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Posts Tagged ‘Manifestações’

How Could I Know? (Como eu Poderia Saber?)

Junho celebrou os 10 anos de uma manifestação absolutamente genuína, real e sem os adereços de manipulação que as manifestações de lá para cá tiveram. Sem patos, sem cores, sem bordões, sem hackeamento dos símbolos nacionais, sem pseudo lideranças, sem lenço e sem documento! A foto acima tirei no dia 17 de junho de 2013 na Faria Lima onde ainda não se cunhava o termo “Faria Limers” e nem se imaginava que estaríamos há cinco anos de uma extraordinária polarização. Quem foi para as ruas percebeu que não havia predominância de qualquer reivindicação e que o clima era familiar e tranquilo. Quem assistiu pela televisão ou internet recebeu o viés produzido pela mídia escolhida e com grande foco na irrelevante participação dos Black Blocs. Ou seja, quem não foi para a rua, não conseguiu entender o que foi a única (até agora) manifestação espontânea de baixo para cima (do cidadão para o poder). Todas as manifestações seguintes foram de cima para baixo e em geral com polpudos patrocínios. Algumas das manifestações nem disfarçaram que estavam manipulando a massa como aquelas que marcavam a concentração na Av. Paulista em frente a FIESP ao invés do tradicional vão livre do MASP. A concentração ocorre no vão livre do MASP porque tem espaço para acumular um grande número de participantes até ser o suficiente para tomar a av. Paulista. Concentração na frente da FIESP? Teve gente que nem percebeu o absurdo? O mais curioso e até engraçado foram as explicações para as motivações e autorias das manifestações. Teve de tudo, até mesmo grupos do partido do governo (PT) reivindicando a autoria. Até hoje tem gente afirmando que manifestações atuais são atualizações ou novas versões das de junho de 2013. Foi um momento de rara (beleza) cidadania dos brasileiros onde emergiu o descontentamento pessoal, de grupos e geral. Foi uma reação em cadeia que só pode ser analisada de forma sistêmica, generosa nos cenários e isenta de qualquer “ismo”. Tarefa difícil desses últimos 10 anos.

Mas afinal quem está interessado na verdade? A ficções são bem mais interessantes. Acreditar nas criativas invenções de histórias são bem mais atraentes. Mas é quando você é vítima de uma história falsa… A maravilhosa série de TV “Black Mirror” tem o seu primeiro episódio nessa 6ª temporada chamada “Joan is Awful”. É um presente para entendermos o que já está acontecendo conosco e um preview dos recursos (já existentes) da Inteligência Artificial.  Assista com atenção e reflexão e perceba o mundo em que nós vivemos. Acredito que o fará pensar melhor em aceitar as condições do contrato dos aplicativos… hoje preferimos não pensar e acreditamos que está “tudo bem”. Recentemente o Instagram (Meta) pediu para atualizar as regras de uso e privacidade. Tive a paciência de ler muita coisa. Fiquei mais de uma hora e fotografei várias telas com regras inacreditáveis. Não dá para ler tudo e eles sabem disso. Grátis? Na realidade pagamos com a entrega das nossas mais íntimas informações para um modelo de negócio que vende a atenção dos humanos (usuários). O telefone funciona como uma tornozeleira eletrônica que monitora aonde vamos, o que fazemos e dizemos. Essa arapongagem toda é realizada com a nossa explícita aprovação no aceite de um contrato inacreditavelmente prejudicial ao qual fingimos não estarmos a par. Essa vigilância e venda dos nossos comportamentos para sermos manipulador na direção que o comprador desejar é… surreal!!! O que fazer?

Se quiser se aprofundar mais ainda nesse tema recomendo dois livros. 1 – “Mindf*ck” de Christopher Wylie é um relato chocante e elucidativo da realidade das manipulações psicológicas através dos algoritmos. Não sei se tem em português. 2 – “A Era do Capitalismo de Vigilância” da Shoshana Zuboff.

Esse episódio do Black Mirror mostrando nossa miopia em relação ao que digitalmente assinamos me lembrou do ótimo filme simbolizando nossa miopia em relação às mudanças climáticas, o “Não olhe para Cima” que escrevi em janeiro de 2021.

Refletindo sobre os dois temas acima, a manifestação de junho de 2013 quando ainda não estávamos vivendo uma polarização numa cultura de cancelamento (conhecidos, amigos, família e demais relações) e das metodologias digitais de manipulações através dos aplicativos de persuasão cognitiva, me faz acreditar que os fervorosos defensores de Bolsonaro ou Lula não são adeptos da política e sim de um culto. Não há fatos ou bom senso que os tire dessa distorção cognitiva. O tratamento para saírem desse vício é bem difícil de ser implementado porque está camuflado de posição política e não de dependência psicológica. Como sempre nesses casos, o primeiro passo é admitir a doença.

Gostaria de finalizar o texto de hoje com uma curta reflexão sobre a conferência de Bonn (SB 58) realizada entre 5 e 15 de junho. A reunião foi uma preparatória para a COP28 que será bem importante para Brasil, seja pela nova abordagem que o governo vem se posicionando no mundo, seja pela COP30 que será no Brasil em 2025. O resumo é que ela foi basicamente um fracasso. Em geral ela serve para formalizar os temas e delegados designados para as conversas de no fim do ano. Teve mais política do que as questões técnicas de sempre. O texto do Observatório do Clima e do LACLIMA trazem um ótimo resumo da conferência. Importante ler para nos prepararmos, seja qual for o setor você atua.

É incrível pensar que estamos vivenciando 493 dias da invasão Russa na Ucrânia. Como diria o Raul Seixas parafraseando o Tarzan: “Krig-há, Bandolo!”

Vou encerrar com um fundo musical do Raul Seixas. Ouça no Spotify ou no Youtube.

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