
Caminhos e Descaminhos dos Sistemas de Aprendizagem
Na Educação existem muitas pedagogias, formatos e sistemas para a aprendizagem. Estamos vivendo um momento onde as escolas vão precisar se reinventar para atender a formação de um indivíduo preparado para uma sociedade onde a colaboração está substituindo a competição; a liderança compartilhada prevalece sobre as hierarquias; o respeito à diversidade é um valor fundamental; o amor se sobrepõe ao medo; somos e cuidamos da Natureza; a cultura conduz os processos… preparando para uma sociedade da Nova Economia. A maioria das escolas está longe de preparar o estudante para essa nova realidade que já não é mais futuro… é aqui é agora!
Claro que ainda existem pais que estão preparando seus filhos para o vestibular ao invés de prepará-los para a vida. Por isso as escolas continuam, equivocadamente, privilegiando a memória em detrimento da criatividade, o condicionamento ao invés das múltiplas inteligências, a competição que humilha e gera um ambiente propício para o Bullying e tantas outras atitudes que levam a percepção de que esse sofrimento é necessário para passar no vestibular. E passar na vida? E o Ser de ser humano? O Amor? A cidadania? Os relacionamentos? O meio ambiente? O Cuidar da Casa? Do dinheiro? Da saúde? Da alma?
Por isso estamos num momento de repensar onde colocar os nossos filhos para prepará-los para Viver a Vida. Desenvolver o potencial que já está dentro da criança. Permitir que floresça sua essência para se tornar um ser humano integral.
Como uma semente, cada criança contém tudo que precisa para se tornar um adulto pleno. Basta um solo fértil, um clima apropriado, regar e cuidar do ambiente ao seu redor. Tentar fazer uma semente de Cerejeira se tornar um Eucalipto… não faz sentido! Isso é o que as escolas e pais estão começando a perceber. Está nascendo uma Nova Educação com novos paradigmas que substituirão os atuais. Não se trata de uma melhoria no ensino e sim de uma completa transformação. Nova Educação no sentido de tirar essa que está obsoleta na maioria das escolas e substituir por uma inteiramente nova. Nova para o atual sistema de educação.
Os princípios desses novos modelos já estão aí há muitos anos, estão sendo desenhados há décadas por filósofos e educadores do mundo todo. Existe uma quantidade significativa de boas práticas em pedagogias que vão mudar os atuais paradigmas da educação. Só para citar algumas referências mais conhecidas do passado: Agostinho Silva, Alexander Sutherland Neil, Anisio Teixeira, Célestin Freinet, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Ivan Illich, Janusz Korczak, Jean-Jacques Rousseau, John Dewey, Lauro de Oliveira Lima, Lev Vigotski, Maria Montessori, Maria Nilde Mascellani, Paulo Freire e Rudolf Steiner.
Mas o que seria então os princípios dessa Nova Educação?
Alguns princípios já estão claramente definidos como diretrizes para as escolas:
– o conteúdo da aprendizagem é pautado pelo estudante e não mais pela gestão pública
– a divisão de turmas é feita pelos interesses e não mais pelas idades
– as métricas de avaliação focam o desenvolvimento das potencialidades individuais e não mais a habilidade de se lembrar
– a estimulação da colaboração e não mais da competição
– o conhecimento a ser oferecidas pela escola são aquelas importantes para o dia da dia local e não mais as de pouco interesse e relevância para o estudante
– o conhecimento é oferecido em multimídias
– a sala de aula é o mundo todo
– somos a Natureza
Conteúdo
Quando o conteúdo programático é imposto aos alunos de uma escola, a chance de alguns deles se interessarem pode até ser boa, a de que um quarto se interesse é mínima e que metade possa vir a se interessar é próxima de zero. O que faz esses números subirem ou descerem é menos pelo assunto em si e mais pela habilidade do professor de encantar sua “plateia”. Procure se lembrar como era para você na sua escola. Quais os assuntos que realmente te interessaram ao longo dos anos? E quem eram os professores? É quase certo que eram aqueles professores que você admira até hoje em sua memória. George Lucas, o famoso cineasta, declarou que para ele a escola era um lugar chato e maçante (boring) entrecortada por algumas poucas experiências maravilhosas que ajudaram a formar quem ele é hoje. E ele pergunta… por que as escolas precisam ser assim? Com a ideia de que as escolas podem ser diferentes ele criou em 1991 o que é hoje a maior ong de educação pública dos EUA, a George Lucas Educational Foundation (GLEF) mais conhecida como Edutopia. Eles hoje acreditam que três habilidades (skills) do século 21 são fundamentais: 1. como encontrar informações baseadas em fatos. 2. como acessar a qualidade da informação. 3. como criativamente e eficazmente usar a informação para alcançar um objetivo.
