
Só sei que nada sei
Existe uma longa jornada de sabedoria em busca da “verdade” para aqueles que ousam trilhar esse caminho. A jornada começa na aurora da ignorância, passa por milhares de saberes e repousa no ocaso do não precisar mais saber.
O que acontece é que quanto mais sabemos mais percebemos que há muito mais a saber.
Enquanto acreditarmos que existem separações entre esquerda e direita estaremos sujeitos a ilusão ótica de que significam alguma coisa. Nossa mente se abre a necessidade de rotular e cria modelos mentais com definições próprias mais difíceis de serem dissolvidas ou ressignificadas. Com isso somos reféns de crenças e valores adquiridas naturalmente e artificialmente. As adquiridas artificialmente são bem mais numerosas e são fruto, em geral, de manipulações sofisticadas. O conhecimento para fabricar essas manipulações estão cada vez mais em domínio público e ao alcance de um simples algoritmo. Aqueles que acreditam que estão imunes a essas manipulações são os que mais facilmente são controlados por elas. Estamos adormecidos e entorpecidos por essa envolvente vibração que nos leva a não viver a vida. Não viver a vida? Como assim? Pense no que você faz no seu dia a dia, pense no que fez nos últimos meses, nos últimos anos… Pare por alguns momentos a leitura desse texto para refletir sobre a diferença entre “Viver a Vida” e “Levar a Vida”.
Pare um pouco mais, sei que parece estranho fazer isso – viver ou sobreviver?
O Brasil, hoje, está vivendo o dia seguinte (day after) da eleição. Sei que o dia seguinte foi ontem (31/10) e ao mesmo tempo sei que ontem ainda não acabou. O que podemos dizer que ainda não foi dito? Será que ainda resta alguma palavra, alguma frase que traga paz… que devolva o Amor a bandeira? Será que haverá alguma coisa que permita que possamos voltar a nos relacionar com aqueles familiares que perdemos para a política, os amigos que cancelamos por acreditarem no inacreditável, os grupos que saímos para mantermos a sanidade? Será que acabou ou será que está acabado?
Os resultados da votação do segundo turno de anteontem foram um Brasil completamente dividido! A ironia é que os dois candidatos à presidência só se viabilizaram por causa um do outro. Dos 156.453.354 eleitores brasileiros, pouco mais de 38% votaram no Lula e pouco menos de 38% votaram no Bolsonaro, enquanto pouco mais de 24% escolheram votar em ninguém ou não votar.
O atual sistema eleitoral é um instrumento a favor da democracia ou contra ela? Os resultados das últimas décadas parecem apontar na direção contrária.
As pessoas continuam a não votar em quem querem, continuam achando que as pesquisas têm alguma utilidade e continuam acreditando que na próxima eleição vai melhorar. Como dizia Einstein, insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.
Compartilho o que disse Marina Silva em mais uma ótima entrevista no Roda Viva de ontem: “Vou muito pelo caminho da Hannah Arendt – Eu vou pelo valor da promessa e acho que o Brasil está apostando tudo na promessa de a gente buscar um novo caminho.” Que assim seja!
Gostaria de trazer à tona (emergência) a questão de que estamos assistindo ao fim dessa civilização. Aceitamos facilmente que existiram muitas civilizações e que tiveram começo, meio e fim. Por algum motivo acreditamos que essa vai durar para sempre e não vemos (ou não queremos ver) os sinais óbvios de que está chegando ao seu fim. É como o sujeito que caiu do trigésimo andar e lá pelo vigésimo comenta: até aqui tudo bem! Os absurdos que estamos assistindo diariamente num estado de Normose só evidenciam que estamos no fim desse modelo civilizatório. E agora? O que fazer ou não fazer? Não podemos resolver pontualmente uma questão que é sistêmica. Tudo conta, somos interdependentes. Enquanto o problema for da Ucrânia, da Itália, da França, da Amazônia, dos Indígenas, das Escolas, do Governo, do Papa… não temos vínculos nem responsabilidades. No momento em que se tomar consciência (awareness) de que o problema é de toda a humanidade, os resultados começam a aparecer. Amor, compaixão, colaboração e a paz emergirão das cinzas e poderá nascer um novo modelo civilizatório.
Harari apontou três desafios existenciais para a espécie humana: o retorno da guerra (armas nucleares), o colapso econômico (colapso ambiental) e a disrupção tecnológica (inteligência artificial). Ele disse isso em 2016 e depois publicado em 2018 no livro 21 Lições.
Uma citação atribuída ao Einstein é que ele não sabia com quais armas seria travada a 3a Guerra Mundial, mas provavelmente a 4a seria com paus e pedras.
Estamos há 251 dias da invasão Russa na Ucrânia. A cada dia que passou aumentou nossa revolta? Como está nossa percepção em relação a isso? Temos alguma ideia de quantos morreram, quantos ficaram feridos e quantos tiveram suas vidas arruinadas? Normose!
Os oceanos, principal fonte de oxigênio do planeta (entre muitas outras coisas) teve seu ponto de não retorno em 2014 e de lá para cá estamos mergulhando ladeira abaixo. Como isso tem afetado nosso dia a dia? Sabemos o que isso realmente significa? Normose!
A Amazônia bate recordes mensais de destruição e está à beira do ponto de não retorno. Temos alguma real preocupação com isso? Sabemos do impacto na alteração dos rios voadores e do sistema de chuvas? Compreendemos a negligência com a gigantesca riqueza econômica da sua biodiversidade? Entendemos a importância dos guardiões da floresta (povos indígenas)? Normose!
Como diria Wilhelm Reich: ESCUTA, ZÉ NINGUÉM!
Parece que agora em novembro as atenções do brasileiro estarão voltadas para a COP27 que começa no próximo domingo (dia 6) no Egito. As principais conversas e decisões sobre os rumos da humanidade serão discutidas por lá. A imprensa e a maioria dos brasileiros estarão focados durante as duas semanas desse importante evento… só que não!
Provavelmente a Copa do Mundo será a nova distração de novembro, com ou sem figurinhas!
Normal! Normose!
Roda Viva com a Marina Silva de ontem a noite (31/10)
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