
Desconfortável Zona de Conforto!
Linguagem Aumentada – ilusões da Inteligência Artificial
A Inteligência Artificial continua gerando muita mídia. Lembrando novamente que pouca gente falava disso em dezembro de 2022, um pouco mais começaram a falar em janeiro (eu incluído), em fevereiro começou a movimentar a atenção dos mais conectados e de algumas mídias e em março só se falava disso. No mês de abril se ampliou geometricamente a fascinação pela IA, principalmente pela capacidade dos Grandes Modelos de Linguagem (Large Language Models) de gerar conversas e, com isso, parecerem que possuem uma inteligência própria. Estou chamando isso de Linguagem Aumentada.
É difícil pensar diferente disso! Imagine um computador e tudo que ele é capaz de fazer. Procure pensar um pouco na quantidade coisas que ele faz. Escreve esse texto, corrige palavras, faz contas, gera planilhas, entra na internet, passa vídeos, cuida da agenda, processa muita coisa ao mesmo tempo… e por aí vai! Ele tem inteligência? Depende da definição de inteligência. Pare por um minuto, respire fundo e pergunte-se o que é inteligência. O que é inteligência? Ninguém tem dúvida de que sabe o que é inteligência, portanto… o que é inteligência? Percebe que não é tão simples definir o que seja inteligência e muito menos o que seria uma inteligência artificial? Pois é… agora vem o principal fator que vai facilitar entender o fascínio. Um computador só consegue entender duas coisas: ligado e desligado. Ele só consegue saber se está passando corrente ou não. Só isso mesmo! Portanto tudo aquilo que você pensou do que ele faz, ele faz com a combinação de apenas duas informações combinadas: 0 e 1. Outro exemplo para entender a magnitude do poder do uso de combinações simples é em relação as cores da TV. Quantas cores vemos? Dezenas, centenas, milhares, milhões? Só existem 3 cores na tela de uma TV ou monitor, vermelha, verde e azul. Todas as outras cores que aparecem são formadas pela combinação dessas três. Estou trazendo esses dois exemplos para dizer que o poder da ampliação do uso da linguagem nos dá a ilusão de que há algum tipo de consciência.
O deslumbramento das pessoas com os GPT’s e similares é porque estão sendo iludidos como um mágico ilude a plateia com seus truques. A ilusão da consciência da máquina ocorre, como já mencionei, pela surpreendente ampliação da linguagem. Uma ampliação de consciência (nos humanos) gera uma ampliação da linguagem. Por isso que a ampliação da linguagem nas máquinas nos faz acreditar que houve uma ampliação da consciência. Isso não aconteceu! Estamos vivendo, nesse tema, uma ilusão idiótica! Todos os dias são publicados artigos, com muitos deles falando bobagens sobre a inteligência artificial.
A linguagem e o exercício de ampliação dela amplia as fronteiras da consciência. A língua “denuncia” a cultura do povo que a usa. Ou seja, a linguagem está totalmente integrada com a cultura. Se pensarmos na dificuldade de traduzir um texto de filosofia (nem falo de poesia) do alemão para as outras línguas percebemos que essa traidora tarefa é mais difícil para uma língua pobre do que para uma rica (como o português). No entanto para o leitor de português terá que ter muito mais conhecimento da língua (ideal ser formado em Letras Vernáculas) para minimamente entender. Enquanto a tradução para o inglês (mais pobre) facilita a vida do incauto leitor. Quero dizer com isso que só é possível expandir a consciência se tiver espaço para isso. E o espaço se constrói com a ampliação de leituras e repertório da língua e uso da linguagem.
Acredito que temos uma necessidade atávica de ter uma explicação para tudo e com isso a necessidade de adquirir, incessantemente, conhecimento. A ponto que quando não temos uma explicação “compramos” a que estiver em oferta. A necessidade incontrolável de amealhar mais conhecimento nos faz sentir mais seguros, mais donos do nosso destino.