Quando o conteúdo programático vem da gestão pública ele já está, quase que invariavelmente, obsoleto. O tempo que se leva para passar por toda cadeia de decisão, burocracia, aprovar material didático e ainda capacitar a rede de educadores…
O resultado disso é um conhecimento pouco interessante, possivelmente errado e com uma visão unilateral. Edgar Morin alerta para isso no primeiro item do seu documento dos sete saberes. Não estou generalizando, mas apresentando a razão de ser de inverter a demanda pelo conteúdo – do aluno para a escola ao invés da escola para o aluno.
Divisão de turmas
A divisão de alunos por idade que a escola vem fazendo há mais de cem anos, vem se mostrando ineficaz. O que acontece na prática é que o estudante acaba tendo dois ou três amigos que ele gosta muito e dois ou três que ele detesta. Quanto ao resto é mais neutro e dependendo do andar da carruagem fica mais próximo ou mais longe em alguns períodos. Se você passou a maioria do tempo da sua educação numa mesma escola pense nos amigos que você manteve até hoje… amigos e não apenas conhecidos! Mais de dez são realmente amigos? Cinco? Três? É muito raro aqueles que mantiveram muitos. Como pode ter acontecido de ter convivido tantos anos, tão próximo, com tanta gente e não ter preservado a amizade?
Quando dividimos as turmas por interesse acontecem dois fenômenos que promovem a aprendizagem. O primeiro é que ao misturar as idades cada estudante terá um modelo (role model) mais velho do que ele do qual irá admirar e receber apoio/incentivo e terá sempre um mais novo que o verá como modelo (mentor/herói) e demandará sua atenção. Admirar e ser admirado são uma ótima formula para cooperação na aprendizagem. O segundo é que por serem temáticos os interesses são mútuos e a colaboração ocorre naturalmente. É como um hobby onde as pessoas trocam conhecimento e sabedoria.
Métricas de Avaliação
As métricas atuais são desastrosas para um ambiente saudável de aprendizagem. Elas geram ansiedade, mal-estar, uma sensação de fracasso, arranham a dignidade e para piorar não conseguem avaliar o desenvolvimento da aprendizagem. Ou seja, não servem para nada! Várias pesquisas demonstram que aqueles que estão bem situados profissionalmente raramente foram bons alunos e os que foram bons alunos raramente estão bem situados profissionalmente. O livro “Fomos maus alunos” é um bate papo gostoso entre o Rubem Alves e o Gilberto Dimenstein que questiona exatamente o que significa ser um “bom aluno”.
Quais são as métricas da Nova Educação?
Esse é o ponto principal que é muito difícil de solucionar a partir do que entendemos por educação hoje. A mudança de um paradigma como esse requer um olhar generoso e principalmente amoroso. Só é possível fazer isso de uma maneira sistêmica. O estudante está motivado, feliz, criativo e questionador? Como metrificar isso? Ele coopera, colabora e se sente parte do sistema da aprendizagem? Novamente… como avaliar essas atitudes e sentimentos? Essas métricas já existem de forma dispersa, precisam ser reunidas e consolidadas.
