A COP21 realizada em Paris está entre colchetes! Os colchetes foram amplamente utilizados para marcar nos rascunhos do texto as partes que precisariam ainda ser negociadas. Terminada a primeira semana o texto, com ainda 48 páginas, tinha mais de 900 colchetes! Dá para imaginar? O título acima com os colchetes reflete minha opinião em relação aos resultados dessa COP em Paris. Ainda temos muito que analisar e estamos longe de entender qual o impacto real dessas decisões. Será que os que tão celebrados 1,5C graus são possíveis de serem realizados? O que realmente significa isso? Teremos que produzir índices de emissões negativas, ou seja, criar tecnologias que resgatem e armazenem carbono. Essa ideia chega a ser ridícula quando entidades como a Fundação Clinton inventam uma maquina que imitam uma árvore… não parece bem mais razoável manter as árvores que já temos e plantar mais dessas maquinas de resgatar carbono? Matrix! Outra coisa importante para lembrar é que esse documento começa a valer só em janeiro de 2020 – e até lá? A China, por exemplo, que é o maior emissor do planeta vai continuar aumentando suas emissões até 2030 quando, só então, começará a reduzi-las. Uma ironia para a China foi a situação insustentável para algumas cidades respirarem pouco antes dessa COP. A Natureza falando… digo GRITANDO! Não quero estragar a alegria de todos nós de que a COP21 foi um sucesso! Claramente os resultados foram melhores do que Copenhague lembrando que passamos pela Rio+20 e que a COP20 no Peru deu o início aos trabalhos para esse resultado em Paris. Nesse sentido deveríamos estar bem mais avançados do que estivemos durante essa dúzia de dias em Paris. Fora isso não podemos descartar a situação na França que estava bem complicada para o atual presidente e que os atos terroristas o colocou novamente nos holofotes de um natural sentimento de nacionalismo. Triste e até mesmo feio dizer que se aproveitou da situação e fez o mesmo com a COP21. O resultado se refletiu, no dia seguinte, nas eleições regionais da França que conseguiu eliminar a extrema direita (ainda bem do meu ponto de vista) que tinha se destacado fortemente no primeiro turno. Seria ingênuo pensar que a COP21 não teve suas cores pintadas nesse contexto. Outras cores como as do EUA também foram um forte influenciador dos resultados para acomodar suas necessidades, até mesmo constitucionais. Novamente precisaremos de muitas semanas num trabalho conjunto para analisar os resultados da COP21.
O que pode já ser considerado um grande sucesso, foi o movimento, ações e participação da sociedade civil. Uma quantidade gigantesca de eventos, palestras, movimentos, rodas de conversa, manifestações e outras expressões significativas. Foi um “show” de criatividade, compartilhamento, colaboração, humor, sentimento de ser e muito amor! Parabéns aos milhares de participantes que levaram essa beleza e esperança que teremos um mundo melhor! Também levaremos muito tempo para absorvermos todas essas maravilhas que foram trazidos por muitos os povos da terra. Fiquei emocionado em muitos momentos e principalmente orgulhoso de fazer parte dessa tribo… humana… da Natureza. Somos Natureza!
Voltando as minhas impressões de Paris, me surpreendi com o estande do Brasil na ONU. Foi uma declaração explícita de que como estamos tratando a questão climática em nosso país. Senti vergonha, principalmente ao ver os outros… Dava vontade de chorar! O Brasil assumiu o protagonismo na Eco92 e tinha tudo para continuar a liderar esse movimento no mundo. Já na Rio+20 fizemos o vexame de, seis meses antes, adiar em 15 dias o evento que desde 1972 (Estocolmo) tinha a data de 5 de junho como símbolo mundial do Meio Ambiente. Por que fizemos isso? Por causa do aniversário da Rainha da Inglaterra que celebrava o Jubileu de Diamante (60 anos) de coroação. Verdade! Fomos perdendo esse protagonismo que Naturalmente deveria ser nosso. A Natureza também GRITOU em nosso país antes da COP21. Os incêndios nas florestas, principalmente na Chapada Diamantina. O terrorismo que matou um rio e toda sua fauna e flora. Destruiu 324 hectares de Mata Atlântica nos arredores do rio Doce e de seus afluentes. O espaço total causado por esse crime é do tamanho de Portugal. Imaginem o que aconteceria se Portugal fosse varrido por esse mar de lama? Teria a baixíssima repercussão que Mariana teve? Por que a repercussão foi tão baixa nas nossas mídias e por consequência na internacionais? Por que outro ato terrorista ocorrido em Paris uma semana depois teve MUITO mais espaço na nossa mídia. Por que?
Falando em espaço na mídia ocorreu em Paris o mesmo que no Rio de Janeiro na Rio+20. No último dia e no dia seguinte a capa do Jornal Globo destacava um problema na presidência do Paraguai… incrível! Para quem estava no miolo da Rio+20 foi surreal! Se eu não soubesse e estivesse lendo esse artigo iria imediatamente para o Google pesquisar na certeza de que o autor só podia estar equivocado. Em Paris o último dia e o dia seguinte só se falava, na mídia tradicional, das eleições regionais. Pelo menos o assunto era local! Por que a pauta do Jornalismo Ambiental ou mesmo da Sustentabilidade como um todo não ocupa as páginas da mídia tradicional.
Vou separar tudo que vivenciei, as pessoas que conversei, os projetos e escrever uma matéria para aqueles que possam se interessar pelos corredores da COP21 de Paris.
ALLEZ BRÉSIL!!!
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