
Dia da Mentira, Verdade?
A verdade e a mentira se confundem de tal maneira que hoje está muito mais para uma escolha do que gostaríamos de acreditar do que uma busca pela verdade.
A fábrica de tornar as ficções criadas em verdadeiras funcionam de uma maneira até simples. A receita começa com uma porção generosa de verdade comprovada. Acrescenta-se, a gosto, mentiras deslavadas. Para tornar a ficção deliciosamente viral é necessário pitadas de criatividade com poder de alterar as emoções. O segredo está no cozimento onde se leva ao fogo muitas e muitas vezes e em diversas cozinhas dando a sensação de que o quitute é legitimo. Para completar a farsa, faça a história ser oferecida em muitos endereços, a maioria são cadeias próprias de restaurantes servindo comida requentada fingindo que existem. Os botequins são uma ótima opção para os paladares mais populares e viciados em pimenta. Não se preocupem com os formadores de opinião, eles virão, automaticamente, assim que a história começar a viralizar para parecer que foram eles que a viralizaram.
E a intenção de ter essa trabalheira toda? De gastar uma fortuna? Para que serve ficar sistematicamente enganando as pessoas? Coisa boa não deve ser!
Uma intenção pouco percebida é a de misturar uma receita repleta de mentiras deslavadas e absurdas que não tem qualquer intenção de se passarem por verdades. A ideia é causarem uma grande comoção e revolta para encobrir algo que não será percebido pelos militantes distraídos com a cortina de fumaça.
A trama não para por aí. Existe também um número enorme de pessoas que se sujeitam a denegrir os que se manifestam contra a ficção do patrão por apenas alguns centavos. Fora os que são alvos permanentes das mentiras torneadas verdades.
As chamadas mídias tradicionais perderam a exclusividade em fornecer notícias manipuladas e nunca imaginaram que a total falta de pudor em mentir descaradamente substituiria uma notícia muito mais cuidadosa em sua confecção. Nasceu uma nova e importante modalidade do jornalismo que são os checadores de fatos (facts-checking). No Brasil temos, por exemplo, o ComProva , o Lupa e o Aos Fatos, entre outros. Já tem checadores de fatos fakes. Cuidado!
No campo do meio ambiente estamos bem servidos. Temos o SEEG, o Fakebook e o Mapbiomas. Os três são fornecedores de dados e informações muito precisos criados pelo Observatório do Clima e seus parceiros.
FAKEBOOK: https://fakebook.eco.br/
SEEG: http://seeg.eco.br/
MAPBIOMAS: https://mapbiomas.org/
A chamada era da “pós verdade” começou no Brasil em 2014, se fortaleceu nos EUA e no Reino Unido em 2016 e de lá para cá vivemos numa sociedade da desinformação.
Incrível a capacidade do ser humano de acreditar no inacreditável!
Aliais, acreditar no que não existe foi, segundo Yuval Harari, o que nos fez chegar ao topo da cadeia alimentar e conquistar o planeta todo. Yuval diz que acreditar numa ficção foi o que possibilitou nós, homo sapiens, de nos agruparmos em números cada vez maiores, formando comunidades incomuns para as outras espécies de mamíferos. Vou postar novamente o vídeo dele no TEDx nisso, é impressionante! https://youtu.be/nzj7Wg4DAbs (escolha sua legenda).
Parece mentira, mas não é:
1- Deputado Estadual por São Paulo, o segundo mais votado em 2018, e pré-candidato ao governo do Estado de São Paulo, visita a Ucrânia e disse, em áudio vazado, (além de outras baixarias) que a “ucraniana é fácil porque é pobre”. Impossível ouvir o áudio sem achar que é fake. Ele mesmo admitiu que é verdade. A repercussão foi internacional. Espero que os quase 500.000 que votaram nele estejam morrendo de vergonha!
2- Presidente da República do Brasil recebe a medalha do mérito indigenista. Sim é verdade! Parece fake news ou piada de mal gosto. O ministro da justiça (também inacreditável) concedeu a honraria a aquele que mais vem contribuindo para a dizimação dos povos indígenas. Entre os 25 agraciados estão ministros como Braga Netto (Defesa), Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Tereza Cristina (Agricultura). Parece que o critério para receber a medalha foi invertido. Também, para a vergonha de todos nós, com larga divulgação na mídia internacional.