Colaboração
Somos seres interdependentes! Iniciamos nossa vida sendo completamente dependentes e vamos aos poucos conquistando nossa independência para logo mais caminharmos na direção da interdependência. Dependendo da cultura local, das crenças e valores da família e dos princípios que norteiam a aprendizagem essa interdependência pode ser prejudicada. A Educação nas escolas acreditaram, durante muitos anos, no principio da competição como elemento de desenvolvimento da aprendizagem. Hoje as escolas conectadas na Nova Educação tem um árduo trabalho para reverter esse ideia tão impregnada na cultura e na família. Desde pequeno a criança aprende que a vida é uma dança das cadeiras onde a qualquer momento alguém será excluído. A criança cresce com essa verdade que vai sendo sistematicamente reafirmada até o vestibular e depois comprovada com a busca do emprego. Esse jovem desde criança aprendeu que não pode colaborar com o “inimigo”, que precisa “pertencer” a algum grupo de “escolhidos” para se proteger e sentir aquele sentimento de interdependência que está na sua essência. O grande problema é que a maioria desses grupos buscam competir com os outros grupos. Por isso as escolas que estão escolhendo seguir esse princípio da colaboração, tem um longo caminho de incompreensão por parte de uma sociedade ainda desenhada no antigo modelo. Os pais perguntam: e o vestibular?
Conhecimento Relevante
Quais são as coisas que você realmente se lembra dos 12 anos passados na escola? Tanto tempo com tanto conhecimento sendo entregue diariamente que não seria justo que apenas uma fração mínima tenha ficado na memória ou no coração. E quanto à aprendizagem? Tantos anos desenvolvendo essa habilidade e como ficou? Você saiu da escola com uma incrível habilidade para a aprendizagem ou teve que desenvolvê-la mais tarde? Tudo isso para dizer que as questões mais relevantes ao nosso desenvolvimento não foram aprendidas e nem apreendidas adequadamente.
Quais são os conhecimentos mais relevantes? Certamente existem alguns universais como alimentação, fisiologia, ecologia, economia, relações sociais, inteligências e certamente cultura. Depois temos esses mesmos conhecimentos relevantes vistos regionalmente e finalmente os mais importantes que são os vistos localmente. Qual deveria ser o percentual de cada um, dividido ao longo desses 12 anos? Quais são os macro e micronutrientes e para que servem? Somos feitos do que? Carbono? Fósforo? Não importa saber do que somos feitos? Enfim, sem querer exagerar, o resultado é que não recebemos as informações essenciais ou relevantes para nossa vida.
Multimídia
Esse item é um dos mais importantes para o uso de ferramentas de aprendizagem. Trata-se de passar informações utilizando varias mídias. Com isso a aprendizagem obedece ao ritmo do jovem ao invés de impor um ritmo específico. As pessoas são diferentes e aprendem de maneira diferente em momentos diferentes. Ou seja, uma pessoa pode ler uma página em 5 minutos enquanto a outra utiliza 20 segundos. Isso não caracteriza que uma é melhor que a outra. A pessoa que leva 5 minutos pode estar refletindo em alguma frase que a fez se conectar com alguma ideia e precisa ir mais devagar naquele momento. Dizem que Einstein tinha uma “lentidão” para aprender. Com a multimídia as pessoas aprendem na velocidade e no tempo que elas querem/podem. Além disso, a aprendizagem é montada em camadas. A primeira é a essencial, pode ser uma palestra no TED de 18 minutos, um texto de duas páginas ou um áudio de 5 minutos. A segunda camada, se gerou interesse, é uma oferta maior de informações sobre o tema. Essas duas camadas iniciais são preparadas e muito bem escolhidas. A terceira camada é um diretório que leva o interessado para o “mundo” desse tema. Os sistemas de e-Learning bem feitos são muito eficazes!
A Escola é Mundo
Acabou aquela ideia de prisão onde as quatro paredes da sala de aula, o livro didático e uma pessoa (como todos nós) com habilidades limitadas são a principal fonte de aprendizagem na escola. A Escola passa ser o mundo todo! Começando localmente, com o apoio dos outros estudantes, mentores e tutores e usando todos os recursos disponíveis para o processo sistêmico da aprendizagem. “É preciso de toda uma aldeia para formar uma criança” (provérbio africano).
