
Celebrando os 100 anos de idade do fabuloso Edgar Morin
O Edgar Morin vai fazer 100 anos na semana que vem (08/07/2021). Li seu último livro que foi publicado no dia 1º do mês passado… é um presente para todos nós “Lições de um século de vida”. Está sendo amplamente homenageado em várias partes do mundo. Essa semana o SESC realizou a “Jornada Edgar Morin” em que ele compareceu e nos deixou uma mensagem de esperança. Ele está muito bem e continua um “lindo”. https://youtu.be/WT8fYtySf28 (Morin aparece aos 14 minutos)
Estamos mergulhados numa crise civilizatória, numa crise de percepção, numa crise ambiental que há muitos anos não vivíamos. Tudo que está acontecendo deixa claro de que não podemos continuar a fazer o que fazíamos e a acreditar no que acreditávamos. Uma frase famosa atribuída a Albert Einstein, “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes” resume bem a insanidade se não alterarmos significativamente o que fazíamos. Portanto na Educação, Economia, Medicina, Política, Ecologia e até na Religião precisamos de um novo paradigma.
Nova Educação
Há anos que se diz que as escolas se mantiveram presas ao formato das do século 19. Na pandemia emergiu a clareza de que precisamos reinventa-las e traze-las para o século 21. Esse modelo arcaico está com seus dias contados. As chamadas Escolas Democráticas que começaram há muitos anos estão se propagando cada vez mais ocupando o espaço das tradicionais que estão completamente obsoletas quanto a aprendizagem, principalmente as dos grandes grupos de escolas que, aparentemente, visam primordialmente a rentabilidade do negócio. A primeira escola democrática que se tem notícia é a Summerhill fundada em 1921 em Suffolk na Inglaterra, que existe até hoje. No Brasil já temos mais de uma centena de escolas baseadas na Educação Democrática e até escolas públicas.
Nas escolas democráticas, os estudantes escolhem o que aprendem, quando, como e com quem aprendem. A aprendizagem pode acontecer dentro ou fora da sala de aula, tanto por meio de jogos quanto de estudos convencionais. A gestão é de responsabilidade colaborativa e conduzida pelos próprios estudantes. Seguem os princípios de que gentileza gera gentileza; tolerância gera tolerância; respeito gera respeito; escuta gera escuta; confiança gera confiança e assim por diante.
Segundo Helena Singer, a aprendizagem na Educação Democrática tem três princípios:
“O primeiro é a autogestão. As pessoas que participam de uma experiência de Educação Democrática são responsáveis por ela.
O segundo é o prazer do conhecimento. Acredita-se que o conhecimento traz alegria, prazer, e por isso as pessoas se envolvem com ele, não sendo necessárias punições ou disciplinas.
E o terceiro é que não há hierarquia no conhecimento. O conhecimento científico, o conhecimento académico, o conhecimento comunitário, o conhecimento tradicional, o conhecimento religioso, todos os conhecimentos são valorizados, respeitados e crescem justamente no seu contato.”
Para promover essa Nova Educação podemos e devemos beber em algumas fontes saudáveis como Edgar Morin, Paulo Freire, Ivan Illich, Maria Amelia Pereira (Péo), Jean Piaget, Darcy Ribeiro, José Pacheco, Ken Robinson, Tião Rocha e muitos outros que nos inspiram a buscar uma aprendizagem de qualidade.
Há mais de vinte anos, a UNESCO pediu ao Edgar Morin para expressar suas ideias sobre a própria essência da educação do futuro dentro do contexto de sua visão do pensamento complexo. O objetivo era sistematizar um conjunto de ideias e reflexões que servissem como base para se repensar a educação do próximo milênio. O resultado é um guia de aprendizagem para o mundo todo. Os 7 Saberes Necessários à Educação do Futuro. Muito importante para qualquer educador ler e reler seu trabalho (https://bit.ly/7Saberes). São eles:
1 – As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão;
2 – Os princípios do conhecimento pertinente;
3 – Ensinar a condição humana;
4 – Ensinar a identidade terrena;
5 – Enfrentar as incertezas;
6 – Ensinar a compreensão; e
7 – A ética do gênero humano.