3- Parece uma mentira grosseira, mas lamentavelmente é verdade! Ninguém, em sã consciência, faria uma coisa desses com o Brasil. Todos os retrocessos e ataques diretos, do governo, ao meio ambiente e aos povos originários são inacreditáveis. Entre os absurdos está o Saldão do Petrolão que está com pouca ou quase nenhuma visibilidade e vai ser decidido agora no dia 13 de abril. Divulgar! Divulgar! Divulgar! A estratégia é sempre aproveitar a miopia das mídias para PASSAR A BOIADA. Vão ofertar 1.068 blocos de exploração de petróleo e gas pelo Brasil todo. E dessa vez o truque sujo é a modalidade deixar de ser um leilão como anteriormente e se tornar Oferta Permanente. Ou seja quando aparecer um interessado será negociado. Recomendo a leitura do artigo da Mar sem Petróleo da Arayara e buscarem por mais informações ou demandar mais informações das mídias que você acompanha. É bem sério! Muito sério mesmo!
Mentira tem perna curta! Será?
Hoje já se sabe que o golpe militar de 1964 foi no dia 1 de abril e não no dia 31 de março como, durante anos, tentaram emplacar essa mentira. Muito irônico e simbólico. Os que ainda dizem que acreditam nessa mentira ou estão desinformados ou querendo desinformar.
Qual será a verdade sobre o golpe militar? Teria sido uma forma de evitar a invasão militar dos EUA que já estavam em águas territoriais brasileiras? Será que as forças armadas brasileiras, para evitar o pior, resolveram destituir o governo a força com a intenção de devolver logo que “arrumassem a casa”? Será que forças dentro do próprio exército conspiraram para reverter a intenção inicial e implantar uma ditadura? Será que para isso, além das torturas e deportações, conseguiram criar um personagem que fingia ser oposição ao regime, mas na verdade era um colaboracionista infiltrado? Teoria da conspiração? Ficção? Roteiro de um filme? O importante é perceber que a diferença entre a ficção e a realidade é apenas o que acreditamos. Como fazemos para acreditar numa coisa ou em outra? O documentário de 2020, “O Dilema das Redes” (The Social Dilemma), deixa muito claro como somos facilmente manipulados sem nos dar conta que nossas decisões estão sendo tomadas por influência dos (mal intencionados) algoritmos. Possivelmente mais de 90% dos eleitores foram e são propositadamente manipulados. Quanto % desses eleitores sabem disso? 1%? Se tanto! No primeiro turno das eleições presidenciais de 2018, conseguiram convencer um grande (grande mesmo) contingente de eleitores a abandonar o candidato que escolheriam para votar contra o que não queriam. Como foi possível manipular as pessoas dessa maneira? Como foi possível fazerem as pessoas acreditarem nessa ação completamente ineficaz? O resultado de uma manobra surreal como essa, é levar para o segundo turno os dois piores candidatos. Para piorar cria a ilusão de que os outros candidatos não eram representativos. Agora em 2022 vamos enfrentar o mesmo dilema das redes? Continuaremos a ser manipulados pela polarização dos algoritmos? Será que não aprendemos nada? Vamos continuar votando no segundo menos ruim acreditando que estamos evitando que o pior ganhe? O sentido democrático das eleições não era votar no candidato que melhor representa o que você acredita? Um percentual minúsculo acredita genuinamente em cada um dos considerados piores candidatos pela maioria. Um percentual um pouco maior se beneficia direta ou indiretamente de um desses piores e, portanto, acredita ser justo querer que ganhe para manter o benefício. Um percentual um pouco maior ainda, acredita em apostar seu voto num desses dois que estão na frente das pesquisas. Por isso acredito, que muitas vezes, as pesquisas são profecias autorrealizadas. Em 2014, no primeiro turno das eleições presidenciais, quem estava em segundo lugar nas pesquisas era a Marina Silva, com boas chances de vencer a Dilma no segundo turno. UM DIA antes da eleição as pesquisas DataFolha e Ibope (já falecida) apontaram Aécio Neves em segundo lugar. Ou seja, Marina Silva que estava em segundo lugar nas pesquisas desde a morte de Eduardo Campos em 13 de agosto até o dia anterior da eleição, perdeu uma significativa quantidade de votos com a migração de votos dos que não queriam o PT no governo e portanto votam em quem está em segundo lugar nas pesquisas. Mesmo com todas as Fake News e barbaridades orquestradas pelo confesso João Santana, não seria plausível acreditar que em dois dias tenha revertido as intenções de votos. E por mais incrível que pareça, um candidato à presidência contratou o marketeiro para a eleição desse ano. Teoria da conspiração? Ficção? Roteiro de documentário do Netflix? Relaxem… é 1º de abril!