Somos a Natureza
Cada vez mais, fica claro que a Natureza é a melhor ferramenta de aprendizagem que existe. Durante muitos anos a Educação tratou de separar o inseparável. Tratava química, matemática, geografia, artes, história, filosofia, português, literatura como se fossem assuntos separados e com isso foi se perdendo a visão sistêmica e a capacidade de incluir tudo em todos os momentos da aprendizagem. A Nova Educação tem como princípio a interdependência natural orientada pela teoria da complexidade. Ou seja, uma visão de que somos Natureza. O grande problema dessa crise civilizatória que estamos vivendo é a dificuldade de perceber quem realmente somos e como nos relacionamos com tudo que está a nossa volta… ou seja nós mesmos!
Fritjof Capra, um dos ativistas dessa “alfabetização ecológica”, escreve no prefácio do seu livro “A Visão Sistêmica da Vida”:
“À medida que o século XXI se desdobra, torna-se cada vez mais evidente que os principais problemas do nosso tempo – energia, meio ambiente, mudança climática, segurança alimentar e financeira – não podem ser compreendidos isoladamente. São problemas sistêmicos, e isso significa que todos eles estão interconectados e são interdependentes. Em última análise, esses problemas precisam ser considerados como facetas diferentes de uma única crise, que é, em grande medida, uma crise de percepção.”
A evolução dos sistemas de aprendizagem das últimas duas décadas nos permitem repensar completamente sobre os paradigmas que formaram as escolas até os dias atuais. A gameficação dos conteúdos, o entendimento do DNA da arte do aprender (exemplo: teoria U), a queda de alguns “muros” das escolas (exemplo: Khan Academy), a percepção do equívoco da separação por faixa etária, a personalização e localização do conteúdo, a obsoletização das métricas de avaliação, a inversão da grade curricular pautada pela escola para uma pautada pelo estudante e principalmente o fim da destruição da criatividade e da dignidade dos estudantes gerada por um sistema impositivo de comportamento e por uma competitividade comparativa que geram o famigerado bullying.
O momento pelo qual a Educação está passando e principalmente o tempo que está levando para a transformação das escolas tem levado alguns pais a optarem por educar fora da escola. O Homeschooling é quando os pais decidem criar uma estrutura de aprendizagem em casa. Há diversas modalidades de Homeschooling. São muitas! Desde simplesmente transportar o conteúdo programático da escola para dentro de casa até a criação de conteúdos próprios. O Homeschooling existe há muitos anos em outros países e além de regulamentado, conta com uma grande quantidade de sistemas de aprendizagem que apoiam o estudante e os pais, principalmente os encontros com outros homeschoolers. No Brasil ainda está em desenvolvimento, mas já conta com grupos de apoio e alguns sistemas de aprendizagem desenvolvidos para isso. Outra modalidade de aprendizagem fora da escola é o Unschooling. Ela parte do princípio que a criança/jovem está o tempo todo aprendendo e que essa aprendizagem se desenvolve melhor quando o interesse nasce do próprio “aluno”. O Unschooling acredita também que cada indivíduo tem um ritmo próprio no desenvolvimento. Portanto, o conteúdo é demandado e não mais imposto como na escola e no homeschooling. A aprendizagem se faz de forma natural. O Unschooling é a modalidade onde todos os paradigmas antigos sobre educação são revistos e alterados. Leva-se um bom tempo para entender que o Unschooling é, também, uma opção viável de aprendizagem. Aprendizagem fora da escola continuará a crescer até que as escolas se transformem em comunidades de aprendizagem. Já existem mais de uma centena de escolas assim, que estão conduzindo as outras escolas para essa Nova Educação.