Quanto a educação, talvez a Inteligência Artificial Geral (AGI), pode dar uma sacudida no atual modelo mental das escolas que ainda segue na contramão da aprendizagem, preocupando-se muito mais com o mercado do que com a mercadoria. O objetivo não é de formação e sim de informação. O top (inverso do verso) é uma escola trilíngue onde os cursos são virtuais (não virtuosos) e o corpo docente (apesar de indecente) são Ph.D. (em metodologias do século XIX). A propaganda das escolas exclui o que está entre os parênteses acima e propaga estarem conectados com o futuro (do pretérito do indicativo). Perdoem pelas minhas disrupções.
Em tempo, fiz as duas perguntas acima para o GPT-4. Seguem as respostas:
O que é inteligência?
Inteligência é uma capacidade cognitiva que envolve a habilidade de aprender, compreender, raciocinar, resolver problemas, adaptar-se a novas situações e utilizar o conhecimento adquirido de forma eficaz.
Um computador tem inteligência?
Os computadores são capazes de realizar tarefas complexas de processamento de informações em velocidades muito superiores às dos seres humanos. No entanto, a inteligência dos computadores é diferente da inteligência humana, pois os computadores operam com base em instruções e algoritmos predefinidos que foram programados por seres humanos.
Buzz Feed News – vida longa ao jornalismo digital!
BuzzFeed fechou a área de notícias. A proliferação de sites de pseudonoticias diluiu a importância daqueles que verdadeiramente informavam fora das amarras dos patrocinadores das mídias tradicionais. O ótimo jornalismo digital parecia um caminho sem volta para o jornalismo em geral, as mídias tradicionais tiveram que correr atrás para não morrer. O Buzz Feed News ganhou até um prêmio Pulitzer uma reportagem investigativa na qual utilizaram imagens de satélite para identificar as infraestruturas construídas pelo governo chinês para a detenção em massa de muçulmanos.
Quem poderia imaginar que o público iria preferir as informações falsas. Quem poderia imaginar de que as informações de qualidade produzidas com independência do império das notícias e seus imperadores não prosperariam? Não é só as BuzzFeed com dificuldades de manter o negócio. A Vox demitiu cerca de 7% do seu pessoal no início do ano. A Vice está avaliando uma venda que provavelmente renderá um preço muito abaixo das elevadas avaliações atribuídas ao grupo nas rodadas anteriores de capitalização.
O que faz alguém escolher ser enganado e acreditar em mentiras? A resposta deveria ser que ninguém escolhe isso… não é tão simples.
Jornalismo 2.0 foi o nome do evento que produzi em 2008 na infância do Jornalismo Digital que era pejorativamente chamado de “blogueiros” e as mídias sociais não eram levadas a sério. Obama tinha acabado de vencer a eleição e quando perguntado como fez respondeu com duas palavras: mídias sociais. Foi o início do início do início. Esse evento foi um marco do Jornalismo Digital onde ainda existia a Lei de Imprensa e celebrávamos os 200 anos da imprensa no Brasil. Entre os nomes de palestrantes estavam Pollyana Ferreira, Rodrigo Azevedo, Carlos Piazza, José Marcio Mendonça, Cadu Lemos, Marcelo Coutinho, Roberto Mayer, Fabio Steinberg, Manoel Fernandes, Alan Dubner e Armênio Guedes (homenageado). Estávamos também celebrando os 8 anos de existência de um dos primeiros veículos integralmente digital, o Itu.com.br, ganhador de vários prêmios de jornalismo digital. Após quase 20 anos de atuação tivemos que, tristemente, fechar as portas em outubro de 2019. Além de tristes ficamos chocados em perceber que a cidade de Itu não valorizava sua principal mídia de agenda positiva. Qualquer visitante ou turista, da cidade, passava pelo site para saber dos atrativos de Itu. Durante muitos anos fomos a única busca para os filmes dos cinemas, restaurantes, shows e eventos da cidade. Como não querer manter esse patrimônio cultural? Como renunciar à principal porta de entrada para a cidade? O que aconteceu? Difícil responder! Pois é… fomos pioneiros na abertura de uma mídia de notícias integralmente digital e, também, no fechamento de uma imprensa séria e comprometida com a verdade!
