonda? Robinho e Daniel Alvez: culpados ou inocentes? Chuvas em São Sebastião: mudança climática ou evento isolado? Invasão da Russa na Ucrânia: crime ou dever? Monark e Nikolas Ferreira: adequados ou inadequados? Vacina contra a Covid-19: faz bem ou faz mal? Pessoas que invadiram e depredaram prédios do governo no dia 8 de janeiro: patriotas ou criminosos? Disco voadores: existem ou não existem? Garimpeiros em terras indígenas: trabalhadores honestos ou genocidas? Aborto: legaliza ou criminaliza? 1º de abril de 1964: revolução ou golpe? Salário de jogador de futebol: justo ou exagerado? Eleições: são fraudadas ou não?
Na verdade, não temos como responder objetivamente nenhuma dessas perguntas, muito menos… um sim ou não! Porém não só acreditamos que sabemos as respostas como ficamos admirados como os que não pensam como a gente. Nenhuma das questões acima pode existir como estão formuladas. Nada é somente certo ou errado, sim ou não, esquerda ou direita, dor ou prazer, pobre ou rico, grande ou pequeno, frio ou calor e assim por diante. O olhar para cada uma delas é complexo e precisa ser visto sistemicamente.
Vou abrir a porta de uma delas Eleições: são fraudadas ou não?
Vou começar perguntando qual é o objetivo das eleições. A resposta mais comum é dizer que servem para eleger a representação da maioria da população. A resposta já começa equivocada porque esse sistema elege a representação da maioria dos eleitores que votam ou dos colégios eleitorais (dependendo da conjuntura local). No primeiro turno da eleição de 2022 apenas 118 milhões votaram numa população estimada em 216 milhões.
Em geral a fraude nas eleições fica focada nas urnas e não na manipulação que vem sendo feita há muitos anos, sendo que nos últimos dez anos de forma altamente sofisticada. Em 2014 eu mesmo fiquei pensando se existia essa possibilidade e escrevi um texto com minhas preocupações diante da minha ignorância sobre o assunto.
Na semana passada desvendaram a identidade do Team Jorge. Quem nunca ouviu falar desse nome, deve ler com atenção essa história que envolve provas concretas de fraude nas eleições… em várias eleições! A Cambridge Analytica ficou mais famosa no episódio em que o Facebook, inacreditavelmente, conseguiu se safar. Tem muito material para quem quiser entender como as eleições são fraudadas hoje em dia. Prestem atenção para nomes que ainda não estavam nos textos e documentários que falarei em seguida. Entre vários, a Eliminalia do Diego ((Didac) Sanchez que promete apagar seus rastros indesejáveis na internet e que agora está migrando o nome para iData Protection, pode ser uma nova onda de manipulações dos nossos dados. A onda de difamações e fake news produzidas em alta escala começou em 2014 nas eleições brasileiras conseguindo reverter o resultado natural, provavelmente nosso país seria outro hoje. Outra eleição manipulada que alterou o resultado natural e com isso alterando completamente o rumo da Europa foi em junho de 2016 com o BREXIT. Logo em seguida a eleição americana que surpreendeu ao conseguir nomear o Trump como candidato Republicano e elege-lo presidente dos EUA. Essas fraudes eleitorais alteraram o rumo do mundo todo abrindo caminho para a extrema direita de outros países.
Recomendo fortemente ver ou rever o documentário (2019) da Netflix “Nada é Privado: O Escândalo da Cambridge Analytica” (The Great Hack)
O documentário “Driblando a Democracia” (2019) da Produtora Francesa ARTE (com legendas em português). O documentário tem amostras de resultados que são impressionantes, como uma pesquisa realizada no Facebook demonstrou que os algoritmos conhecem você melhor que seus colegas lendo apenas 10 likes (curtir), melhor que sua família com 100 likes e melhor que o seu cônjuge com 230 likes. Não está no documentário, mas fiquei pensando que possivelmente com 1.000 likes ele nos conhece melhor que nós mesmos.