Escrevi, há alguns anos, um texto longo sobre Nova Educação que foi publicado em 2019 no livro “Diálogos Educacionais” com outros textos de José Pacheco, Helena Singer, Carla Lam e vários outros da Rede Nacional de Educadores “Românticos Conspiradores”. Segue um trechinho inicial:
“Caminhos e Descaminhos dos Sistemas de Aprendizagem
Na Educação existem muitas pedagogias, formatos e sistemas para a aprendizagem. Estamos vivendo um momento em que as escolas vão precisar se reinventar para atender a formação de um indivíduo preparado para uma sociedade onde a colaboração está substituindo a competição; a liderança compartilhada prevalece sobre as hierarquias; o respeito à diversidade é um valor fundamental; o amor se sobrepõe ao medo; somos e cuidamos da Natureza; a cultura conduz os processos… preparando para uma sociedade da Nova Economia. A maioria das escolas está longe de preparar o estudante para essa nova realidade que já não é mais futuro… é aqui e agora!
Claro que ainda existem pais que estão preparando seus filhos para o vestibular ao invés de prepará-los para a vida. Por isso as escolas continuam, equivocadamente, privilegiando a memória em detrimento da criatividade, o condicionamento ao invés das múltiplas inteligências, a competição que humilha e gera um ambiente propício para o Bullying e tantas outras atitudes que levam a percepção de que esse sofrimento é necessário para passar no vestibular. E passar na vida? E o Ser de ser humano? O Amor? A cidadania? Os relacionamentos? O meio ambiente? O Cuidar da Casa? Do dinheiro? Da saúde? Da alma?
Por isso estamos num momento de repensar onde colocar os nossos filhos para prepará-los para Viver a Vida. Desenvolver o potencial que já está dentro da criança. Permitir que floresça sua essência para se tornar um ser humano integral.”
Nova Economia
O Investimento de Impacto está se tornando um dos principais focos do mercado de capitais. Apesar de ainda insipiente aparece como tendencia de um mundo em ritmo de interdependência. O ESG (Environmental, Social and Governance), parente mais jovem e repaginado do antigo Triple Bottom Line está finalmente se tornando uma realidade palpável. Será pouco provável que alguma empresa de porte médio ou maior entre em 2022 sem uma estrutura consolidada de ESG. O Blockchain está viabilizando uma família de facilidades que estão ocupando novos de nichos nessa nova economia. As Criptomoedas estão desafiando as moedas tradicionais e gerando incertezas quanto ao futuro do dinheiro. Lembrando que dinheiro sempre foi virtual! Os bancos centrais estão entrando com velocidade nessa área para não perder terreno para a gigantesca quantidade de moedas alternativas em pleno uso. A China já implantou a dela. A tendência será para os criptoativos voltados a sustentabilidade como o recém-lançado Sistema Natus (sistemanatus.com). Ainda na esteira do Blockchain os Non-Fungibles Tolkens (NFT) já estão fazendo a festa, principalmente nas artes e com os colecionadores. Impressionante como em tão poucos anos e com um empurrãozinho da pandemia essa nova economia está ficando cada vez mais consolidada.
Nova Medicina
A pandemia emergiu nosso sistema de saúde pera o bem e para o mal. Descobrimos forças e solidariedade onde pensávamos não existir mais, descobrimos falhas graves onde pensávamos estarmos seguros. Estamos ressignificando tudo, absolutamente tudo. A responsabilidade do diagnóstico e do tratamento, em muitos casos, foi transferida para o paciente porque aprendemos que há médicos e médicos. Aprendemos que há crenças e valores diferentes entre bons profissionais da saúde. Aprendemos que que não existe “uma” ciência. Que a ciência também está, como nós, aprendendo e de que existem muitas respostas da ciência e as vezes com resultados opostos. Ainda bem que temos a ciência para nos guiar mesmo que seja muitas vezes contraditória entre si. Aprendemos que nem todos na medicina tem ética e busca um ideal humanitário. Aprendemos que laboratórios também mentem. Aprendemos que temos que nos informar e não nos desinformar – como é difícil separar o joio do trigo. Aprendemos a procurar ficar, cada vez mais, confortáveis com a nossa ignorância. Quanto mais sabemos, mais sabemos que não sabemos.