Como deve então ser uma escola na Nova Educação? Além dos princípios, como seria o dia a dia delas? Quais são os diálogos que podem enriquecer essa questão e produzir respostas eficazes rumo a uma Nova Educação? Precisamos de uma escola integral? Mas o que é uma escola integral? É aquela que recebe o estudante pelo período integral? Ou aquela que trata o estudante de forma integral? A discussão sobre o tema de manter o aluno por mais tempo na escola é bem complexa e não existe certo ou errado. A questão é que tipo de Educação será ampliada? Aquela que abafa a criatividade, arranha a dignidade e desindividualiza o indivíduo? O argumento de que qualquer porcaria é melhor que deixá-lo à mercê do crime e da droga é… absolutamente sem noção! Sem noção do que seja a construção do SER de ser humano, da cidadania, da integralidade do seu potencial único. Portanto, em primeiro lugar, transformar as escolas naquilo que nunca deveriam ter deixado de ser: um espaço de aprendizagem.
A palavra “escola” tem sua origem na palavra grega “Skhole” que significa “lazer” (no qual se emprega lazer). Quem estuda em profundidade os sistemas de aprendizagem sabe que brincar e jogar são os principais instrumentos do aprender e apreender. Como as escolas se transformaram no que são hoje é outra história… aliás, uma história bem interessante!
Não é possível entender o que seja Educação sem um olhar sistêmico e a compreensão da teoria da complexidade. Assunto para um livro todo. Como já mencionei, as coisas estão todas interligadas e o movimento da Educação tem um papel fundamental em nossa civilização que atualmente vive uma crise existencial. Uma forma rápida de olhar para esse tema é mergulhar nas “Sete Lições Complexas de Educação para o Futuro” do Edgar Morin (conhecidas no Brasil como os Sete saberes necessários à educação do futuro). São eles: Detectando erros e ilusões do conhecimento; princípios de um conhecimento pertinente; ensinando a condição humana; identidade planetária; confrontando as incertezas; entendendo-nos uns aos outros e ética para a espécie humana.
Se esses buracos negros da educação não forem trabalhados continuaremos a ter uma educação voltada para o passado ao invés de uma voltada para o futuro. Ainda teremos erros grosseiros no campo do conhecimento como o de que Cristóvão Colombo descobriu a América, quando há muitos anos sabemos que não foi ele. Fora todas as inverdades criadas por uma agenda oculta de quem detinha o poder.
Para não dizer que não falei do Bullying
Depois de tantos anos de campanhas, o bullying continua a existir nas escolas. Por quê? Claro que ninguém em sã consciência é a favor do bullying. Claro que pais, educadores e professores procuram meios para evitá-lo. O que faz com que alguns jovens pratiquem esses ataques?
A questão é delicada e precisa ser trabalhada com cuidado. Como esse problema é geral e pode causar sérios danos, principalmente danos futuros para os dois lados (vítima e agressor), toda atenção é pouca! Todos os pais estão sujeitos a que seus filhos estejam envolvidos direta ou indiretamente nisso. Aqueles pais que acham que com eles isso não está acontecendo são os que correm maiores riscos.
Além da questão fundamental do monitoramento (não patrulhamento) nas mídias sociais e navegação da web, o importante é estabelecer uma cultura de paz, solidariedade e colaboração entre os jovens. Lamentavelmente, o sistema educacional das escolas promove o contrário, acreditando que estão ensinando alguma coisa. Elas fazem provas que testam a memória ao invés do conhecimento do aluno e para piorar dão notas comparativas e as explicitam publicamente. Isso gera uma competição longe do saudável. Acredita-se que a maior parte das ações de bullying nasce para compensar a dignidade arranhada.
A escola também obriga os alunos a ficarem parados durante muito tempo tendo que prestar atenção à grade programática definida de cima para baixo, que geralmente é chata para a maioria. Normalmente, esse conteúdo está longe de suas realidades atuais e geralmente é obsoleto. Esse sistema promove o represamento da criatividade, bloqueia a energia do fazer e desvia o interesse incondicional de aprender. Com isso represado e o incômodo de que você “não pertence”, que tipo de linguagem e intenção podem ser trocadas pelo WhatsApp?