Recomento também 15 minutos do TEDX com a jornalista do The Guardian (Observer) Carole Cadwalladr.
O livro da Brittany Kaiser “Manipulados” (2019) é uma jornada nos bastidores de mundo da manipulação e fraude nas eleições.
Ainda não li, mas está na minha lista o livro do Christopher Wylie “Mindf*ck”
Só queria trazer mais um elemento de uma questão acima que é quanto as chuvas do litoral norte de São Paulo. Spoiler: vou ser altamente tendencioso e dizer o que penso, sem ser muito generoso com o outro lado (pois é). Apesar da tragédia ser comprovadamente resultado das mudanças climáticas, tenho recebido algumas postagens enviadas por pessoas me perguntando o que acho sobre as “bobagens” que estão recebendo. Triste que estejam sendo produzidas e mais triste ainda que tem gente acreditando e repassando. Você de um lado escuta a opinião de cientistas renomados declarando as razões da tragédia e de outro lado desconhecidos “especialistas” (se é que são reais) falando o contrário. Eu mesmo me denunciei nessa 😊
371 dias da invasão da Rússia na Ucrânia, será que depois de um ano conseguimos responder ou ter uma opinião nas principais questões sobre a tragédia? Será?:
1- O que motivou Putin a invadir a Ucrânia?
2- Como os 195 países do planeta (inclusive Rússia) estão vendo essa invasão que dura mais de um ano? E o que estão fazendo a respeito? Cite a visão e ação expressa pelo Brasil e, pelo menos, mais 10 países.
3- Qual o saldo de mortos e feridos?
Já dá para parar por aqui… né?
Aprendemos e apreendemos o tempo todo, A questão é quanto as escolhas do que fazemos com relação ao tempo e o espaço.
Hoje de manhã tive um encontro com uma transbordante troca de aprendizagens e falávamos dessa questão da percepção da realidade que me inspirou a escrever o texto de hoje. Aprendi o conceito de “noumeno” de Imannuel Kant. Noumeno é a realidade em si que não temos como percebê-la porque ao colocarmos nossa consciência nela, criamos um fenômeno. Portanto o conhecimento se refere apenas aos fenômenos percebidos e não a coisa em si. Foi poeticamente ilustrado com a frase: “a consciência colore o noumeno e produz o fenômeno”. Tentando traduzir, seria como se a realidade que percebemos foi tingida por quem somos (consciência). Uma bela ilustração desse ponto foi uma experiência relatada onde, buscando aprender a interpretar uma obra de arte, percebeu que usava todas as suas próprias histórias vividas. Ou seja, contemplava a obra munido de sua própria bagagem cultural. Outro momento rico, dessa conversa, foi a lição de que podemos colocar a curiosidade no lugar do julgamento. Que desafio simpático procurarmos ao invés de julgar o outro, ouvi-lo interessadamente. Transformar julgamento em curiosidade! E desse desafio vem a possibilidade de mudarmos de opinião. Relatou uma vivência em que estava na feira (CEASA) e as pessoas ficavam gritando sem parar um com os outros. Chegando numa das barracas pediu para um rapaz não gritar tanto porque estava querendo comprar frutas dele. O rapaz passou a gritar mais alto. Indignado e irritado voltou depois a barraca para se queixar com o dono sobre a atitude do funcionário. Depois de refletir um pouco, o feirante lhe disse: “você vai ter que relevar”! Saiu revoltado e alguns minutos depois percebeu que o feirante tinha razão… ele precisava relevar. Aquele era o ambiente natural daquele espaço e ele estava querendo impor que os outros se adaptassem ao que ele queria. Voltou para agradecer o feirante pela sabedoria. Ótimo exemplo de revisitar e suspender seus julgamentos para deixar espaço a uma escuta generosa. Aprendi ou reaprendi, também, que a escuta cura porque a escuta é afeto.