As Fake News sempre existiram, mas a forma de levar as mentiras de forma criminosamente organizada para a manipulação da opinião pública começou no Brasil nas eleições de 2014. O governo da época, ao perceberem que perderiam as eleições, usaram de toda sorte de golpes e artimanhas para denegrir a imagem daquela que seria hoje presidente de um Brasil muito diferente. Em 2016 essa manipulação criminosa da opinião pública elegeu o improvável Donald Trump para a presidência dos EUA, sendo que a Hillary Clinton era folgadamente a favorita. Até envolvimento em tráfico de bebês, contrabando de crianças para pedófilos que governam os EUA conseguiram fazer muitas pessoas acreditarem que a Hillary estava envolvida. Uma pesquisa rápida vai encontrar dezenas de histórias sem nexo, principalmente as veiculadas pelo grupo QAnon. Ainda em 2016, o Brexit foi outro exemplo de como conseguir fazer o Reino Unido fazer o que não queria fazer… sair da União Europeia. Vale lembrar que os detalhes dessa manipulação foi amplamente divulgada com a ascensão e queda da Cambridge Analytica e a colaboração do Facebook e outras mídias sociais.
De 2014 para cá, as mentiras são o nosso dia a dia. Cada um acredita no que quer por mais absurdo que possa parecer para o outro. Vamos ter que criar outra forma de nos relacionar com o constante aumento da polarização entre o mal e o mal. A luta entre o bem e o mal ficou para trás? Será que não temos mais as nuances entre um polo e outro? As questões ligadas a gestão da pandemia só fez aumentar a distância entre “nós” e “eles”, entre o “certo” e o “errado”, entre a “ciência” e a “ciência”. Conforme o meu texto do mês passado, tudo que precisamos é de AMOR.
Essa semana, para mim, foi bem especial.
Na segunda-feira (28/03) foi a reunião preparatória da Stockholm+50 na sede da ONU (Nova York). Nenhuma novidade, continuei sentindo que teremos um evento inócuo. Tudo indica que o governo da Suécia hackeou o evento que vinha sendo organizado pela sociedade civil. Se realmente for isso, será triste ver o país que foi sede da primeira reunião de sustentabilidade, marco importante de tudo que temos hoje e de seus desdobramentos quanto a emergência climática. Os (apenas) dois dias do evento, 2 e 3 de junho, nem respeitam o 5 de junho data da Estocolmo 72 que se tornou o dia mundial do meio ambiente. Triste no país do Fridays for Future da Greta Thunberg e do Johan Rockström, referendado pelo David Attenborough no documentário Breaking Boundries.
Nos dois dias anteriores a Stockholm+50, a SoL (Society for Organizational Learning) estará realizando um evento (Stockholm Learning Plaza) que estou ajudando a organizar. Teremos no primeiro dia uma série de conversas generativas, entre elas um diálogo entre Peter Senge (criador da SoL) e Jan Artem Henriksson, diretor do Inner Development Goals (Objetivos do Desenvolvimento Interior).
Os Objetivos de Desenvolvimento Interior (IDGs) são um modelo das capacidades, qualidades e habilidades que precisamos para alcançar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Eles querem educar, inspirar e capacitar as pessoas para serem uma força positiva de mudança na sociedade e encontrar uma maneira mais intencional de olhar para nossas vidas e as vidas das pessoas ao nosso redor. São uma iniciativa global que desenvolve habilidades internas, habilidades e outras qualidades para pessoas e organizações envolvidas em esforços para contribuir para uma sociedade global mais sustentável.