Estamos passando pelos diversos problemas de saúde mental… no mundo todo. Precisamos da sabedoria de Victor Frankl (Em busca de sentido) e da Edith Eva Eger (A Bailarina de Auschwitz) para nos fazer entender o que nos mantem sãos e o que nos faz desistir. Precisamos da sabedoria compassiva da Ana Claudia Arantes (A morte é um dia que vale a pena viver).
Entre todos os males da saúde mental que está fortemente emergindo é o “Languishing”. Vale uma conversa com seus terapeutas e ou uma pesquisa na internet. Acredito que seja um dos mais importantes e invisíveis consequências dessa pandemia. Pode te ajudar, pode ajudar alguém próximo a você.
Nova Política
Provavelmente não conseguiremos manter o atual circo político com tantos escândalos, mentiras, corrupção e manutenção de privilégios. Por sorte estamos começando a ver uma maior diversidade de vozes que espero que em pouco tempo abafem esse pandemônio. Cada vez mais mulheres, jovens, indígenas, várias etnias e gêneros estão ocupando corajosamente o espaço político transformando numa possibilidade para uma nova política. A CPI da pandemia se tornou a nova atração de reality show na TV e nas outras mídias. Apesar de ter algumas pessoas bem-intencionadas e buscando um resultado real, a grande maioria continua a fazer o público (nós) de idiotas. Para piorar a atual situação, que espero não se sustentar numa nova política o cenário para as eleições presidenciais estão novamente voltadas para eleger o menos ruim. A primeira e a segunda via são comprovadamente péssimas para o nosso país. A terceira via que está tentando se formar precisa fazer todo tipo de maldades para se tornar tão ruim e entrar no páreo. Tem alguma lógica isso? Ao votarmos no menos pior estamos garantindo que um pior se elegerá porque teremos três para disputar. Por que não votamos no melhor? Por que em 2018 os brasileiros escolheram deixar de votar em seu candidato e entrar no jogo sujo do menos pior. Como é possível termos chegado no ponto onde o atual sistema eleitoral vai contra a democracia? Uma nova política precisa surgir das cinzas desse inacreditável circo.
Nova Ecologia
Estamos as vivendo na Era das Incertezas como afirma brilhantemente o Edgar Morin. As discussões sobre a COP26 em Glasgow (Escócia) estão acirradas com a declaração de seu presidente, Alok Sharma, de que serão presenciais. Uma COP normalmente atrai em torno de 30.000 participantes vindas do mundo todo. Além disso Glasgow é uma das principais cidades na Grã Bretanha que está sofrendo com as mudanças climáticas. Ela e outras cidades ao longo do rio Clyde, segundo um relatório do Climate Ready Clyde (climatereadyclyde.org.uk). Parece um paradoxo nesse momento que estamos vivendo uma tragédia ambiental (COVID-19). Enfim, qualquer que seja o desfecho dessa COP26 ela é estratégica em função de Estocolmo+50 que vai ser uma das mais importantes conferências de sustentabilidade dos últimos 50 anos. Além da enorme quantidade de pautas emergenciais estaremos celebrando meio século do primeiro encontro de sustentabilidade em 1972 em Estocolmo.
Nova Religião
Onde entra a religião nesse momento de mudar o que estamos fazendo para colher resultados diferentes do que está nos levando a definhar?
Tudo!
Se a nossa religião nos separa ao invés de nos unir – unir a todos independente de suas crenças – ela está na contramão da interdependência e cedo ou tarde vai promover o desastre. Compaixão gera compaixão! Preconceito gera preconceito! Humildade gera humildade! Violência gera violência!
Onde você está? Na solução ou no problema?
Maratona Edgar Morin:
Acervo do SESC: http://edgarmorin.sescsp.org.br
Fronteiras do Pensamento 1: https://youtu.be/VmFB9Vcac1U
Fronteiras do Pensamento 2: https://youtu.be/uZBK0gtfsrU
Jornada Edgar Morin (28/06/21): https://youtu.be/WT8fYtySf28 (ele aparece aos 14 min)
Jornada Edgar Morin (29/06/21): https://youtu.be/471i642uHFY
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