A escuta é afeto!
Muitas e muitas outras coisas aprendi dessa conversa gerativa, entre elas a dica de um livro que quero muito ler. Já comprei e chega na segunda feira. Being Logical: a guide to good thinking do Dennis Mclnerny.
E a mais sênior de nós fez uma pergunta muito corajosa e pertinente. Pedia ajuda para saber o porquê e para que estava conosco nesse grupo mensal de conversa. Apesar de parecer uma pergunta com uma resposta fácil… é uma resposta bem complexa. Esse foi mais um presente dessa manhã onde passei o dia escrevendo esse texto e a todo instante me perguntando o porquê e o para que estou o estou escrevendo. A resposta aparentemente simples é porque estou me exercitando para escrever meu livro e ao mesmo tempo registrando ideias do Aqui e Agora a cada primeiro dia do mês… a resposta é bem mais complexa e terei que continuar a refletir muito.
Brasil e EUA
No dia 10 de fevereiro o governo brasileiro (Lula) se encontrou com o presidente dos EUA (Biden) e John Kerry está no Brasil alinhando alguns acordos estabelecidos entre os dois países.
Ontem (28/02/2023) Marina Silva ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, anunciou junto com o secretário John Kerry o acordo feito entre os dois países. Capobianco lê o acordo na íntegra.
A Agência Pública produziu mais uma matéria de peso sobre 340 empresas com certificado de sustentabilidade acusadas de crimes ambientais. Tenho esperanças (do verbo esperançar) de que estamos caminhando para uma direção melhor.
Ontem (28/02/2023) a Funai veio a público pedir desculpas às famílias do indigenista Bruno Pereira e a do jornalista britânico Dom Phillips pela nota que a entidade divulgou durante o governo Bolsonaro. Eles foram assassinados no Vale do Javari e a repercussão internacional ajudou a trazer um pouco de luz para a situação de genocídio dos povos indígenas no Brasil. Em primeiro de junho de 2022, eu estava conduzindo com a SoL Brasil, uma conversa num evento híbrido paralelo a Stockholm+50. A conversa foi uma (inédita) visita virtual a aldeia Maronal, no distante Vale do Javari, onde o Cacique Alfredo Maronal descrevia para o público em Estocolmo e virtualmente no Zoom as principais ameaças à vida dos povos locais e à floresta Amazônica. A situação descrita (in loco) chocou os participantes, principalmente os estrangeiros. Parecia tão inacreditável, que muitos depois confessaram que acharam que estavam exagerando. Não era possível, nos dias de hoje, que isso fosse permitido e pior… até incentivado. Quatro dias depois — simbolicamente — no dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente eles foram assassinados. Seria apenas mais um caso encoberto e esquecido se não fosse pelo prestígio de Dom Phillips, colaborador do The Guardian que estava escrevendo um livro justamente sobre a violenta e surreal realidade dos povos indígenas na Amazonia. Íntegra da carta da Funai.
Há um ano (em março) o presidente Bolsonaro que promoveu, junto com Ricardo Salles e demais cumplices no governo, o extermínio sistemático dos indígenas recebia – pasmem – a Medalha do Mérito Indígena concedida pelo então Ministro da Justiça, Anderson Torres (hoje na prisão).
Chico Rodrigues, que ficou famoso quando foi flagrado com R$ 33.000,00 em dinheiro na cueca, numa investigação da Polícia Federal que investigava desvios de recursos para o combate à COVID em 2020, preside hoje a comissão, criada pelo senado para investigar a tragédia humanitária dos Yanomamis. Ele é descaradamente a favor dos garimpeiros e como se não bastasse tanta bandalheira, três dos cinco integrantes dessa comissão são senadores de Roraima explicitamente defensores do garimpo e inimigos dos povos indígenas.
Enfim apesar de todos os pesares estamos emergindo para o que acredito ser um tempo melhor para o Brasil e o mundo.