Longe de dizer que as escolas ou a educação são culpadas disso. Esse é um problema sistêmico! Elas (as escolas e a Educação) são apenas o contexto onde o bullying se alimenta e se reproduz. Elas estão mais para a água parada onde o mosquito se reproduz e transmite a Dengue. Quem é o culpado da Dengue? A água parada? O mosquito? A Dengue? Todos e nenhum! Quem é o culpado do Bullying? As escolas? O sistema de educação? Os alunos? Os professores? Os pais? O Bullying?
Se não pensarmos numa solução sistêmica para esse problema de complexidade, dificilmente encontraremos um caminho para resolvê-lo. Talvez seja possível resolver algum problema pontual de um filho/aluno. Agora, para resolver a escola como um todo, são muitos “pauzinhos” para mexer e precisa ver se há vontade política e pessoal da direção e dos pais. O diálogo pode ser o caminho mais curto para reduzir o bullying.
Românticos Conspiradores
Eu já era um romântico conspirador muito antes de saber da existência do grupo dos Românticos. Foi amor a primeira vista no 2º ENARC (Encontro Nacional dos Românticos Conspiradores) em março de 2010 em Curitiba. A carta de princípios do núcleo São Paulo (formulada em 2008) já diz tudo no seu primeiro item:
“Educar-se para a Integralidade – A educação deve contemplar a humanidade dos educadores e educandos em sua totalidade, sendo coerente com a indivisibilidade das dimensões biológica, mental e espiritual de cada pessoa. Assim como cada ser humano possui diferentes limites, possui também diversas potencialidades que poderão, ou não, ser desenvolvidas e expressas a partir das formações e transformações que ocorrem durante toda a vida. Para isso a educação deve ser um processo intencional, contínuo e transformador, que leve a integralidade e que repercuta durante toda a vida.”
Quando escutamos que Educação, como princípio, deve contemplar a humanidade dos educadores e educandos em sua totalidade… parece óbvio! Também é óbvio que deve ser coerente com a indivisibilidade das dimensões biológica, mental, emocional e espiritual de cada pessoa. Esse mesmo princípio ainda contempla a ideia de que, assim como cada ser humano possui diferentes limites, possui também diversas potencialidades que poderão, ou não, ser desenvolvidas e expressas a partir das formações e transformações que ocorrem durante toda a vida. Essas afirmações sobre o que deve ser a Educação são consenso para a maioria dos educadores e pedagogos. Em outras palavras esse princípio diz que devemos olhar e incluir o SER de ser humano dos que educam e são educados, levar em conta corpo, mente e emoção, permitindo o florescimento das potencialidades inerentes a cada um. Para isso a Educação deve ser um processo intencional, contínuo e transformador, que leve a integralidade e que repercuta durante toda a vida.
Se isso tudo isso é óbvio por que a maioria das estruturas educacionais está tão longe desse princípio?
O TED (Talk) mais visto até hoje é o do Ken Robinson, “As Escolas Matam a Criatividade?”. Acredito que não exista um educador que não o tenha visto… sei que sou um otimista! Ken conta a história de uma menininha de seis anos que estava numa aula de desenho. Ela estava sentada no fundo da sala desenhando. A professora disse que ela quase nunca prestava atenção na aula, mas estava impressionada que agora estava desenhando. A professora se aproxima e pergunta o que ela está desenhando. Ela responde: Estou desenhando a imagem de Deus! A professora logo retruca que ninguém sabe como Deus se parece. A menina responde: saberão num minuto! Outra história inesquecível que ele conta nesse TED é a da Gillian Lynne. Lembram-se? Claro que sim!
Essa palestra foi gravada em fevereiro de 2009 e de lá para cá temos centenas de palestras, vídeos e filmes maravilhosos que nos inspiram a rever nosso olhar para a Educação.
A Nova Educação pode ter vários nomes, varias origens e principalmente corajosos projetos em andamento. Não será suficiente e muito menos possível melhorar a Educação, ela depende de uma transformação completa. Uma Nova Educação!
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