Dia da Terra – o que temos para celebrar?
Na verdade, aqui no Brasil, temos a celebrar a entrada de uma nova gestão governamental ambiental. Marina Silva é a melhor notícia que o planeta Terra poderia receber esse ano.
432 dias da invasão Russa na Ucrânia – vida que segue?
Como é possível que essa atrocidade continue? Como é possível achar que há algo de normal nisso? Como é possível dizer que a Ucrânia tem alguma responsabilidade nesse crime em andamento? Afinal… quem somos nós humanos?
“A maior benção e o maior perigo é no que acreditamos.”
Michelangelo em São Paulo – no MIS Experience
Exposição imersiva sobre a Capela Sistina e os afrescos de Michelangelo chega ao MIS Experience e ficará aberta até o fim do mês.
Imagem desse texto foi gerada em uma das plataformas de Inteligência Artificial (Dall-E2), onde acrescentei a frase do início
“A Desconfortável Zona de Conforto”.
Efemérides (trechos retirados dos últimos três anos em primeiro de maio):
Estamos a um mês da Stockholm+50 que deveria ser o principal marco dos 50 anos de ações para a sustentabilidade e, no entanto, o fracasso já está anunciado pelo hackeamento desse evento pelo governo Sueco que ignorou completamente o esforço de anos de iniciativas da sociedade civil. É triste ver que no país de Greta Thunberg e Johan Rockström, a mais importante celebração das últimas décadas, será vergonhosa.
Para dificultar mais ainda nossa relação com essas certezas e incertezas, existe uma manipulação proposital para que passemos a pensar dessa ou daquela maneira, para que façamos dessa ou daquela forma que nos induzem. Entre todas as tragédias que estamos vivendo a DESINFORMAÇÃO é a pior delas! Se fosse falta de informação não seria tão grave… desinformação e a manipulação das informações são o que há de mais desumano! E isso em nome do poder e da ganância. Não sei como a história vai registrar esse período, não sei se haverá centenas (talvez milhares) de condenados por crimes contra humanidade. Não sei como milhares de pessoas conseguirão apagar os rastros de suas manifestações que contribuíram para esse desastre mundial, para que seus netos não se envergonhem de tamanha falta de noção herdadas em seu DNA. Não sei como ficarão as pessoas que não contribuíram diretamente para ajudar, de alguma maneira, a humanidade e ficaram apenas reclamando da culpa dos outros. Seja pela busca de benefício próprio, corrupção ou apenas banalidade do mal (conceito Hannah Arendt).
Não sei… só sei que não sei!
Nesse mês se ampliaram os sintomas de incontinência virtual e uma crença, inacreditavelmente ingênua, de que as funções do presencial podem ser simplesmente repassadas para o virtual. Vemos isso em larga escala nas escolas, nas terapias e nas reuniões.
Escolas – A maioria das escolas estão com dois graves problemas: o primeiro é que estão evidenciando a falta de know-how nos sistemas de uma verdadeira aprendizagem que aparecem na simples transposição para o virtual sem uma clara declaração que não sabem o que estão fazendo. Tem escolas que já vem percebendo isso há muito tempo (o que é uma coisa boa) e outras que não. Continuam fingindo que ensinam e os alunos continuam fingindo que aprendem. O segundo problema é que os pais vão começar a se questionar sobre a função da escola. Afinal… para que serve mesmo esse alto e longo investimento na escola? Nada que já não tenha passado, em alguma vez, pela cabeça dos pais, mas que rapidamente procuram esquecer essa disrupção. Nesse momento de crise existe uma oportunidade para questionar o atual modelo mental que construiu os sistemas de aprendizagem das escolas. Será as escolas tem essa coragem? Será que os pais tem essa ousadia? Sim, por que os estudantes estão prontos faz tempo!
Deixe uma Resposta