O segundo dia será de visitas técnicas em projetos que estão fazendo a diferença no movimento ambiental. O evento terá a possibilidade de escolher entre o presencial e o virtual. Informações detalhadas e inscrições podem ser feitas no site. https://sol-learning-plaza-2022-onsite.confetti.events/
Que bom ver a parte do Brasil que funciona
Ontem retornei de um evento, de três dias (29,30 e 31/03), com 150 ambientalistas de 53 entidades das 72 entidades membros do Observatório do Clima (oc.eco.com.br). Foi o mais generativo encontro em que já estive. Aprendizagem nas trocas de saberes e conhecimento. Foi uma esperança (esperançar) de que podemos contar um com os outros, de que não estamos sozinhos, apesar de nossas diferenças. Não sei se já aconteceu algo semelhante no Brasil. O Observatório do Clima celebrou 20 anos de existência e de persistência. Estávamos em peso cuidando do futuro aqui e agora. Cuidando dos cuidadores e dos criadores. Falando com a alma, trabalhando com o ser integral. Integrando! Esse encontro foi histórico e será lembrado por décadas.
Para coroar a semana, hoje de manhã, no encontro mensal da SoL Brasil (Society for Organizational Learning) recebemos a Marcia fundadora do INSTITUTO RAIAR e idealizadora do PACTO PELA ALFABETIZAÇÃO. É uma emoção escutar a trajetória dela nesse projeto tanto no âmbito pessoal como institucional. O amor pelas crianças e profundo conhecimento que adquiriu para diagnosticar a causa e agir diretamente nela foi animador. Ela se baseou numa experiência exitosa da cidade de Sobral e a ampliou. Ela trabalha em parceria com as redes municipais de educação e tem como principal objetivo a implantação colaborativa de uma política pública de alfabetização para melhorar os indicadores de alfabetização, aumentando as chances de cada criança avançar em sua trajetória escolar. Foi lindo! Espero que tenhamos a oportunidade de conhecer em profundidade esse projeto de amor pelas crianças. Me lembrei muito da Peo (Maria Amelia Pereira) da Casa Redonda que, para mim, é o melhor exemplo de educadora no Brasil. Ela se foi no início de novembro passado.
Primeiro de abril é, também, o dia mundial do Psicodrama. O seu criador, J.L. Moreno, foi uma pessoa extraordinária e muitas das suas visionárias criações deram frutos e estão hoje no nosso dia a dia sem que saibamos que ele tenha sido o pai. Ele é, por exemplo, pai das redes sociais. Isso mesmo! O Facebook, Instagram, Tik Tok, WhatsApp devem suas origens a ele. Foi o primeiro a desenvolver as ideias de redes socionomicas. Tudo que veio depois partiu de seus modelos.
O Psicodrama, como ele dizia, será a principal terapia do século 21. Isso já está acontecendo de forma acelerada. Entre as diversas modalidades, uma delas, o Psicodrama Virtual está se tornando cada vez mais utilizado. A pandemia acelerou sua necessidade e apesar de ainda estar no estado da arte, está se aprimorando cada vez mais.
Conhecer o Psicodrama é fundamental para qualquer pessoa trabalhando com saúde. Ele vem sendo cada vez mais recomendado para inúmeras questões. Acredito que realmente será “a” terapia deste século.
No início de setembro desse ano será realizado o Congresso Brasileiro de Psicodrama, liderado pela talentosa Maria Célia Malaquias. Será uma oportunidade para aqueles que ainda não estão familiarizados conhecerem melhor essa poderosa terapia. Estou tendo o privilégio de estar ajudando na organização e de apresentar, com a Érica Magacho, uma aula sobre o Psicodrama Virtual. Vejam mais informações e inscrevam-se no psicodrama.com.br
Agência Pública
Quero recomendar uma ótima entrevista da Agência Pública, publicada hoje, para conhecer algumas das ideias e ideais da Marina Silva. Ela está avaliando se vai aceitar ser candidata a Deputada Federal. Ela diz: “derrotá-lo (o presidente) é um ato de legítima defesa da civilização, da democracia, dos indígenas, da educação, de tudo que é constitutivo de avanços da dignidade humana.”
E a pandemia? Acabou?
Não!
Vou deixar para o próximo mês falar das idas e vindas, das verdades e das MENTIRAS que ninguém realmente sabe o que está acontecendo. Esse texto todo se reflete fortemente no desempenho da gestão desse tema desde o início de 2020.
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